São Severino é uma das figuras mais marcantes do cristianismo na Europa Central durante a transição entre o mundo romano e a Idade Média. Chamado muitas vezes de “apóstolo da Nórica” (região correspondente ao actual território da Áustria), foi um missionário, monge e protetor das populações devastadas pelas invasões bárbaras no século V. A sua vida é testemunho de coragem, caridade e fé numa época de grande incerteza.
Origens e vocação
Pouco se sabe sobre os primeiros anos de vida de São Severino. A sua origem é envolta em mistério, mas alguns autores sugerem que teria vindo do Oriente ou da Itália. Era um homem de cultura e fé profunda, conhecedor das Escrituras e dotado de espírito profético.
Sentindo-se chamado por Deus, deixou tudo para abraçar uma vida de missionação e serviço. Foi para a província da Nórica, então parte do Império Romano, numa altura em que esta sofria com a decadência política e as incursões constantes de povos germânicos.
Missão na Nórica
São Severino chegou à Nórica por volta do ano 453, após a morte de Átila, rei dos hunos. Encontrou uma região em ruínas, com comunidades cristãs isoladas e abandonadas, ameaçadas por tribos invasoras e por carestias. De imediato, colocou-se ao serviço dos pobres, dos refugiados e dos cristãos perseguidos.
Fundou mosteiros, organizou obras de caridade e reforçou a fé do povo. Tornou-se uma autoridade espiritual e moral, sendo procurado por líderes civis e militares, tanto romanos como bárbaros. Conseguiu salvar muitas cidades de pilhagens e destruição, negociando com chefes tribais e promovendo alianças baseadas na paz.
Exerceu também um ministério profético, prevendo acontecimentos, aconselhando os governadores e preparando o povo para abandonar cidades em risco. A sua presença era tida como sinal de bênção e proteção.
Vida monástica e espiritualidade
Apesar das exigências da missão, São Severino mantinha uma vida ascética e profundamente espiritual. Vivia no jejum, na oração e na penitência. Fundou comunidades monásticas que combinavam a vida contemplativa com o serviço ativo à população, segundo um modelo que mais tarde inspiraria o monaquismo europeu.
A sua espiritualidade era marcada por uma confiança absoluta na Providência divina e por um zelo missionário que não conhecia fronteiras.
Morte e legado
São Severino morreu em 8 de janeiro do ano 482, em Favianae (actual Mautern, na Áustria). As suas últimas palavras foram um apelo à paz, à caridade e à confiança em Deus.
Após a sua morte, o seu discípulo Eugípio escreveu a obra Commemoratorium vitae Sancti Severini, uma das principais fontes sobre o fim do mundo romano na Europa central. O corpo de São Severino foi levado para Nápoles, onde repousa até hoje no Mosteiro de São Severino e São Sósio.
Veneração e memória
São Severino é venerado como padroeiro da Áustria e protector das populações em tempo de guerra e de crise. O seu exemplo inspirou inúmeras comunidades monásticas e continua a ser lembrado como um verdadeiro “sal da terra” numa época de trevas e transformações.
A sua festa litúrgica celebra-se a 8 de janeiro, sendo especialmente assinalada na Áustria, no sul da Alemanha e em Nápoles, Itália.