São Daniel Comboni foi um incansável missionário italiano do século XIX, cuja vida e obra marcaram profundamente a história da evangelização em África. Visionário, corajoso e movido por um amor ardente por Cristo e pelos povos africanos, dedicou-se à promoção humana e espiritual dos mais esquecidos. A sua herança missionária continua viva através dos Missionários Combonianos, que seguem o seu exemplo de entrega total.
Origem e vocação
Daniel Comboni nasceu a 15 de março de 1831, em Limone sul Garda, no norte de Itália, numa família pobre de camponeses. Desde cedo demonstrou grande inteligência, fé e sensibilidade pelos mais necessitados. Com o apoio de benfeitores, conseguiu estudar no seminário de Verona, onde se destacou pelo seu fervor espiritual e espírito missionário.
Ao contactar com os testemunhos de missionários que regressavam de África, especialmente do Sudão, sentiu um forte apelo interior a dedicar a sua vida à evangelização do continente africano. Em 1854, foi ordenado sacerdote e, apenas dois anos depois, partiu para a sua primeira missão no coração de África.
A missão africana e as dificuldades
A missão na África Central revelou-se extremamente difícil. O calor sufocante, as doenças tropicais, a precariedade dos recursos e a hostilidade do ambiente cultural e político foram desafios constantes. Muitos missionários morriam poucos meses após a chegada, e os resultados eram escassos. Apesar de tudo, Comboni não desanimou.
Durante uma viagem de regresso à Europa, enquanto rezava junto ao túmulo de São Pedro em Roma, teve uma inspiração decisiva: o célebre “Plano para a Regeneração da África com a África”, no qual propunha uma abordagem nova, centrada na formação e protagonismo dos próprios africanos, com o envolvimento de toda a Igreja.
O Plano para a Regeneração da África
Em 1864, Daniel Comboni publicou o seu plano missionário, propondo que a evangelização da África deveria passar pela formação de catequistas, sacerdotes e religiosas africanas. Acreditava que os africanos não eram apenas destinatários da missão, mas verdadeiros protagonistas da sua própria evangelização e desenvolvimento.
Esse plano envolvia também o envolvimento de toda a Igreja europeia, incluindo bispos, religiosos e leigos, na oração, no apoio económico e na sensibilização para a missão africana. A proposta foi bem acolhida por muitos sectores da Igreja, tornando-se um marco na reflexão missionária da época.
Fundador e bispo missionário
Em 1867, fundou o Instituto dos Missionários do Coração de Jesus (hoje conhecidos como Missionários Combonianos), e, alguns anos mais tarde, em 1872, fundou também o ramo feminino, as Irmãs Missionárias Combonianas, com o mesmo carisma de entrega total ao serviço dos povos africanos.
O Papa Pio IX nomeou Comboni como vigário apostólico da África Central e, mais tarde, em 1877, foi ordenado bispo do Sudão. Foi o primeiro bispo missionário daquela região, com sede em Cartum, e tornou-se defensor incansável dos direitos dos africanos, denunciando o tráfico de escravos, a exploração colonial e a indiferença de muitos para com os sofrimentos daquele povo.
Morte e legado
São Daniel Comboni morreu em Cartum, no Sudão, a 10 de outubro de 1881, aos 50 anos, esgotado pelo trabalho, pelas doenças e pelas dificuldades da missão. As suas últimas palavras foram: “Eu morro, mas a minha obra não morrerá”.
De facto, a sua obra não morreu. O carisma comboniano espalhou-se por vários continentes, especialmente em África, Europa e América Latina. Os missionários e missionárias combonianos continuam a trabalhar junto dos povos mais pobres e esquecidos, sempre com o lema herdado do fundador: “Salvar a África com a África”.
Canonização
Daniel Comboni foi beatificado por São João Paulo II em 1996 e canonizado a 5 de outubro de 2003, na Praça de São Pedro, em Roma. O Papa reconheceu-o como verdadeiro apóstolo da África, exemplo de ardor missionário, respeito pelas culturas e compromisso pela justiça.
Festa litúrgica
A Igreja celebra a memória de São Daniel Comboni a 10 de outubro, data da sua morte, considerada o seu nascimento para o Céu. É especialmente venerado em Itália, no Sudão e nos países onde os Combonianos estão presentes.
Conclusão
São Daniel Comboni foi um pioneiro da missão moderna, um santo visionário e profundamente humano. A sua vida é exemplo de amor sem fronteiras, de dedicação ao próximo e de confiança total em Deus. O seu testemunho interpela a Igreja a sair de si mesma e a levar o Evangelho às periferias do mundo com coragem, compaixão e esperança.