O Beato Gonçalo de Amarante é uma das figuras mais queridas da religiosidade popular portuguesa. Conhecido pela sua vida de oração, penitência e dedicação aos pobres, a sua história mistura elementos históricos com tradições piedosas que atravessaram séculos. É especialmente venerado no norte de Portugal, onde o seu nome se confunde com a localidade que adoptou como casa.
Juventude e vocação
Gonçalo nasceu por volta de 1187, na freguesia de Tagilde, perto de Vizela, no norte de Portugal. Desde jovem mostrou inclinação para a vida espiritual e estudou Teologia e Direito Canónico em Lisboa e depois em Santiago de Compostela. Após os estudos, foi ordenado sacerdote e nomeado pároco da freguesia de São Paio de Vizela.
Era um sacerdote zeloso, que servia com dedicação os paroquianos e promovia a vida cristã com empenho. No entanto, sentia no coração o desejo de uma entrega mais profunda a Deus.
Peregrinação e descoberta da vocação eremítica
Após algum tempo como pároco, Gonçalo decidiu fazer uma longa peregrinação à Terra Santa e a Roma, deixando provisoriamente a paróquia entregue a um familiar. A viagem durou muitos anos — segundo algumas tradições, catorze — e quando regressou, foi surpreendido ao ver que a sua paróquia já estava ocupada por outro sacerdote.
Perante essa situação, optou por não reclamar os seus direitos e compreendeu que Deus o chamava a outro caminho. Retirou-se então para uma vida de eremita nas margens do rio Tâmega, junto à localidade de Amarante, dedicando-se à oração, à penitência e ao serviço dos pobres.
Vida em Amarante
Instalou-se num lugar isolado onde viveu em austeridade, sendo conhecido pela sua santidade, humildade e caridade. A sua fama de santidade começou a atrair peregrinos e fiéis que procuravam conselhos e bênçãos. Mais tarde, ingressou na Ordem dos Pregadores (Dominicanos), onde continuou a sua vida de contemplação e serviço.
É-lhe atribuída a construção de uma ponte sobre o rio Tâmega, para facilitar o acesso dos habitantes e peregrinos — obra que simboliza a sua missão espiritual de ligar os homens a Deus e uns aos outros.
Milagres e devoção popular
A tradição atribui-lhe diversos milagres em vida e após a morte, como a multiplicação de pães para os pobres, a cura de doentes e até mesmo intervenções miraculosas em fenómenos naturais. O povo começou a venerá-lo como santo protector dos viajantes e dos pobres, e a sua figura cresceu em devoção popular ao longo dos séculos.
Morte e beatificação
O Beato Gonçalo faleceu por volta de 1259, em Amarante. O culto ao “santo de Amarante” espalhou-se por Portugal e pelo mundo, especialmente através da ação missionária dos Dominicanos.
Foi oficialmente beatificado pelo Papa Pio IV em 1561, embora a sua devoção já fosse muito antiga. A festa litúrgica celebra-se a 10 de janeiro.
Legado
O Beato Gonçalo de Amarante é símbolo de fidelidade a Deus, humildade, caridade e desapego das coisas do mundo. É lembrado como o padroeiro dos engenheiros civis e construtores de pontes, e continua a ser uma figura profundamente enraizada na piedade popular portuguesa.
O seu santuário em Amarante é um importante centro de peregrinação, onde se celebra com alegria a festa do beato, mantendo viva a memória daquele que escolheu o caminho da simplicidade e da união com Deus.