O que é a concupiscência? Qual a sua origem e implicações na vida cristã

A concupiscência é um conceito teológico fundamental na doutrina cristã, especialmente dentro da tradição católica. Refere-se à inclinação humana ao pecado, que é uma consequência direta do pecado original. Este artigo oferece uma visão detalhada sobre o que é a concupiscência, a sua origem bíblica, como ela afeta a vida dos fiéis e como a Igreja ensina a lidar com essa realidade na caminhada cristã.

O que é concupiscência?

Concupiscência é um termo teológico que se refere ao desejo desordenado ou inclinação ao pecado. É uma tendência inerente ao ser humano de procurar prazer ou satisfação de formas que são contrárias à vontade de Deus. Embora a concupiscência não seja um pecado em si, ela é a raiz de muitas tentações e, se não for controlada, pode levar ao pecado.

A palavra “concupiscência” vem do latim concupiscentia, que significa “desejo intenso” ou “cobiça”. Na tradição cristã, esse desejo é visto como desordenado porque se afasta do plano original de Deus para a humanidade. A concupiscência pode manifestar-se de várias formas, como o desejo excessivo por prazeres sexuais, poder, riqueza ou outros bens terrenos.

Origem da concupiscência: O Pecado Original

A concupiscência tem origem no pecado original, que é o estado de alienação de Deus em que toda a humanidade encontra-se desde a queda de Adão e Eva. De acordo com a narrativa bíblica em Génesis, Adão e Eva desobedeceram a Deus ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que resultou na sua expulsão do Jardim do Éden e a introdução do pecado no mundo (Génesis 3).

Antes da queda, o ser humano possuía uma harmonia interior, onde os desejos e paixões estavam perfeitamente ordenados e subordinados à razão e à vontade de Deus. Com o pecado original, essa harmonia foi rompida e a concupiscência surgiu como uma desordem interna, uma inclinação para procurar satisfação fora do plano de Deus.

A doutrina do pecado original, especialmente no ensino de Santo Agostinho, destaca que todos os seres humanos nascem com essa inclinação ao pecado, herdada de Adão e Eva. O batismo remove o pecado original e reconcilia-nos com Deus, mas a concupiscência permanece, deixando-nos vulneráveis à tentação.

Tipos de concupiscência

A tradição cristã, especialmente a católica, identifica três tipos principais de concupiscência, cada um relacionado a uma área diferente da vida humana:

  • Concupiscência da Carne: Refere-se ao desejo desordenado por prazeres sensuais e corporais, especialmente os relacionados à sexualidade. Esta forma de concupiscência pode levar a pecados como a luxúria, a gula e a preguiça.
  • Concupiscência dos Olhos: Relaciona-se ao desejo excessivo por posses materiais e à cobiça pelo que pertence aos outros. Pode levar a pecados como a avareza, a inveja e o roubo.
  • Soberba da Vida: Refere-se ao desejo desordenado por poder, status ou glória. Este tipo de concupiscência pode levar a pecados como o orgulho, a vaidade e a ambição desmedida.

Essas três formas de concupiscência são mencionadas na Primeira Carta de João 2:16, que adverte contra “o desejo da carne, o desejo dos olhos e a soberba da vida“, os quais não provêm do Pai, mas do mundo.

Concupiscência e pecado

É essencial distinguir entre concupiscência e pecado. A concupiscência, por si só, não é pecado, mas sim uma condição ou estado que nos predispõe ao pecado. O pecado ocorre quando uma pessoa cede deliberadamente aos desejos desordenados da concupiscência, escolhendo agir de maneira contrária à vontade de Deus.

São Tiago explica esse processo na sua carta: “Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e seduz. Em seguida, a concupiscência, tendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tiago 1:14-15). Aqui, Tiago ilustra como a concupiscência pode levar ao pecado se não for controlada e vencida pela graça de Deus.

A luta contra a concupiscência

A Igreja Católica ensina que, embora a concupiscência permaneça após o batismo, os fiéis não estão sozinhos na luta contra ela. A graça de Deus, especialmente através dos sacramentos, dá força para resistir às tentações e ordenar nossos desejos de acordo com a vontade divina.

  • Batismo: Embora não elimine a concupiscência, o batismo remove o pecado original e infunde na alma a graça santificante, que ajuda a pessoa a lutar contra a inclinação ao pecado.
  • Confissão: O sacramento da reconciliação é uma importante fonte de graça para superar os pecados cometidos devido à concupiscência. A confissão regular fortalece a alma e dá as ferramentas necessárias para resistir às tentações futuras.
  • Eucaristia: A Eucaristia, que é o corpo e sangue de Cristo, nutre a alma e fortalece-a contra as inclinações desordenadas, ajudando os fiéis a viver em santidade.
  • Oração e Mortificação: A oração constante e as práticas de mortificação, como jejum e abstinência, também são meios importantes de lutar contra a concupiscência. Elas ajudam a subordinar as paixões à razão e à vontade de Deus.

Concupiscência na vida quotidiana

A concupiscência manifesta-se de várias maneiras na vida quotidiana e cada cristão é chamado a enfrentá-la de maneira diferente, dependendo das circunstâncias pessoais e vocação. No entanto, existem desafios comuns que a concupiscência traz e oportunidades que ela oferece para o crescimento espiritual.

  • No Ambiente Sexual: Numa cultura que frequentemente exalta o prazer sexual e coloca-o acima dos valores morais, a concupiscência da carne pode ser um desafio constante. A castidade, tanto dentro quanto fora do matrimónio, é um meio importante de ordenar a sexualidade segundo o plano de Deus.
  • Na Vida Material: A concupiscência dos olhos manifesta-se no desejo por riqueza, bens materiais e status social. A prática da simplicidade voluntária e da generosidade é uma maneira de combater essa forma de concupiscência.
  • Na Ambição Pessoal: A soberba da vida pode manifestar-se no desejo de poder e reconhecimento. A humildade, a serviço dos outros e o reconhecimento da própria dependência de Deus são formas de resistir a essa inclinação.

Apesar dos desafios, a concupiscência também oferece oportunidades para crescer em virtude. Cada tentação superada fortalece a vontade e aproxima a pessoa de Deus, contribuindo para a santificação pessoal.

Perspectiva escatológica da concupiscência

Na perspectiva escatológica cristã, a concupiscência é vista como uma condição temporária da vida terrena. Na vida eterna, a concupiscência será completamente superada, e os fiéis viverão em plena comunhão com Deus, livres de qualquer inclinação ao pecado. A esperança cristã é que, através da fidelidade a Deus e da luta constante contra o pecado nesta vida, os fiéis alcançarão a vitória final sobre a concupiscência e participarão da glória de Deus no Céu. Esta esperança é uma fonte de força e consolo na luta diária contra as inclinações desordenadas.

Conclusão

A concupiscência é uma realidade inescapável na vida humana após a queda, mas não é um destino inevitável. Compreender a sua natureza e origem, e utilizar os meios de graça que Deus providenciou, permite que os cristãos combatam eficazmente essa inclinação ao pecado. Embora seja um desafio constante, a luta contra a concupiscência é também uma oportunidade de crescimento espiritual, levando os fiéis a uma maior dependência de Deus e à procura pela santidade. Ao manter o foco em Cristo e na Sua obra redentora, cada cristão pode vencer as tentações e viver de acordo com a vontade divina, preparando-se para a vida eterna onde a concupiscência não terá mais lugar.

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