Santo Onésimo é uma figura importante na história do cristianismo primitivo, conhecido como um dos primeiros bispos e discípulos do apóstolo São Paulo. A história de Onésimo está intimamente ligada à epístola de São Paulo a Filémon, um dos textos mais pessoais do Novo Testamento, que revela um profundo testemunho de reconciliação, conversão e a universalidade do amor cristão.
Origem e conversão
Onésimo era um escravo de Filémon, um cristão de destaque na cidade de Colossos, na Ásia Menor. Por motivos não completamente esclarecidos, acredita-se que Onésimo fugiu do seu senhor após cometer uma ofensa ou roubo. Durante a fuga, ele encontrou São Paulo, que estava prisioneiro em Roma.
Esse encontro mudou a sua vida: Onésimo converteu-se ao cristianismo sob a orientação do apóstolo e tornou-se um dos seus discípulos mais próximos. O próprio nome “Onésimo” significa “útil”, e São Paulo, na carta a Filémon, faz um jogo de palavras dizendo que, embora Onésimo tenha sido “inútil” anteriormente, agora se tornou útil tanto para Filémon quanto para ele próprio (Fm 1, 11).
A Carta a Filémon: Reconciliação e Perdão
A história de Onésimo é preservada na Epístola a Filémon, uma das cartas mais curtas do Novo Testamento. Nela, São Paulo intercede junto a Filémon, pedindo que ele receba Onésimo de volta não mais como escravo, mas como um irmão em Cristo.
Paulo escreve: “Eu o envio de volta a ti, como se fosse o meu próprio coração… Talvez ele tenha sido separado de ti por algum tempo, para que o pudesses ter de volta para sempre, não mais como escravo, mas como um irmão amado.” (Fm 1, 12-16).
Essa carta não apenas reflete a coragem de São Paulo em desafiar as normas sociais da época, mas também mostra a força do evangelho na promoção da dignidade humana e na superação das divisões sociais.
O ministério de Onésimo
Segundo a tradição cristã, Onésimo foi recebido por Filémon e posteriormente libertado. Após a reconciliação, ele dedicou-se ao ministério apostólico, seguindo os passos de São Paulo. Onésimo desempenhou um papel importante na organização das primeiras comunidades cristãs e na pregação do evangelho.
Mais tarde, Onésimo tornou-se bispo de Éfeso, sucedendo a São Timóteo. Durante o episcopado, ele foi responsável por fortalecer a fé dos cristãos abalada pelas perseguições e por preservar as cartas de São Paulo, que mais tarde seriam incluídas no Novo Testamento.
Martírio
Onésimo sofreu o martírio durante as perseguições aos cristãos no governo do imperador Domiciano (81-96 d.C.) ou Trajano (98-117 d.C.). Ele foi preso devido à sua fé e enviado a Roma, onde, segundo a tradição, foi apedrejado até à morte. A sua fidelidade a Cristo até o fim tornou-o um testemunho de coragem e perseverança para a Igreja nascente.
Legado espiritual
Santo Onésimo é lembrado pela história de conversão e reconciliação, que é um reflexo da mensagem central do cristianismo: o poder redentor da graça de Deus e a dignidade de cada pessoa, independentemente da sua condição social.
O seu exemplo ensina lições importantes:
- A transformação pela fé: Onésimo passou de escravo fugitivo a bispo e mártir, mostrando que a graça de Deus pode transformar qualquer vida.
- A reconciliação como testemunho cristão: A história de Onésimo e Filémon mostra que o evangelho é um chamamento à unidade e ao perdão.
- A igualdade em Cristo: Paulo enfatiza que, em Cristo, não há mais escravo ou livre, mas todos são irmãos e irmãs na fé (Gl 3, 28).
Veneração e comemoração
Santo Onésimo é venerado como mártir pela Igreja Católica e pela Igreja Ortodoxa. A sua festa litúrgica é celebrada no dia 16 de fevereiro. Ele é considerado um modelo para todos os que procuram a reconciliação e um testemunho da liberdade que vem de viver plenamente em Cristo.
Conclusão
Santo Onésimo, discípulo de São Paulo, é um exemplo de como o evangelho transforma vidas, promovendo a dignidade, a igualdade e o amor fraterno. A sua história inspira os cristãos a viverem a reconciliação nas suas vidas, a lutarem pela justiça e a permanecerem firmes na fé, mesmo diante das dificuldades. Ao recordar a sua memória, somos desafiados a olhar o próximo não como escravo ou inimigo, mas como um irmão ou irmã em Cristo, chamado à mesma liberdade e salvação.