São Josafá é conhecido como um dos grandes mártires da unidade cristã. Bispo do rito oriental, trabalhou incansavelmente pela comunhão entre os cristãos da Igreja Oriental e a Sé de Roma. A sua vida, marcada pelo zelo pastoral, humildade e amor pela unidade da Igreja, terminou de forma trágica, mas gloriosa, ao dar a vida pela sua missão.
Origens e vocação
Josafá nasceu em 1580 na cidade de Vladimiro, na atual Ucrânia, numa família ortodoxa eslava, num contexto de tensão religiosa entre católicos e ortodoxos. Recebeu o nome de João Kuncewicz.
Desde cedo mostrou grande interesse pela fé cristã e, em especial, pela união das Igrejas. Em jovem, trabalhou como aprendiz de comerciante em Vilna (Lituânia), onde entrou em contacto com a fé católica e desenvolveu uma profunda espiritualidade.
Sentindo-se chamado à vida religiosa, entrou no mosteiro basiliano de Vilna e adotou o nome religioso de Josafá. A partir daí, consagrou-se ao ideal da santidade e da unidade da Igreja.
Defensor da união com Roma
Em 1596, foi proclamada a União de Brest, pela qual uma parte significativa da Igreja Ortodoxa Eslava reconheceu o Papa como chefe da Igreja, mantendo, porém, a sua liturgia e tradições orientais. Josafá tornou-se um dos mais ardentes defensores desta união.
Ordenado sacerdote e, mais tarde, nomeado arcebispo de Polotsk, dedicou-se à renovação espiritual do clero e à aproximação entre os cristãos orientais e ocidentais. Esforçou-se por esclarecer os fiéis sobre o valor da unidade com Roma, sem abandonar a riqueza litúrgica do rito bizantino.
Foi também um reformador e defensor da disciplina eclesiástica, enfrentando situações de ignorância, desordem e resistência.
Um pastor fiel e próximo do povo
Josafá era profundamente amado pelos seus fiéis. Era conhecido pela vida austera, pela oração constante, jejum e caridade. Visitava as paróquias, organizava catequeses e zelava pela formação dos sacerdotes.
Apesar de enfrentar oposição de certos setores que rejeitavam a união com Roma, nunca respondeu com violência, mas com mansidão, paciência e diálogo. A sua vida foi um testemunho contínuo de paz, fidelidade e amor.
Martírio pela unidade
A missão de São Josafá acabou por despertar ódio em alguns grupos radicais contrários à união com o Papa. A 12 de novembro de 1623, quando visitava a cidade de Vitebsk, foi atacado por uma multidão que invadiu a casa episcopal.
Josafá foi brutalmente espancado, arrastado pelas ruas e morto à pancada. O seu corpo foi lançado ao rio. Tinha 43 anos. Morreu perdoando os seus agressores, como verdadeiro mártir da unidade.
Pouco tempo depois, o seu corpo foi encontrado incorrupto, e a sua fama de santidade espalhou-se rapidamente.
Canonização e festa litúrgica
São Josafá foi canonizado pelo Papa Pio IX em 1867. É o primeiro santo oriental canonizado da Igreja Católica depois do Cisma do Oriente.
É considerado o padroeiro da unidade entre católicos e ortodoxos. A sua festa litúrgica celebra-se a 12 de novembro.
O seu corpo repousa atualmente na Basílica de São Pedro, no Vaticano, um sinal visível da união que ele tanto desejou.
Legado
O testemunho de São Josafá é um apelo atual à reconciliação entre os cristãos. A sua vida mostra que é possível viver plenamente a espiritualidade oriental em comunhão com o Papa, e que a unidade da Igreja é um dom que vale mais do que a própria vida.
Foi também exemplo de coragem, humildade e zelo pastoral, enfrentando dificuldades com serenidade e amor. A sua santidade está enraizada numa vida profundamente eucarística e mariana.
Conclusão
São Josafá recorda-nos que a unidade entre os cristãos é uma missão sagrada, que exige oração, paciência e fidelidade à verdade. O seu martírio não foi apenas um fim trágico, mas uma semente lançada em favor da comunhão. O seu exemplo continua a iluminar o caminho do ecumenismo e da santidade na Igreja de hoje.