A Bíblia: origens, autoria e história

A Bíblia é o texto sagrado fundamental para os cristãos, especialmente para a Igreja Católica. Ela é vista como a Palavra de Deus revelada à humanidade, composta por diversos livros que contêm ensinamentos, histórias, poesias, leis, profecias e escritos de sabedoria. Para os católicos, a Bíblia é inspirada pelo Espírito Santo e é central na vida espiritual e litúrgica da Igreja. Este artigo explora a origem da Bíblia, quem a escreveu, quando foi escrita e como se tornou o livro sagrado que é hoje, de acordo com a tradição católica.

Estrutura da Bíblia Católica

A Bíblia Católica é dividida em duas partes principais:

  • Antigo Testamento: Consiste em 46 livros, que incluem a Lei (Torá ou Pentateuco), os Livros Históricos, os Livros Sapienciais (ou Poéticos) e os Livros Proféticos.
  • Novo Testamento: Contém 27 livros, incluindo os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas (ou Cartas) e o Apocalipse.
    Origem e Autoria dos Livros da Bíblia

A Bíblia não foi escrita por um único autor nem num período curto de tempo. Ela é uma coleção de livros escritos por diferentes pessoas ao longo de muitos séculos. Acredita-se que a inspiração divina tenha guiado esses autores, que, embora humanos, escreveram sob a influência do Espírito Santo.

Segundo estudiosos, um homem chamado São João Crisóstomo (arcebispo de Constantinopla e um dos mais importantes nomes da época), no século IV, foi o primeiro a usar a palavra Bíblia para mencionar e enfatizar a Palavra de Deus, as Escrituras Sagradas.

Os autores e livros

Os autores dos vários livros da Bíblia tinham algo em comum: todos eles proclamavam o mesmo Deus, apesar de perspectivas e cenários diferentes, mas falam a respeito do único e verdadeiro Deus! A Bíblia, apesar de ter sido escrita num grande intervalo de séculos, mostra um quadro interessante de estilos literários e de estilos de personalidade. Por exemplo, Moisés era um pastor de ovelhas, Paulo era um fazedor de tendas, João era um pescador e Mateus um cobrador de impostos. Mas não são os livros na Bíblia que nomeiam claramente o autor do mesmo.

Os livros da Bíblia têm:

  • Um autor por livro: por exemplo, o livro de Tiago foi escrito por Tiago, irmão de Jesus
  • Um autor para vários livros: Paulo, por exemplo, escreveu 13 livros da Bíblia
  • Vários autores para um livro: o livro de Salmos é um conjunto de poemas escritos por várias pessoas diferentes, como David, Salomão, Moisés e vários sacerdotes
  • Um autor e um editor: o livro de Deuteronómio é um conjunto de sermões de Moisés, mas o relato da sua morte no fim do livro sugere que alguém depois os organizou e completou a informação
  • Autor desconhecido: são poucos os livros da Bíblia que não têm autor reconhecido, ninguém sabe quem escreveu Jó e a autoria do livro de Hebreus é muito discutida.

Então, todos os livros bíblicos são, de fato, registos de homens e mulheres que viveram e tiveram experiências de fé em épocas, regiões e cenários diferentes. Isto pode ser, inclusive, sinónimo de uma diversidade cultural e uma diversidade literária muito rica.

O Antigo Testamento

O Antigo Testamento é composto de livros escritos entre aproximadamente 1200 a.C. e 100 a.C. Estes livros foram escritos por diversos autores, incluindo profetas, sacerdotes, reis e escribas. O Antigo Testamento contém:

  • Pentateuco (ou Torá): Inclui os cinco primeiros livros da Bíblia (Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio). A tradição judaico-cristã atribui a autoria desses livros a Moisés, embora estudiosos modernos reconheçam múltiplas fontes e autores, compiladas ao longo de séculos.
  • Livros Históricos: Abrangem desde a entrada dos israelitas na Terra Prometida (Josué) até o exílio babilónico e a restauração (Neemias e Ester). Estes livros relatam a história de Israel e incluem livros como Josué, Juízes, Samuel, Reis, Crónicas, Esdras e Neemias.
  • Livros Sapienciais e Poéticos: Incluem Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico. São escritos de sabedoria e poesia que abordam questões como o sofrimento, a moralidade, o amor e a natureza de Deus.
  • Livros Proféticos: Incluem Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e os 12 Profetas Menores (como Oséias, Amós, Miquéias). Esses livros contêm as mensagens dos profetas, que foram porta-vozes de Deus, chamando o povo ao arrependimento e advertindo sobre as consequências dos seus pecados.

O Novo Testamento

O Novo Testamento foi escrito no primeiro século d.C., após a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Os seus autores são apóstolos e discípulos de Jesus que escreveram sob a inspiração do Espírito Santo.

  • Os Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João): Relatam a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Mateus e João foram apóstolos diretos de Jesus, enquanto Marcos e Lucas eram discípulos que basearam os seus escritos em testemunhos de outros apóstolos.
  • Atos dos Apóstolos: Escrito por Lucas, este livro narra a história da Igreja primitiva, a ascensão de Jesus, o Pentecostes e o trabalho missionário dos apóstolos, especialmente Pedro e Paulo.
  • As Epístolas (ou Cartas): A maioria foi escrita por São Paulo (como Romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios), mas também há epístolas de outros apóstolos, como Pedro, Tiago, João e Judas. Elas abordam temas teológicos, práticos e pastorais, orientando as primeiras comunidades cristãs.
  • Apocalipse (Revelação de João): Escrito por João, o Apóstolo, este livro é um texto profético que oferece uma visão simbólica das lutas entre o bem e o mal e a vitória final de Deus.

Formação do Cânon Bíblico

A formação do cânon bíblico, ou seja, a coleção de livros considerados sagrados e inspirados, foi um processo longo que levou séculos. No contexto da Igreja Católica.

  • Antigo Testamento: Os livros do Antigo Testamento foram reconhecidos gradualmente como Escritura Sagrada. A versão grega do Antigo Testamento, conhecida como a Septuaginta, inclui alguns livros não presentes na versão hebraica (como Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, e partes de Daniel e Ester). Estes livros são chamados de “deuterocanónicos” e são aceitos pela Igreja Católica.
  • Novo Testamento: O cânon do Novo Testamento foi formalizado ao longo dos primeiros séculos do cristianismo. Desde o início, os escritos dos apóstolos e seus associados foram considerados como tendo autoridade especial. No final do século IV, o Sínodo de Hipona (393 d.C.) e os Concílios de Cartago (397 e 419 d.C.) confirmaram a lista de 27 livros que compõem o Novo Testamento, que foi posteriormente reafirmada pelo Concílio de Trento (1545-1563) em resposta à Reforma Protestante.

A inspiração divina e a tradição católica

A Igreja Católica ensina que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita por seres humanos inspirados pelo Espírito Santo. Isto é, embora os autores humanos tenham usado os seus próprios estilos e contextos culturais, o conteúdo e a mensagem da Bíblia foram guiados divinamente. Além disso, a Igreja Católica enfatiza que a Bíblia deve ser interpretada no contexto da Tradição Sagrada. A Tradição inclui os ensinamentos dos apóstolos transmitidos através dos tempos pela Igreja, sob a guia do Espírito Santo. Esta visão assegura que a interpretação da Escritura seja consistente com a fé e a moral ensinadas pela Igreja.

Traduções da Bíblia

A Bíblia foi originalmente escrita em hebraico, aramaico (Antigo Testamento) e grego (Novo Testamento). Uma das primeiras e mais importantes traduções da Bíblia para o latim foi a Vulgata, traduzida por São Jerónimo no final do século IV. A Vulgata tornou-se a versão oficial da Bíblia na Igreja Católica por muitos séculos.

No século XX, a Igreja Católica promoveu novas traduções diretamente dos textos originais para facilitar o acesso e a compreensão dos fiéis. A Nova Vulgata e a Bíblia de Jerusalém são exemplos de traduções modernas reconhecidas pela Igreja.

A Bíblia é o livro mais traduzido do mundo. Originalmente escrita em três línguas (hebraico, grego e aramaico), a Bíblia completa (com o Velho Testamento e o Novo Testamento) está actualmente disponível em 704 línguas e dialectos, segundo os números mais recentemente divulgados em 2021, tornando-se assim acessível a 6,1 mil milhões de falantes em todo o mundo.

A primeira versão portuguesa da Bíblia surgiu em 1681, a partir das línguas originais, traduzida para Português por João Ferreira de Almeida. Almeida faleceu antes de concluir o trabalho, que foi finalizado por colaboradores da Igreja Reformada holandesa, e a versão completa com o Antigo Testamento foi publicada no início de 1750.

Uso da Bíblia na Igreja Católica

Para os católicos, a Bíblia é usada em várias práticas e momentos da vida religiosa, incluindo:

  • Liturgia: As leituras da Escritura são parte central da Missa, com passagens do Antigo Testamento, dos Salmos, das Epístolas e dos Evangelhos sendo lidas em cada celebração.
  • Oração: A Bíblia é uma fonte de oração e meditação, especialmente nos Salmos, que são usados no Ofício Divino ou Liturgia das Horas.
  • Educação Religiosa: A catequese católica e outros programas de educação religiosa usam extensivamente a Bíblia para ensinar a fé e a moral.
  • Estudo Bíblico: A Igreja incentiva o estudo pessoal e em grupo da Bíblia, usando ferramentas de interpretação que levam em conta o contexto histórico e a Tradição da Igreja.

Conclusão

A Bíblia, segundo a tradição católica, é mais do que um simples texto, é a Palavra viva de Deus que orienta a fé e a vida dos cristãos. Composta por livros escritos por diversos autores inspirados ao longo dos séculos, a Bíblia oferece um relato da relação de Deus com a humanidade. A sua interpretação dentro da Tradição e do Magistério da Igreja assegura que continue a ser uma fonte de verdade, fé e prática para os católicos em todo o mundo.

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