Os Beatos Inácio de Azevedo e os seus trinta e nove companheiros mártires são figuras marcantes da história da evangelização no Brasil e do testemunho da fé católica em tempos de perseguição. Estes missionários jesuítas, assassinados em 1570 ao largo das ilhas Canárias, são venerados como mártires da caridade, da missão e da fidelidade a Cristo.
Contexto histórico
No século XVI, a expansão missionária da Igreja Católica acompanhava os movimentos marítimos e coloniais das nações ibéricas. Portugal, que liderava a presença europeia no Brasil, contava com o apoio das ordens religiosas para a evangelização dos povos indígenas e a formação espiritual da colónia. Entre essas ordens, a Companhia de Jesus desempenhou um papel fundamental, com figuras como São José de Anchieta e São Manuel da Nóbrega.
Foi neste contexto que o padre Inácio de Azevedo foi enviado ao Brasil como visitador das missões jesuítas, com a missão de reorganizar e fortalecer a presença da Companhia de Jesus no território.
Vida de Inácio de Azevedo
Inácio de Azevedo nasceu em 1526 em Porto, Portugal, numa família nobre e influente. Ingressou na Companhia de Jesus em Coimbra, sendo um dos primeiros jesuítas portugueses. Dotado de grande inteligência e espírito de liderança, destacou-se rapidamente como formador e administrador.
Foi reitor do colégio jesuíta de Braga e depois nomeado visitador das missões do Brasil, cargo de grande responsabilidade. Em 1566, partiu para o Brasil, onde permaneceu cerca de dois anos. Durante esse período, percorreu diversas regiões, avaliando a situação das missões, animando os missionários e propondo melhorias.
Regressado à Europa, empenhou-se na preparação de um novo grupo de missionários para o Brasil. A sua visão era clara: reforçar o trabalho evangelizador com homens bem formados, espiritualmente fortes e prontos a dar a vida pelo Evangelho.
A missão interrompida
Em 1570, Inácio de Azevedo partiu de Lisboa com trinta e nove companheiros jesuítas, a maioria jovens irmãos coadjutores portugueses e espanhóis. A viagem tinha como destino o Brasil, onde seriam integrados nas diversas frentes missionárias.
No entanto, ao passarem pelas ilhas Canárias, a bordo do navio São Tiago, foram atacados por corsários calvinistas franceses liderados por Jacques Sourie, inimigo declarado dos católicos. Ao descobrirem que o grupo era composto por jesuítas, os piratas procederam ao massacre dos religiosos, recusando qualquer possibilidade de resgate ou poupança.
Os missionários foram mortos um a um, de forma cruel. Inácio de Azevedo foi o último a ser executado, segurando nas mãos um quadro de Nossa Senhora, que manteve junto ao peito até ao momento da morte. O martírio deu-se a 15 de julho de 1570, no mar ao largo da ilha de Palma, nas Canárias.
Testemunho de fé
O martírio dos quarenta jesuítas impressionou profundamente o mundo católico da época. O seu testemunho foi interpretado como sinal da fidelidade total a Cristo e ao serviço da missão, mesmo diante do ódio religioso e da violência.
A imagem de Inácio de Azevedo com o quadro da Virgem tornou-se símbolo do seu amor a Maria e da sua entrega até ao fim. Os relatos do massacre foram divulgados por toda a Europa, fortalecendo a convicção de que estes homens tinham morrido in odium fidei (por ódio à fé), e por isso eram verdadeiros mártires.
Beatificação e culto
Os quarenta mártires foram beatificados pelo Papa Pio IX a 11 de maio de 1854. A celebração litúrgica dos Beatos Inácio de Azevedo e Companheiros realiza-se a 17 de julho, embora o martírio tenha ocorrido dois dias antes.
São especialmente venerados em Portugal, Espanha, Brasil e também na região das Canárias. A sua memória está ligada ao espírito missionário da Companhia de Jesus e ao ideal de entrega total ao serviço de Deus, mesmo com o sacrifício da vida.
Legado e actualidade
Os Beatos Mártires do Brasil, como também são conhecidos, representam a dimensão heroica da missão cristã. São exemplos de coragem, zelo apostólico e fidelidade à vocação. A sua juventude — muitos tinham menos de 30 anos — é sinal de uma entrega generosa e radical ao Evangelho.
Para a Igreja contemporânea, os mártires de 1570 continuam a ser fonte de inspiração para os missionários, os jovens consagrados e todos os que vivem a fé em contextos difíceis. O seu martírio convida a uma reflexão profunda sobre o preço da fé e sobre o amor que vence o medo.
Conclusão
Os Beatos Inácio de Azevedo e os seus trinta e nove companheiros mártires são testemunhas luminosas do Evangelho vivido até às últimas consequências. O seu sangue derramado nas águas do Atlântico é semente de fé, coragem e fidelidade. A sua memória permanece viva na Igreja como exemplo de missão, entrega e amor a Cristo até ao fim.