São Dâmaso I, nascido por volta do ano 305 em Civitas Igaeditanorum (depois Egitânia, actual Idanha-a-Velha), território que, no século IV, integrava a Província da Lusitânia, no Império Romano, e que, atualmente, faz parte de Portugal, é venerado como o 38.º Papa da Igreja Católica, conhecido pela dedicação à preservação da ortodoxia cristã e pelo papel essencial na consolidação da Bíblia. Ele exerceu o pontificado entre os anos de 366 e 384, num período de intensas controvérsias teológicas e desafios dentro da Igreja.
Infância e eleição ao papado
Filho de pais cristãos, Dâmaso foi educado em Roma, onde serviu como diácono sob o pontificado de Papa Libério. Em 366, após a morte de Libério, Dâmaso foi eleito papa, apesar de uma eleição conturbada e rivalizada por Ursino, outro candidato que atraiu apoio de facções dissidentes. Essa divisão interna levou a confrontos violentos entre os seguidores de Dâmaso e Ursino, mas Dâmaso foi reconhecido oficialmente como o sucessor legítimo de São Pedro.
Defesa da ortodoxia e combate às heresias
Um dos maiores legados de São Dâmaso foi a firme defesa da ortodoxia cristã contra as heresias que ameaçavam dividir a Igreja, particularmente o arianismo, que negava a divindade completa de Cristo. Durante o pontificado, ele convocou vários concílios regionais para reafirmar as doutrinas da fé, especialmente aquelas defendidas no Concílio de Niceia (325).
São Dâmaso também combateu outras seitas e heresias, como o donatismo e o apolinarismo, defendendo a unidade e pureza da fé cristã. A liderança espiritual e teológica ajudou a estabilizar a Igreja durante uma época de grandes turbulências doutrinárias.
A consolidação da Bíblia
Um dos atos mais importantes do pontificado de São Dâmaso foi a instrução ao seu secretário, São Jerónimo, para traduzir as Escrituras Sagradas para o latim. Essa tradução, conhecida como a Vulgata, tornou-se a versão oficial da Bíblia na Igreja Católica e teve um impacto duradouro na disseminação das Escrituras no mundo ocidental. Dâmaso entendeu a importância de tornar as Escrituras acessíveis ao povo e garantir uma tradução fiel às fontes originais.
Construção de igrejas e resgate dos mártires
São Dâmaso também é conhecido pelo empenho em preservar a memória dos mártires cristãos. Durante o pontificado, ele ordenou a restauração de muitos dos túmulos dos mártires nas catacumbas de Roma, encomendando inscrições poéticas em latim que exaltavam o sacrifício desses santos. Esse trabalho de preservação ajudou a consolidar o culto aos mártires na tradição cristã.
Além disso, Dâmaso supervisionou a construção e restauração de várias igrejas em Roma, demonstrando dedicação à expansão e fortalecimento da Igreja visível.
Outros atos importantes
São Dâmaso I dilatou a festa da Assunção da Mãe de Deus para toda a Igreja Universal. Ordenou que se cantassem os Salmos a coros nas Igrejas, e que no final se acrescentasse o Gloria. Ordenou que o Sacerdote no princípio da Missa dissesse a Confissão geral.
Foi o primeiro Papa a usar com desenvoltura o anel do Pescador, com o símbolo de São Pedro, que ao contrário de hoje, era passado de pontífice para pontífice, assim que confirmada a sua morte, como símbolo da autoridade pastoral. O anel com a égide de Pedro, o primeiro papa, já não existe, pois foi destruído.
Morte e canonização
São Dâmaso faleceu a 11 de dezembro de 384. Ele foi sepultado no cemitério de São Lourenço, em Roma, embora tenha solicitado que não fosse sepultado nas catacumbas ao lado dos mártires, para evitar ser um fardo à sua veneração. A festa litúrgica é celebrada no dia 11 de dezembro.
Conclusão
São Dâmaso I foi um papa de grande importância para a história da Igreja, não apenas pela firmeza na defesa da ortodoxia, mas também pelo trabalho em prol da unidade e preservação das Escrituras. O seu legado como defensor da fé e promotor das Escrituras continua a ser lembrado e celebrado na tradição católica, tornando-o uma figura central no desenvolvimento do Cristianismo no mundo ocidental.