Os quatro Evangelistas — Mateus, Marcos, Lucas e João — são os autores dos Evangelhos canónicos do Novo Testamento. Estes textos são fundamentais para a fé cristã, pois narram a vida, ensinamentos, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Cada Evangelista apresenta uma perspectiva única, refletindo as suas próprias experiências, contextos culturais e intenções teológicas. Este artigo explora a vida de cada um dos quatro Evangelistas, discutindo quem eles eram, suas origens e contribuições para o cristianismo.
Mateus
Quem era Mateus?
Mateus, também conhecido como Levi, é tradicionalmente identificado como um dos doze apóstolos de Jesus. Ele era um cobrador de impostos (publicano) antes de seguir Jesus. No contexto judaico, os cobradores de impostos eram geralmente desprezados, pois trabalhavam para o Império Romano e frequentemente eram vistos como corruptos e traidores do seu próprio povo. Apesar dessa reputação negativa, Jesus chamou-o para ser seu discípulo, destacando a mensagem de que o Reino de Deus é inclusivo e aberto a todos, independentemente do passado.
Vida e Ministério
A tradição cristã afirma que, após a morte e ressurreição de Jesus, Mateus pregou o Evangelho na Judéia por vários anos antes de viajar para outros locais, incluindo a Etiópia e a Pérsia, onde continuou a espalhar a mensagem cristã. Há relatos variados sobre a sua morte. Algumas tradições dizem que ele foi martirizado, enquanto outras sugerem que ele morreu de causas naturais.
Contribuições e Características do Evangelho de Mateus
O Evangelho segundo Mateus foi escrito para uma audiência predominantemente judaico-cristã. Mateus enfatiza Jesus como o Messias prometido nas Escrituras Hebraicas, frequentemente citando passagens do Antigo Testamento para mostrar que Jesus é o cumprimento das profecias. Ele também apresenta Jesus como um novo Moisés, um legislador e mestre divino, particularmente no Sermão da Montanha (Mateus 5-7). Este Evangelho é notável pelo foco na ética cristã, na comunidade eclesial e na autoridade de Jesus como mestre e guia espiritual.
Marcos
Quem era Marcos?
João Marcos, mais conhecido simplesmente como Marcos, é mencionado em várias partes do Novo Testamento. Ele era um discípulo próximo de Pedro, o apóstolo, e também tinha ligações com Paulo e Barnabé. Marcos é mencionado em Atos dos Apóstolos como acompanhando Paulo e Barnabé nas suas viagens missionárias (Atos 12:25; 13:5), embora ele se tenha separado deles em algum ponto, o que causou uma disputa entre Paulo e Barnabé (Atos 15:36-39). Mais tarde, ele reconciliou-se com Paulo e continuou a trabalhar ao lado dos líderes da Igreja primitiva.
Vida e Ministério
Segundo a tradição, Marcos atuou como intérprete de Pedro, e o seu Evangelho é considerado um reflexo das pregações de Pedro. Acredita-se que Marcos tenha escrito o seu Evangelho em Roma, por volta de 60-70 d.C., possivelmente durante um período de perseguição aos cristãos. Marcos também teria fundado a Igreja em Alexandria, no Egito, e tornando-se o primeiro bispo daquela comunidade. Ele é venerado como mártir na tradição cristã, com algumas histórias sugerindo que ele foi martirizado em Alexandria.
Contribuições e Características do Evangelho de Marcos
O Evangelho segundo Marcos é o mais curto dos quatro e é caracterizado pelo seu estilo direto e conciso. Ele concentra-se nas acções de Jesus mais do que nos seus discursos, enfatizando os ilagres e poder sobre a natureza, os demónios e a doença. Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus e o Messias sofredor, destacando o segredo messiânico — a prática de Jesus de manter a sua identidade como Messias oculta até o momento apropriado. O Evangelho é conhecido pela narrativa rápida e por destacar a paixão e ressurreição de Jesus como o clímax da história.
Lucas
Quem era Lucas?
Lucas é tradicionalmente identificado como o “médico amado” mencionado por Paulo em Colossenses 4:14 e como o autor tanto do Evangelho de Lucas quanto do livro dos Atos dos Apóstolos. Ele não era um dos doze apóstolos, mas é considerado um discípulo de Paulo e acompanhou-o em várias das suas viagens missionárias, como relatado nos Atos dos Apóstolos. Lucas é um dos poucos autores do Novo Testamento que era gentio, o que lhe deu uma perspectiva única sobre o ministério de Jesus e a expansão do cristianismo.
Vida e Ministério
Lucas é frequentemente descrito como um historiador cuidadoso e detalhista, com um interesse particular em documentar o papel do Espírito Santo e o crescimento da Igreja primitiva. Ele é venerado na tradição cristã como um dos primeiros historiadores da Igreja e também é considerado o padroeiro dos médicos devido à sua profissão. Acredita-se que ele tenha vivido até uma idade avançada, e a tradição sugere que ele morreu em Beócia, na Grécia.
Contribuições e Características do Evangelho de Lucas
O Evangelho de Lucas é o mais longo dos quatro Evangelhos e é conhecido pelo estilo literário sofisticado e preocupação com a universalidade da mensagem de Jesus. Lucas enfatiza a compaixão de Jesus pelos pobres, marginalizados e oprimidos, destacando a inclusão dos gentios, samaritanos, mulheres e pecadores na mensagem de salvação. Ele é notável pelo foco em temas como a oração, o Espírito Santo e a alegria. Lucas também fornece um relato detalhado da infância de Jesus e de eventos únicos, como a ascensão de Jesus ao céu.
João
Quem era João?
João é tradicionalmente identificado como o “discípulo amado”, um dos doze apóstolos de Jesus e irmão de Tiago, outro apóstolo. Ele é filho de Zebedeu e Salomé e, antes de seguir Jesus, era pescador no Mar da Galileia. João é frequentemente mencionado nos Evangelhos como um dos discípulos mais próximos de Jesus, participando de momentos-chave como a Transfiguração e a Última Ceia. Ele também é associado à tradição cristã como o autor do Apocalipse e das três epístolas que levam seu nome.
Vida e Ministério
Após a morte e ressurreição de Jesus, João desempenhou um papel significativo na Igreja primitiva. Segundo a tradição, ele viveu em Éfeso, onde cuidou de Maria, mãe de Jesus, conforme o pedido de Jesus na cruz (João 19:26-27). Ele é amplamente reverenciado como o único dos doze apóstolos que não foi martirizado, vivendo até uma idade avançada e morrendo de causas naturais. As suas contribuições literárias e testemunho pessoal são considerados fundamentais para o desenvolvimento da teologia cristã primitiva.
Contribuições e Características do Evangelho de João
O Evangelho segundo João é distinto dos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) em termos de estilo, conteúdo e ênfase teológica. João apresenta Jesus de uma maneira mais contemplativa, destacando a sua divindade e relação íntima com o Pai. Desde o prólogo, João identifica Jesus como o Logos, a Palavra eterna que estava com Deus e era Deus (João 1:1). O Evangelho de João é conhecido pelas “sete declarações Eu sou” e pelos “sete sinais” que revelam a identidade de Jesus. Além disso, este Evangelho contém longos discursos teológicos e discussões sobre a natureza de Jesus e sua missão redentora.
Conclusão
Os quatro Evangelistas — Mateus, Marcos, Lucas e João — são figuras centrais na tradição cristã, não apenas como autores dos Evangelhos, mas também como testemunhas da vida e ensinamentos de Jesus Cristo. Cada um deles contribuiu com uma perspectiva única, refletindo as suas próprias experiências, contexto cultural e a audiência para a qual escreviam. Mateus destaca Jesus como o Messias prometido; Marcos sublinha o poder e a autoridade de Jesus como o Filho de Deus; Lucas enfatiza a misericórdia e a compaixão universal de Jesus; e João apresenta uma reflexão teológica profunda sobre a divindade de Cristo. Juntos, esses quatro Evangelistas fornecem uma visão completa e multifacetada da vida e missão de Jesus, que continua a inspirar e orientar a fé cristã ao longo dos séculos.