A Igreja Católica comemora hoje a festa litúrgica de Santa Teresa de Calcutá, também conhecida como Madre Teresa, uma das figuras mais inspiradoras e influentes do século XX. Conhecida pelo incansável trabalho de caridade, especialmente entre os mais pobres e marginalizados de Calcutá, Índia, Madre Teresa dedicou a vida ao serviço dos outros, tornando-se um ícone mundial de compaixão e altruísmo. Beatificada em 2003 pelo Papa João Paulo II e canonizada em 2016 pelo Papa Francisco, Teresa de Calcutá deixou um legado de amor, serviço e sacrifício que continua a inspirar milhões de pessoas ao redor do mundo.
Primeiros Anos de Vida
Madre Teresa nasceu a 26 de agosto de 1910 em Skopje, na atual Macedónia do Norte, com o nome de Anjezë Gonxhe Bojaxhiu, numa família católica de origem albanesa. Desde muito jovem, Anjezë sentiu um forte apelo para a vida religiosa, dedicando-se à oração e aos pobres. Aos 18 anos, decidiu seguir o caminho missionário e ingressou na congregação das Irmãs de Loreto, uma comunidade religiosa irlandesa com missões na Índia.
Em 1929, foi enviada para a Índia, onde começou o seu noviciado em Darjeeling. Após professar os votos religiosos, em 1931, escolheu o nome Teresa, em honra de Santa Teresa de Lisieux, a “pequena flor” da Igreja Católica, conhecida pela espiritualidade de simplicidade e confiança em Deus. Teresa começou a lecionar numa escola para meninas em Calcutá, onde serviu como professora e depois diretora por quase duas décadas.
O “Chamado Dentro do Chamado”
O momento decisivo na vida de Madre Teresa ocorreu em 1946, durante uma viagem de trem de Calcutá a Darjeeling. Teresa teve uma experiência profunda que descreveu como um “chamado dentro do chamado”. Sentiu que Deus a convocava a abandonar o convento e a viver entre os mais pobres dos pobres, ajudando-os de forma direta. Esta inspiração levou-a a deixar o conforto do convento das Irmãs de Loreto e a começar a sua missão no coração de Calcutá.
Em 1948, após obter permissão da Igreja para deixar a comunidade religiosa, Teresa vestiu o simples sari branco com borda azul que se tornaria o seu traje característico e saiu às ruas de Calcutá para cuidar dos mais pobres, doentes e moribundos. Este foi o início da sua obra, uma missão que, nos anos seguintes, cresceria exponencialmente.
A Fundação das Missionárias da Caridade
Em 1950, Teresa fundou a congregação das Missionárias da Caridade, uma ordem religiosa dedicada ao serviço dos pobres, dos doentes e dos marginalizados. O objetivo da congregação, como descrito por Madre Teresa, era “saciar a sede de Jesus na cruz, servindo os mais pobres dos pobres.” As irmãs da congregação faziam votos de castidade, pobreza, obediência e um quarto voto: o de servir incondicionalmente os pobres.
A obra das Missionárias da Caridade começou com a abertura de lares para os moribundos, centros de acolhimento para crianças abandonadas e clínicas para leprosos. Ao longo dos anos, a ordem expandiu-se globalmente, abrindo casas em mais de 130 países e continuando a dedicar-se ao serviço dos mais necessitados. Em Portugal, as Missionárias da Caridade chegaram em 1975, com a abertura de uma casa em Lisboa.
Reconhecimento Internacional
O trabalho incansável de Madre Teresa chamou rapidamente a atenção mundial. Em 1979, foi agraciada com o Prémio Nobel da Paz em reconhecimento pelos esforços humanitários. No discurso de aceitação, Teresa aproveitou para destacar a importância do amor e da compaixão, enfatizando que “a paz começa com um sorriso” e que a verdadeira paz nasce do amor incondicional e do serviço aos outros. Madre Teresa recusou o tradicional banquete em sua honra, pedindo que o dinheiro fosse utilizado para ajudar os pobres de Calcutá.
Apesar de toda a aclamação pública, Madre Teresa permaneceu uma mulher humilde e reservada, sempre atribuindo o trabalho à graça de Deus. Ela dizia frequentemente que não procurava o sucesso, mas sim a fidelidade à sua missão. No entanto, o seu trabalho não esteve isento de críticas. Alguns questionavam a eficácia das suas práticas e a gestão dos recursos, mas Madre Teresa permanecia firme na sua missão, argumentando que a prioridade era cuidar das almas e dar dignidade aos moribundos.
A Noite Escura da Alma
Um dos aspetos mais comoventes e desconhecidos da vida de Madre Teresa foi revelado após a sua morte, através de cartas pessoais, nas quais descreve um longo período de aridez espiritual, conhecido como a “noite escura da alma”. Durante grande parte da vida, Madre Teresa experimentou uma profunda sensação de ausência de Deus, um sentimento de solidão e vazio espiritual, enquanto continuava a realizar o seu trabalho de caridade.
Essa experiência foi interpretada por muitos como um sinal da sua santidade e união com Cristo, que, na cruz, também experimentou o abandono. Madre Teresa, contudo, nunca deixou que essa escuridão interior interferisse no seu trabalho, acreditando que a sua missão era um reflexo da luz de Cristo para os outros, mesmo que ela própria não a sentisse.
Últimos Anos e Canonização
Nos últimos anos da sua vida, Madre Teresa enfrentou diversos problemas de saúde, incluindo um ataque cardíaco e complicações pulmonares. Apesar disso, continuou a liderar a congregação e a servir os pobres até quase ao fim da vida. Faleceu a 5 de setembro de 1997, em Calcutá, aos 87 anos.
Logo após a morte, houve uma forte movimentação para a sua beatificação e canonização. O Papa João Paulo II acelerou o processo, dispensando o tradicional período de cinco anos de espera após a morte. Madre Teresa foi beatificada em 2003 e canonizada a 4 de setembro de 2016 pelo Papa Francisco, tornando-se Santa Teresa de Calcutá. A festa litúrgica é celebrada a 5 de setembro, data do seu falecimento.
O Legado de Santa Teresa de Calcutá
Santa Teresa de Calcutá deixou um legado duradouro de amor e serviço ao próximo. A sua obra, as Missionárias da Caridade, continua ativa em todo o mundo, fiel ao carisma fundacional de servir os mais pobres dos pobres. A sua vida é um testemunho do poder da compaixão e da entrega total a Deus através do serviço aos outros.
O exemplo de Santa Teresa desafia os cristãos a saírem da sua zona de conforto e a dedicarem-se ao bem dos mais necessitados, vivendo o Evangelho na prática do amor ao próximo. O seu trabalho incansável entre os pobres de Calcutá foi uma demonstração viva do mandamento de Cristo de amar e cuidar dos marginalizados.
Conclusão
Santa Teresa de Calcutá, conhecida pelo imenso coração e dedicação incondicional aos pobres, é uma das santas mais conhecidas e admiradas da Igreja Católica. A vida de serviço, apesar das dificuldades espirituais e físicas, tornou-a um ícone do amor cristão e do compromisso com os mais vulneráveis. O seu legado, através das Missionárias da Caridade, continua a espalhar o amor de Deus em todo o mundo, e o seu exemplo de humildade, fé e compaixão permanece uma inspiração intemporal.