Neste dia, em 1546, a Igreja aprovou a Vulgata de São Jerónimo como a Bíblia oficial

A Vulgata é a tradução da Bíblia para o latim feita por São Jerónimo no final do século IV. Durante séculos, foi o texto mais utilizado na Igreja Ocidental, mas foi apenas no Concílio de Trento (1545-1563) que foi oficialmente aprovada como a Bíblia autêntica da Igreja Católica. Esta decisão teve um impacto profundo na teologia, na liturgia e na transmissão das Escrituras ao longo da história.

Contexto da tradução de São Jerónimo

Antes da Vulgata, a Igreja utilizava diversas traduções da Bíblia para o latim, conhecidas como Vetus Latina (ou “Velha Latina”), que eram traduções informais e muitas vezes inconsistentes. No final do século IV, o Papa Dâmaso I (366-384) encomendou a São Jerónimo a tarefa de uniformizar e melhorar estas traduções.

São Jerónimo, um dos maiores estudiosos das Escrituras, iniciou o seu trabalho por volta do ano 382 e, com base nos textos originais em hebraico e grego, traduziu o Antigo e o Novo Testamento para um latim mais acessível e preciso. Esta nova versão passou a ser chamada Vulgata, do latim vulgatus, que significa “divulgado” ou “popular”.

A Vulgata tornou-se rapidamente a versão mais utilizada na Igreja do Ocidente, devido à sua clareza e fidelidade aos textos originais. No entanto, durante a Idade Média, começaram a surgir pequenas variantes e cópias com erros, levando à necessidade de uma versão oficial da Bíblia.

A aprovação oficial no Concílio de Trento

No século XVI, a Reforma Protestante trouxe um grande debate sobre a autoridade das Escrituras. Os reformadores protestantes rejeitaram alguns livros da Vulgata e adotaram versões baseadas no canone hebraico, excluindo os deuterocanónicos (como Tobias, Judite, Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc).

Para responder a estas controvérsias, o Concílio de Trento, na sua sessão de 8 de abril de 1546, declarou a Vulgata como a única versão oficial e autêntica da Bíblia para a Igreja Católica, confirmando o canone tradicional de 73 livros, incluindo os deuterocanónicos.

A decisão do Concílio visava assegurar que todos os católicos tivessem acesso a uma única versão fiável das Escrituras, evitando divisões teológicas e erros de interpretação. Além disso, o Concílio condenou qualquer rejeição dos livros reconhecidos na Vulgata.

A revisão da Vulgata e a versão Clementina

Após a aprovação da Vulgata, a Igreja percebeu a necessidade de uma revisão cuidadosa para corrigir erros acumulados ao longo dos séculos nas cópias manuscritas. O Papa Sisto V tentou publicar uma edição oficial, mas esta continha muitos erros. Foi o Papa Clemente VIII que, em 1592, lançou a edição definitiva, conhecida como Vulgata Clementina, que permaneceu a versão oficial da Bíblia Católica até ao século XX.

A Vulgata e o Vaticano II

No século XX, a Igreja incentivou novas traduções das Escrituras com base nos textos originais, resultando na Nova Vulgata, publicada em 1979 e declarada pelo Papa João Paulo II como a nova edição oficial da Bíblia para a Igreja Católica.

Apesar das novas traduções, a Vulgata de São Jerónimo continua a ser uma referência fundamental para a teologia, a liturgia e o estudo das Escrituras, sendo considerada um dos maiores marcos da história do cristianismo.

Conclusão

A aprovação da Vulgata pelo Concílio de Trento consolidou a unidade doutrinária da Igreja e garantiu uma base sólida para o estudo da Bíblia durante séculos. O trabalho de São Jerónimo continua a ser um testemunho da importância da Sagrada Escritura na fé cristã, e a sua tradução permanece uma das mais influentes na história da Igreja.

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