Portugal, conhecido pela profunda devoção cristã, contribuiu ao longo da história com várias figuras de santidade reconhecidas pela Igreja Católica. Estes santos portugueses desempenharam papéis importantes na evangelização, na defesa da fé, e na caridade, sendo exemplos de vida cristã para o povo português e para a Igreja universal. Neste artigo, exploramos a vida de alguns dos mais conhecidos santos portugueses, desde o primeiro canonizado até ao mais recente, além de examinar o impacto que estes santos tiveram na história e na fé em Portugal.
Quem Foi o Primeiro Santo Português?
O primeiro santo oficialmente canonizado da história de Portugal foi São Teotónio, que viveu entre 1082 e 1162. Teotónio foi um dos fundadores do Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, uma importante casa religiosa da época. Ele destacou-se pela vida de oração, rigor ascético e profunda caridade, especialmente em favor dos pobres e necessitados. São Teotónio também desempenhou um papel ativo na política do seu tempo, sendo confessor e conselheiro de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal.
Teotónio foi canonizado devido à santidade de vida, milagres realizados após a morte e pela influência que teve sobre o crescimento da fé católica em Portugal durante os primeiros anos da nação. A sua festa litúrgica é celebrada a 18 de fevereiro.
Os Santos Portugueses Mais Conhecidos
Santo António de Lisboa (1195-1231)
Santo António é, sem dúvida, o mais conhecido e amado santo português. Embora nascido em Lisboa, é mais famoso pela sua pregação e trabalho em Pádua, na Itália, onde passou boa parte da vida. Ele foi um dos primeiros membros da Ordem Franciscana e destacou-se pela eloquência e profundo conhecimento das Escrituras, sendo frequentemente chamado de “Doutor Evangélico”. Santo António é conhecido como o santo padroeiro das coisas perdidas e dos pobres, sendo também invocado para ajudar em situações desesperadas.
Foi canonizado em 1232, apenas um ano após a morte, o que evidencia a imensa popularidade e a crença generalizada na sua santidade. A sua festa é celebrada a 13 de junho e, em Portugal, particularmente em Lisboa, é marcada por celebrações populares.
São Nuno de Santa Maria (1360-1431)
Nuno Álvares Pereira, também conhecido como o Condestável, é outra figura de destaque no panorama dos santos portugueses. Antes de tornar-se religioso, foi um dos maiores militares da história de Portugal, desempenhando um papel crucial na defesa da independência do país contra Castela durante a crise de 1383-1385. Após garantir a vitória na Batalha de Aljubarrota, Nuno decidiu abandonar a carreira militar e tornar-se carmelita, adotando o nome religioso de Nuno de Santa Maria.
Canonizado em 2009, São Nuno é celebrado como um exemplo de fé, serviço e humildade, com a sua festa sendo comemorada a 6 de novembro.
Santa Isabel de Portugal (1271-1336)
Santa Isabel foi rainha de Portugal e é conhecida pela profunda devoção, caridade e pacificação de conflitos, sendo um exemplo notável de santidade na realeza. Esposa do rei D. Dinis, ela foi mediadora em várias disputas, tanto no reino como na própria família, e dedicou-se a obras de caridade e assistência aos pobres. É especialmente conhecida pelo milagre das rosas, no qual o pão que levava aos necessitados foi milagrosamente transformado em rosas.
Santa Isabel foi canonizada em 1625 e a sua festa é celebrada a 4 de julho, sendo uma figura de grande veneração em Portugal, sobretudo em Coimbra, onde passou os últimos anos da vida como clarissa.
São Bartolomeu dos Mártires (1514-1590)
Bartolomeu dos Mártires, também conhecido como Dom Frei Bartolomeu Fernandes, foi um arcebispo de Braga que se destacou pela simplicidade de vida, caridade pastoral e empenho na reforma da Igreja durante o Concílio de Trento. Ele foi um grande defensor da catequese, da educação dos clérigos e do cuidado com os pobres.
Bartolomeu dos Mártires foi canonizado em 2019, sendo amplamente venerado em Portugal e reconhecido como exemplo de bispo zeloso e humilde.
São João de Brito (1647-1693)
João de Brito foi um missionário jesuíta que dedicou a vida à evangelização na Índia, especialmente na região de Madurai. Inspirado pelo exemplo de São Francisco Xavier, João de Brito fez grandes sacrifícios para adaptar-se à cultura local, vestindo-se como um asceta hindu e aprendendo as línguas locais. A sua pregação resultou em muitas conversões, mas também provocou a ira de governantes locais. Ele foi martirizado em 1693 por se recusar a abandonar a sua fé.
São João de Brito foi canonizado em 1947, e é celebrado como um dos grandes mártires missionários portugueses. A sua festa é comemorada a 4 de fevereiro.
Santos Francisco e Jacinta Marto (1908-1919 e 1910-1920)
Os irmãos Francisco e Jacinta Marto, dois dos três pastorinhos que presenciaram as aparições de Nossa Senhora de Fátima em 1917, são dos santos mais queridos em Portugal. Embora tivessem morrido ainda crianças, a sua profunda devoção e aceitação das mensagens de Nossa Senhora de Fátima, assim como os sacrifícios que ofereceram pelos pecadores, são um exemplo de fé infantil extraordinária.
Foram canonizados pelo Papa Francisco em 2017, no centenário das aparições, e a sua festa é celebrada a 20 de fevereiro.
São Gonçalo de Amarante (1187-1259)
São Gonçalo é uma figura popular em Portugal, especialmente na região norte. Após uma peregrinação à Terra Santa, ele dedicou-se à vida eremítica e à pregação do Evangelho. Conhecido pela caridade e pelos milagres que se acredita ter realizado, Gonçalo desempenhou um papel fundamental na evangelização das populações mais pobres e afastadas.
Apesar de nunca ter sido formalmente canonizado pela Igreja, São Gonçalo é amplamente venerado em Portugal, especialmente em Amarante, onde se celebra a sua festa. Gonçalo é também associado a tradições populares que misturam elementos de religião e cultura local.
Beata Alexandrina de Balazar (1904-1955)
Alexandrina Maria da Costa é uma das beatas mais recentes de Portugal, beatificada em 2004 pelo Papa João Paulo II. A sua vida foi marcada por um sofrimento físico extremo; aos 20 anos ficou paralisada devido a um acidente, e, a partir daí, viveu na cama até à morte. Durante esses anos, Alexandrina ofereceu os sofrimentos em união com a Paixão de Cristo, recebendo várias visões místicas e praticando o jejum total, apenas alimentando-se da Eucaristia nos últimos 13 anos de vida.
A sua festa é celebrada a 13 de outubro, e Alexandrina é vista como um exemplo de fé inabalável, apesar do sofrimento.
São João de Deus (1495-1550)
João Cidade, mais conhecido como São João de Deus, nasceu em Portugal mas é venerado principalmente em Espanha, onde fundou a Ordem dos Irmãos Hospitaleiros, dedicada ao cuidado dos doentes e necessitados. Ele dedicou grande parte da vida ao serviço dos pobres, inspirando muitos outros a seguir o seu exemplo.
São João de Deus foi canonizado em 1690, e é considerado o padroeiro dos hospitais, enfermeiros e doentes. A sua festa é celebrada a 8 de março.
São Frei Gil de Santarém (1185-1265)
Frei Gil de Santarém é uma das figuras mais enigmáticas da hagiografia portuguesa. Após uma juventude turbulenta, cheia de experiências esotéricas e alquímicas, converteu-se à fé cristã e ingressou na Ordem dos Pregadores (Dominicanos). Tornou-se um pregador popular e místico, sendo venerado por muitos milagres associados ao seu nome.
Apesar de não ter sido canonizado oficialmente, Frei Gil é objeto de uma profunda devoção em Portugal, e a sua festa é celebrada a 14 de maio.
Quem Foi o Último Santo Português a Ser Canonizado?
O último santo português a ser canonizado foi São Nuno de Santa Maria, em 2009. Nuno Álvares Pereira foi beatificado em 1918 pelo Papa Bento XV, mas a sua canonização só ocorreu em 2009, com o Papa Bento XVI, devido à confirmação de milagres atribuídos à sua intercessão. Nuno de Santa Maria é considerado um modelo de santidade, tanto pela coragem e lealdade em vida militar quanto pela entrega total a Deus após entrar na vida religiosa.
Conclusão
A santidade portuguesa reflete-se em diversas figuras que marcaram a história da Igreja e da nação. Desde o primeiro santo, São Teotónio, até os santos mais recentes, como os pastorinhos de Fátima, estas vidas exemplares continuam a inspirar o povo português na sua fé. A devoção aos santos é uma forma de os fiéis ligarem-se com aqueles que viveram profundamente a mensagem do Evangelho e que, agora, estão junto de Deus, intercedendo por todos.
