O Santuário de Nossa Senhora de Fátima é, sem dúvida, um dos lugares marianos mais importantes do mundo. Ao longo das décadas, inúmeros Papas manifestaram o seu amor e devoção à Virgem Maria de Fátima, oferecendo-lhe gestos de ternura e reconhecimento espiritual. Entre esses gestos destacam-se as quatro “Rosas de Ouro” concedidas ao Santuário pelos Papas Paulo VI, Bento XVI e Francisco — distinções raras e profundamente simbólicas, que atestam a importância universal da mensagem de Fátima na vida da Igreja.
O que é a Rosa de Ouro
A Rosa de Ouro é uma distinção pontifícia concedida pelo Papa, símbolo de amor, devoção e estima. Historicamente, esta oferenda é uma honraria honorífica e espiritual, outorgada a santuários marianos, catedrais, soberanos católicos ou figuras de destaque, como sinal da benevolência do Pontífice.
O costume remonta à Idade Média, com registos já no século XI, quando o Papa Leão IX (1049–1054) ofereceu a primeira Rosa de Ouro conhecida. Tradicionalmente, a rosa é confeccionada em ouro maciço, benzida pelo Papa no quarto domingo da Quaresma (Domingo Laetare), e simboliza a alegria espiritual em meio à penitência.
A rosa representa Cristo ressuscitado e a Virgem Maria, unindo o perfume das virtudes, a beleza da fé e o esplendor da graça divina. É, assim, um gesto de gratidão e veneração.
A importância do santuário foi enfatizada pela Santa Sé a 21 de novembro de 1964, quando o Papa Paulo VI, no encerramento da terceira sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II, anunciou a concessão da Rosa de Ouro ao Santuário de Fátima.
A Primeira Rosa de Ouro — Papa Paulo VI (1965)
A primeira Rosa de Ouro atribuída ao Santuário de Fátima foi oferecida pelo Papa São Paulo VI, em 13 de maio de 1965, por ocasião da celebração do 48.º aniversário das aparições e do encerramento do Concílio Vaticano II (1962–1965).
O Papa Paulo VI, profundamente mariano, não pôde deslocar-se a Fátima naquele ano, mas enviou o Cardeal Fernando Cento, então Legado Pontifício, para representar o Santo Padre. Durante a celebração solene, a Rosa de Ouro foi depositada aos pés da imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, como expressão da gratidão da Igreja pela proteção da Virgem sobre o Concílio e sobre o mundo.
O Papa, na mensagem que acompanhou a oferta, expressou o desejo de que a rosa fosse um “símbolo da ternura e da confiança filial da Igreja para com a Mãe Santíssima”, recordando que Maria é “a estrela da evangelização e a esperança dos povos”.
Esta primeira Rosa permanece no Museu do Santuário de Fátima, sendo um dos seus objetos mais venerados.
A Segunda Rosa de Ouro — Papa Bento XVI (2010)
A segunda Rosa de Ouro foi entregue pessoalmente pelo Papa Bento XVI, durante a sua peregrinação a Fátima em 12 e 13 de maio de 2010, por ocasião do 10.º aniversário da beatificação dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto.
O Papa, visivelmente emocionado, depositou a Rosa de Ouro aos pés da imagem de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições, e dirigiu-lhe estas palavras: “Ofereço-te, Mãe Santíssima, a Rosa de Ouro como sinal de gratidão do Papa e de toda a Igreja pela tua presença materna e constante.”
A rosa entregue por Bento XVI é uma obra de arte de grande valor simbólico e espiritual. A peça foi concebida em ouro maciço, repousando sobre uma base em prata, e apresenta três ramos — símbolo da Santíssima Trindade e do amor que brota do coração da Igreja.
Esta visita de Bento XVI reforçou ainda mais o vínculo entre o Papado e o Santuário de Fátima, com o Papa sublinhando que “a esperança tem futuro, porque Deus está connosco e Maria nos guia”.
A Terceira Rosa de Ouro — Papa Francisco (2017)
A terceira Rosa de Ouro foi oferecida pelo Papa Francisco, durante a peregrinação de 12 e 13 de maio de 2017, quando se celebrou o Centenário das Aparições de Nossa Senhora de Fátima e a canonização de São Francisco Marto e Santa Jacinta Marto.
Francisco foi o quarto Papa a visitar Fátima e o terceiro a oferecer esta singular distinção. No momento solene da entrega, o Santo Padre depositou a Rosa de Ouro aos pés da Virgem, em silêncio orante, num gesto de profunda humildade e devoção.
A peça, ricamente trabalhada, é também em ouro maciço, e o Papa quis que representasse “o amor e a devoção do Povo de Deus, que reconhece em Maria o rosto da ternura divina”.
O Papa Francisco, em Fátima, chamou Maria de “Mulher vestida de sol” e destacou que, através dela, “a luz de Deus brilha mesmo nas noites mais escuras da história”.
A Quarta Rosa de Ouro — Papa Leão XIV (2025)
O Santuário de Nossa Senhora de Fátima recebeu a quarta Rosa de Ouro, oferecida pelo Papa Leão XIV, na cerimónia realizada a 11 de outubro de 2025, no âmbito do Jubileu da Espiritualidade Mariana, que contou com a presença da imagem venerada na Capelinha das Aparições em Roma.
Esta Rosa, confecionada pela empresa Diego Serpone, de Nápoles, foi oferecida no início da vigília de oração na Praça de São Pedro, como gesto devocional ritual. A distinção, concedida em reconhecimento da especial benevolência papal para com o Santuário e os serviços prestados à Igreja, junta-se às três anteriores.
O significado das quatro Rosas de Ouro
A concessão de quatro Rosas de Ouro ao Santuário de Fátima é um facto singular, sem paralelo na história recente da Igreja. Nenhum outro santuário mariano recebeu tantas distinções deste tipo, o que atesta o reconhecimento universal do papel de Fátima na espiritualidade contemporânea e na missão da Igreja.
Cada Rosa marca um momento distinto da vida da Igreja e da humanidade:
- A primeira (1965), símbolo de gratidão pela proteção mariana sobre o Concílio Vaticano II;
- A segunda (2010), sinal de esperança no novo milénio e homenagem aos Pastorinhos;
- A terceira (2017), expressão do amor filial da Igreja no centenário das aparições.
- A quarta (2025), distinção pelos serviços prestados à Igreja.
Conclusão
As Rosas de Ouro oferecidas a Nossa Senhora de Fátima não são apenas preciosos objetos litúrgicos — são símbolos vivos do amor, da fé e da esperança que ligam o povo cristão à Mãe de Deus.
De Paulo VI a Francisco, passando por Bento XVI, a tradição destas ofertas revela a constância da devoção mariana no coração da Igreja, e a convicção de que Maria continua a guiar o mundo para Cristo.
No brilho silencioso das Rosas de Ouro, depositadas aos pés da Virgem, ecoa a oração de milhões de peregrinos: “Santa Maria de Fátima, Mãe da Igreja e da Esperança, mostra-nos Jesus, fruto bendito do teu ventre.”