Neste dia, em 1943, o Vaticano era atingido por bombas durante a Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Cidade do Vaticano foi atingida em pelo menos dois episódios distintos, embora sem vítimas fatais conhecidas, o que provocou danos patrimoniais e levantou questões sobre neutralidade, proteção de bens religiosos e ação pastoral do Papa Pio XII.

O Vaticano sob ataque

Primeiro bombardeamento: 5 de novembro de 1943

Por volta das 20h05 da noite de 5 de novembro de 1943, um avião não identificado lançou cinco bombas de tamanho médio que atingiram os Jardins do Vaticano, ao lado dos muros em frente à colina Gianicolo. As bombas aéreas explodiram na estação de comboios do Vaticano, no laboratório de mosaicos, ao lado da Basílica de São Pedro e numa parte do Palácio Governatorato que era então destinado a fins residenciais. A quinta bomba não explodiu.

Os danos materiais foram significativos: paredes atingidas, vidros da cúpula de São Pedro quebrados, danos num estúdio ou oficina de mosaicos, e prejuízos nos jardins vaticanos e nos muros papais.

O objetivo provável era interromper a transmissão da Rádio Vaticano, que estava ativa nas comunicações durante a guerra. Não houve vítimas humanas confirmadas.

Segundo bombardeamento: 1 de março de 1944

No dia 1 de março de 1944, o Vaticano foi novamente bombardeado, desta vez por aviões alemães. Seis bombas foram lançadas sobre a Praça de São Dâmaso e áreas adjacentes externas ao perímetro pontifício. Novamente, não há registos de mortes, mas os danos foram principalmente materiais e provocaram medo entre residentes e entre aqueles dentro das muralhas.

Os bombardeamentos de Roma

Roma sofreu vários outros bombardeamentos, com danos pessoais e materiais profundos.

A 19 de julho de 1943, um dos ataques mais destrutivos em Roma, o bairro de San Lorenzo, próximo à estação ferroviária de Tiburtino, foi severamente bombardeado pelos Aliados, causando cerca de 3.000 mortes e muitos feridos.

Depois, a 13 de agosto de 1943, novamente San Lorenzo e outras áreas foram atacadas, com grandes danos civis, exatamente no momento em que estava previsto que se celebrasse uma Missa e uma procissão pelos falecidos de 19 de julho.

A reação do Papa Pio XII

Na noite do bombardeamento de San Lorenzo, às 17h20, quando Roma ainda sofria com os ataques, Pio XII, em conjunto com estava Dom Giovanni Battista Montini, futuro papa Paulo VI, saiu do Vaticano para estar entre o povo, para consolar os que estavam nos escombros. Ele percorreu ruas destruídas, perguntou pelas vítimas, confortou as famílias. Esse gesto ficou marcado como uma demonstração de pastoreio, solidariedade e coragem.

Segundo informa o jornal ‘Avvenire’ dos bispos italianos, foi indicado que, da janela do Vaticano, o Santo Padre viu os aviões chegarem e advertiu acerca do perigo. Naquele dia Pio XII realmente ganhou o título de Defender Civitatis (defensor da cidade) que lhe seria conferido em seguida.

Referia ainda que Pio XII desafiou as circunstâncias, saindo sem escolta, algo impressionante naquele momento, antes de aproximar-se dos romanos nesta tragédia.

Depois desses ataques, Pio XII procurou interceder diplomaticamente para que Roma, seus monumentos, igrejas e população civil fossem poupados de mais destruição. Por exemplo, escreveu ao presidente americano Franklin D. Roosevelt pedindo que os Aliados evitassem bombardeios sobre Roma, sobretudo nos seus aspectos culturais e religiosos.

Impacto dos ataques

Muitos edifícios históricos, igrejas, residências e infraestruturas de transporte foram danificados ou destruídos. Os bombardeamentos causaram milhares de mortes em Roma e muitos feridos. Os efeitos psicológicos foram profundos no povo romano, que vivia sob medo constante.

O papel do Papa ao sair para consolar as vítimas, a sua presença no meio do caos, tornou-se símbolo de esperança e solidariedade. Ele personificou a Igreja que sofre com o povo, não apenas como autoridade distante.

Os ataques levantaram debates sobre a neutralidade do Vaticano, sobre a proteção legal de cidades com território religioso, e sobre os limites do bombardeio em guerra, especialmente contra alvos que afetam civis e bens de valor cultural.

Legado

Em julho de 2013, quando completou 70 anos do bombardeamento em Roma, o Papa Francisco enviou uma carta ao seu Vigário para a diocese local, Cardeal Agostino Vallini, na qual assinalava que o “venerável Pio XII, naquelas horas terríveis, aproximou-se dos seus compatriotas duramente atingidos por estes bombardeamentos. O Papa não hesitou em correr, imediatamente e sem escolta, entre os destroços ainda fumegantes do bairro de San Lorenzo, para socorrer e consolar a população aterrorizada“.

Conclusão

Os bombardeios sofridos pelo Vaticano e por Roma durante a Segunda Guerra Mundial são episódios dramáticos que ilustram a brutalidade da guerra, mas também o poder do testemunho humano. O Papa Pio XII, ainda que com críticas e controvérsias posteriores, mostrou uma liderança pastoral significativa ao consolar os afetados, pedir pela paz e tentar proteger os acrescidos valores espirituais e culturais.

Esses eventos lembram que, mesmo em tempos de destruição, a solidariedade, o cuidado com os mais vulneráveis e o apelo à misericórdia continuam sendo forças poderosas.

Partilha esta publicação:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *