A 10 de Junho comemora-se o dia do Santo Anjo da Guarda de Portugal, também conhecido como Anjo de Portugal, Anjo Custódio de Portugal e Anjo da Paz, uma das designações do anjo que protege a nação portuguesa.
História
A pedido do rei Dom Manuel e dos bispos portugueses, o Papa Júlio II instituiu em 1504 a festa do «Anjo Custódio do Reino» cujo culto já era antigo em Portugal. Oficializada a celebração tradicional, Dom Manuel expediu alvarás às Câmaras Municipais a determinar que essas festas em honra do nosso Anjo da Guarda fossem celebradas com a maior solenidade. Na festa do Anjo de Portugal deveriam participar as autoridades e instituições das cidades e vilas além de todo o povo.
Por determinação das Ordenações Manuelinas a festa do Anjo de Portugal era equiparada à festa do Corpo de Deus, já então a maior festa religiosa de Portugal, em que toda a nação afirma a sua Fé na presença real de Cristo na Eucaristia.
A sua realização era no terceiro Domingo de Julho. No entanto, a sua devoção quase desapareceu depois do séc. XVII, mas seria restaurada mais tarde, em 1952, quando mandada inserir no Calendário Litúrgico português pelo Papa Pio XII, para comemorar o Dia de Portugal no 10 de Junho.
Aparições em Fátima
De acordo com o testemunho dos Pastorinhos de Fátima, entre Abril e Outubro de 1916 o Anjo de Portugal teria já aparecido por três vezes, duas na Loca do Cabeço, no lugar dos Valinhos, e outra junto ao poço do quintal da casa da Irmã Lúcia, chamado o Poço do Arneiro, no lugar de Aljustrel, em Fátima, convidando-os à oração e penitência, e afirmando ser o “Anjo da Paz, o Anjo de Portugal”.
Salientar que estas aparições permaneceram inéditas até 1937, até Lúcia as divulgar, pela primeira vez, no designado texto Memória II. A narração é mais completa e o texto definitivo das orações do anjo é publicado na Memória IV, escrito em 1941. As aparições do Anjo em 1916, foram precedidas por três outras visões, de Abril a Outubro de 1915, nas quais Lúcia e outras três pastorinhas, Maria Rosa Matias, Teresa Matias e Maria Justino viram, também no outeiro do Cabeço, e noutros locais, suspensa no ar sobre o arvoredo do vale “uma luz mais branca que a neve” na forma dum jovem. Este disse-lhes: “Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo”. De seguida, ajoelhou-se e curvou-se até ao chão e pronunciou por três vezes a oração: “Meu Deus, eu creio…”. Em tudo isso, foi imitado pelos pastorinhos. Foi esta a primeira aparição do Anjo.
A segunda aparição decorreu no chamado Poço do Arneiro, situado no quintal dos pais de Lúcia.
Na terceira aparição, decorrida novamente na Loca do Cabeço, nos Valinhos, depois de os pastorinhos rezarem o terço e a oração que o Anjo lhes tinha ensinado, apareceu-lhes de novo “trazendo na mão um cálice e sobre ele uma hóstia, da qual caíram, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a hóstia suspensos no ar, prostrou-se por terra e repetiu três vezes a oração “Santíssima Trindade…” Depois de dar o cálice e a hóstia em comunhão aos pastorinhos, recomenda “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”. Prostrara-se novamente por terra e de novo repetiu três vezes a mesma oração. De novo, os pastorinhos imitaram-no em tudo.
Orações do Anjo
Este anjo terá ensinado aos pastorinhos de Fátima estas duas orações, conhecidas por Orações do Anjo, as quais entraram na piedade popular e são utilizadas sobretudo na adoração eucarística.
Primeira oração
Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos.
Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam. (3 vezes)
Segunda oração
Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo,
adoro-Vos profundamente
e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo,
presente em todos os sacrários da terra,
em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido.
E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração
e do Coração Imaculado de Maria,
peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.
Há ainda quem associe o Anjo à lenda da visão de Cristo e seus anjos na Batalha de Ourique, em 1139, que levou a uma tal vitória as forças de D. Afonso Henriques sobre os invasores muçulmanos que lhe deram a oportunidade de autoproclamar-se rei de Portugal.
Culto do Anjo de Portugal
O culto do Anjo de Portugal teve o seu maior brilho nas cidades de Braga, Coimbra e Évora, e manteve-se na diocese de Braga onde se celebrava a 9 de Julho. No tempo de Pio XII a festa do Anjo de Portugal foi restaurada para todo o País e transladada para o dia 10 de Junho a fim de que o Dia de Portugal fosse também o Dia do Anjo de Portugal.
Da generalizada devoção ao Anjo de Portugal dão fé muitas representações, sendo especialmente notáveis as imagens do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e da charola do convento de Cristo, em Tomar, a pintura da Misericórdia de Évora e a iluminura do «Livro de Horas de Dom Manuel».
O Anjo de Portugal é, até hoje, o único Anjo da Guarda de um país com culto público oficializado e foi o único Anjo da Guarda de uma nação que apareceu aos homens.