São Bernardino Realino nasceu em Carpi, na Itália, no dia 1 de dezembro de 1530, numa família nobre e cristã. Desde cedo destacou-se pelos seus dons intelectuais e pela retidão do seu caráter. Estudou filosofia e medicina, mas viria a licenciar-se em direito civil e canónico na prestigiada Universidade de Bolonha. Tornou-se advogado e, mais tarde, juiz e magistrado em várias cidades italianas, exercendo sempre as suas funções com grande honestidade e sensibilidade para com os mais pobres.
Apesar do sucesso profissional e de uma vida promissora na administração pública, Bernardino sentia um vazio interior e uma inquietação espiritual que o levariam a mudar radicalmente de vida. Com cerca de 34 anos, teve contacto com os Jesuítas — recém-fundados por Santo Inácio de Loyola — e, depois de participar num retiro espiritual segundo os Exercícios Inacianos, decidiu abandonar tudo e ingressar na Companhia de Jesus, em 1564.
Apostolado entre os jovens e os doentes
Após a sua ordenação sacerdotal, São Bernardino foi enviado para Lecce, no sul de Itália, onde passaria os últimos 42 anos da sua vida. A sua missão ali tornou-se uma verdadeira escola de santidade: dedicou-se com zelo ao ensino da catequese, à pregação, à direção espiritual e à confissão. Foi sobretudo entre os jovens e os estudantes que exerceu um papel marcante, tornando-se modelo de educador cristão. A sua presença era tão luminosa e o seu conselho tão procurado que muitos o consideravam já santo ainda em vida.
Ao mesmo tempo, Bernardino não descurava os mais pobres e os doentes. Visitava os hospitais, levava consolo aos moribundos, socorria os prisioneiros, e distribuía os seus poucos bens com uma generosidade evangélica.
Vida interior e santidade quotidiana
A espiritualidade de São Bernardino Realino era profundamente marcada pela humildade, obediência e espírito de serviço. Tinha uma grande devoção à Eucaristia e à Virgem Maria, e praticava com fidelidade os Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Era homem de oração constante, de silêncio fecundo e de uma doçura cativante.
Apesar das suas responsabilidades e do reconhecimento geral, viveu com simplicidade e despojamento, sempre atento aos sinais de Deus e ao bem das almas. A sua vida foi um testemunho de como é possível transformar uma vocação jurídica e intelectual numa entrega total ao serviço do Reino de Deus.
Últimos dias e canonização
São Bernardino faleceu no dia 2 de julho de 1616, aos 85 anos, em Lecce, onde é venerado até hoje com grande devoção. Pouco antes da morte, o município da cidade, reconhecendo os seus méritos espirituais e sociais, quis nomeá-lo oficialmente como padroeiro da cidade. Conta-se que ele aceitou emocionado, dizendo: “Lecce foi o meu paraíso na terra; espero que me conduza ao paraíso eterno.”
Foi beatificado em 1895 pelo Papa Leão XIII e canonizado por Pio XII em 1947. A sua festa litúrgica celebra-se a 2 de julho, sendo invocado como padroeiro dos advogados, dos educadores e da juventude estudantil.
Exemplo para os nossos tempos
A vida de São Bernardino Realino é um apelo à coerência entre fé e ação, à dedicação ao próximo e à abertura à vontade de Deus. Ele mostra-nos que nunca é tarde para escutar o chamamento divino e que uma carreira de sucesso só encontra verdadeiro sentido quando colocada ao serviço do bem comum e da santificação pessoal.
Num tempo em que tantos procuram sentido para as suas vidas, São Bernardino recorda que a verdadeira realização está na entrega amorosa, na escuta da consciência e na fidelidade à missão recebida, por mais humilde ou exigente que seja.