Neste dia, em 2020, primeira peregrinação da história de Fátima num recinto totalmente vazio

A Procissão das Velas é um dos momentos mais emblemáticos e comoventes das celebrações no Santuário de Fátima, símbolo de fé, devoção e unidade do povo de Deus sob o olhar materno de Nossa Senhora. Realizada desde meados do século XX, esta procissão ilumina as noites de peregrinação com milhares de luzes que tremulam na escuridão, representando as orações e intenções dos fiéis que confiam à Virgem Maria os seus pedidos e agradecimentos.

Mas entre todas as edições desta procissão, uma ficará para sempre na memória dos fiéis: a Procissão das Velas de 12 de maio de 2020, celebrada em plena pandemia de COVID-19, quando, pela primeira vez na história moderna do Santuário, o recinto se encontrava completamente fechado ao público, e apenas cerca de 100 pessoas estiveram presentes fisicamente. Foi um momento histórico de fé silenciosa, de oração e de esperança num tempo de incerteza mundial.

Origens da Procissão das Velas em Fátima

A tradição da Procissão das Velas em Fátima nasceu da devoção popular nas primeiras décadas após as aparições de 1917. Desde cedo, os peregrinos começaram a reunir-se durante a noite para rezar e cantar à Mãe de Deus, acendendo velas em sinal de fé e gratidão.

Inspirada em parte pela Procissão das Velas de Lourdes, esta prática foi adotada oficialmente pelo Santuário nos anos 1940, tornando-se rapidamente um dos momentos centrais das grandes peregrinações internacionais, especialmente nas noites de 12 de maio e 12 de outubro, vésperas das aparições de Nossa Senhora.

Com o tempo, a procissão ganhou uma estrutura própria, sendo presidida pelo bispo de Leiria-Fátima e acompanhada por dezenas de milhares de fiéis que, com velas acesas, percorrem a esplanada do Santuário, entoando o “Ave de Fátima”, um dos hinos marianos mais reconhecidos em todo o mundo.

Quando e como ocorre

A Procissão das Velas realiza-se todas as noites do período de peregrinações (de maio a outubro), mas tem o seu ponto alto nas grandes peregrinações internacionais de 13 de maio e 13 de outubro.
A celebração tem início por volta das 21h30, logo após o Terço na Capelinha das Aparições, e é presidida por um bispo ou cardeal convidado.

Durante a procissão, os fiéis caminham lentamente pela esplanada do Santuário, seguindo a imagem de Nossa Senhora de Fátima transportada no andor, iluminada por milhares de pequenas chamas. O percurso termina junto à Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde é dada a bênção final.

Afluência e dimensão espiritual

Em anos normais, a Procissão das Velas de 12 de maio atrai centenas de milhares de peregrinos vindos de Portugal e de todo o mundo. O mar de velas que cobre o recinto é uma das imagens mais marcantes da fé católica contemporânea.
Cada vela representa uma oração, por um doente, por uma família, por um defunto, por um pedido silencioso, e todas juntas formam uma única grande prece de amor e esperança.

O ambiente é profundamente espiritual: silêncio, cânticos, lágrimas e sorrisos misturam-se sob o olhar sereno da Virgem, enquanto o refrão “Ave, Ave, Ave Maria” ecoa pelo ar noturno.

Maio de 2020: a procissão em tempos de pandemia

A Procissão das Velas de 12 de maio de 2020 ficará marcada como um dos momentos mais singulares da história de Fátima. Devido à pandemia de COVID-19 e às restrições sanitárias então em vigor, o recinto do Santuário foi encerrado ao público, e pela primeira vez desde 1917 não se permitiu a presença física dos peregrinos.

Apesar disso, o Santuário manteve as celebrações principais, transmitidas em direto pela televisão e pela internet para todo o mundo. Apenas cerca de 100 pessoas assistiram à procissão das velas, entre convidados e funcionários do santuário, que ocuparam com toda a distância entre si os bancos da capelinha das aparições, bem como algumas cadeiras frente ao altar. Entre esses estavam três peregrinos, escolhidos pelo Santuário para homenagear “todos aqueles que hoje não puderam estar aqui, como tanto queriam“.

O Cardeal D. António Marto, então bispo de Leiria-Fátima, presidiu à celebração, afirmando emocionado:

Este recinto vazio é hoje o retrato de um mundo ferido, mas não sem esperança. Maria está connosco e continua a acender luzes na noite da humanidade.

Durante a procissão, a imagem de Nossa Senhora foi transportada apenas por alguns acólitos, num silêncio comovente. As milhares de velas que costumam iluminar a esplanada estavam ausentes, mas, em contrapartida, milhões de fiéis acenderam velas nas suas casas, acompanhando em oração através dos ecrãs.

Esta “procissão doméstica”, feita a partir de lares espalhados por todo o mundo, transformou aquela noite num dos momentos espiritualmente mais fortes da história recente de Fátima: a fé ultrapassou as paredes e uniu corações em tempo de isolamento.

Repercussão e significado

A imagem de Nossa Senhora de Fátima a percorrer um recinto completamente vazio, iluminada apenas por algumas luzes e câmaras de televisão, tornou-se símbolo de um tempo de provação, mas também de esperança.
O Santuário recebeu milhares de mensagens de peregrinos que acompanharam a celebração à distância, muitos dos quais afirmaram sentir-se “mais unidos do que nunca”.

O Papa Francisco, na sua mensagem ao Santuário nesse mesmo dia, recordou: “Mesmo sem o vosso corpo presente, o vosso coração está em Fátima. Maria nunca deixa de ouvir o clamor dos seus filhos.”

O regresso da luz

Em 2021, com o alívio das restrições sanitárias, a Procissão das Velas voltou a realizar-se com presença de peregrinos, embora ainda de forma limitada. Aos poucos, o recinto voltou a encher-se de velas, cantos e orações, recuperando o esplendor que caracteriza o Santuário.

A experiência de 2020, contudo, deixou uma marca profunda: recordou que a fé não depende da multidão, mas da luz interior que cada um acende no coração.

Conclusão

A Procissão das Velas de Fátima é muito mais do que um gesto devocional: é um testemunho vivo da fé do povo português e universal.
Desde as origens humildes até às grandes peregrinações internacionais, e mesmo nos tempos difíceis da pandemia, o brilho das velas nunca se apagou, apenas mudou de lugar, iluminando o mundo a partir das casas e dos corações.

Em Fátima, cada chama é uma oração, e cada oração é uma ponte de luz que liga a Terra ao Céu.
Mesmo quando o recinto esteve vazio, Maria permaneceu lá, e os seus filhos, à distância, continuaram a rezar.

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