Em maio de 1982, Portugal recebeu a primeira visita do Papa João Paulo II, um evento que ficaria gravado na memória dos portugueses. Embora a sua deslocação a Fátima para agradecer a Nossa Senhora a proteção no atentado do ano anterior tenha sido o ponto central da viagem, a sua passagem por Lisboa incluiu um momento de grande simbolismo e devoção: a visita à Igreja de Santo António, no coração da capital. Esta peregrinação não só reforçou os laços de fé entre a Santa Sé e Portugal, como também celebrou a figura de um dos santos mais venerados do mundo, nascido precisamente naquele local.
O Contexto da Visita
A viagem do Papa João Paulo II a Portugal, de 12 a 15 de maio de 1982, assumiu um carácter profundamente votivo e de gratidão. Recuperando-se ainda fisicamente do atentado sofrido na Praça de São Pedro a 13 de maio de 1981, o Santo Padre sentiu a necessidade imperativa de se deslocar a Fátima para agradecer a intercessão de Nossa Senhora.
A inclusão da Igreja de Santo António no seu itinerário lisboeta sublinhou a importância das raízes católicas e da história de santidade em Portugal, ligando a devoção mariana de Fátima à tradição antoniana de Lisboa.
O Significado do Local
A Igreja de Santo António de Lisboa é um local de peregrinação por si só, erguida sobre a casa onde Santo António (nascido Fernando de Bulhões) nasceu por volta de 1195. Visitar este santuário significava para o Papa João Paulo II honrar um Doutor da Igreja, um evangelizador notável e um santo de devoção universal, especialmente no Brasil e em Itália. A sua presença no local de nascimento de Santo António foi um reconhecimento do contributo português para a Igreja universal e um momento de oração pela cidade e pelo país.
A Igreja de Santo António: História e Atualidade
A atual igreja é o resultado de várias reconstruções ao longo dos séculos. O edifício original foi danificado e, após o grande terramoto de 1755, que devastou grande parte de Lisboa, a igreja foi reconstruída, adquirindo a sua atual fisionomia barroca e neoclássica. Na cripta, o local exato do nascimento do Santo é assinalado.
Hoje, a igreja continua a ser um centro de culto vivo, muito procurado por devotos que pedem a intercessão do “santo casamenteiro” e o “santo dos objetos perdidos”. A cripta, em particular, é um ponto de paragem obrigatório para os peregrinos.
O Encontro e as Palavras do Papa
A 12 de maio de 1982, João Paulo II foi recebido na Igreja de Santo António com grande entusiasmo pelos fiéis, autoridades e a comunidade franciscana. O Papa proferiu um discurso que realçou as virtudes de Santo António: a sua sabedoria, a sua dedicação à Palavra de Deus e a sua incansável obra de evangelização e caridade.
O Santo Padre sublinhou a atualidade da mensagem de Santo António, desafiando os católicos portugueses a seguir o seu exemplo de fé e dedicação aos mais necessitados, e aprofundar a sua vida espiritual.
O Testemunho da Visita na Cripta
Para imortalizar este momento histórico, uma placa comemorativa foi afixada na cripta da igreja, no local do nascimento do santo. A inscrição em latim e português recorda aos visitantes a passagem de Sua Santidade o Papa João Paulo II e a sua oração no local sagrado, servindo como um testemunho perene da ligação do pontífice a Santo António e à fé portuguesa. Esta placa é um ponto de referência e reflexão para quem visita a igreja hoje.
Conclusão: Um Legado de Fé
A visita do Papa João Paulo II à Igreja de Santo António permanece um marco na história religiosa de Lisboa. Mais do que uma simples paragem protocolar, foi um momento de profunda espiritualidade que uniu o Sucessor de Pedro à herança de santidade portuguesa. O gesto do Papa, ao ajoelhar-se e rezar no local de nascimento do Santo, reforçou a importância da Igreja de Santo António como um farol de fé e um local de memória viva. A visita de 1982 continua a inspirar os peregrinos que, anualmente, visitam este santuário, lembrando a universalidade da mensagem cristã e o poder da intercessão dos santos.