O Sudário de Oviedo, também conhecido como Sudarium Domini (“Sudário do Senhor”), é uma das relíquias mais veneradas da cristandade. Trata-se de um pano de linho, com cerca de 84 cm de comprimento por 53 cm de largura, guardado desde o século VIII na Câmara Santa da Catedral de São Salvador, em Oviedo, no norte de Espanha.
Diferente do Sudário de Turim, o Sudário de Oviedo não possui imagem impressa de corpo humano, mas sim numerosas manchas de sangue e fluidos, que a tradição cristã relaciona com a Paixão de Cristo.
Referências bíblicas
O Sudário de Oviedo é associado ao pano mencionado no Evangelho de São João (20, 6-7):
“Simão Pedro entrou no sepulcro e viu as faixas de linho no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus; não estava com os panos de linho, mas enrolado num lugar à parte.”
Segundo esta tradição, o Sudarium seria o pano usado para cobrir o rosto de Jesus após a morte, antes da preparação definitiva do corpo para o sepultamento.
História do Sudário
A história documentada do Sudário de Oviedo é longa e cheia de peripécias:
- Século I – Teria sido preservado pelos primeiros cristãos em Jerusalém.
- 614 – Durante a invasão persa à Palestina, os cristãos transferiram a relíquia de Jerusalém para Alexandria e, mais tarde, para o norte de África, fugindo das guerras.
- Século VII – O bispo São Leandro de Sevilha e depois São Isidoro de Sevilha teriam tido contacto com a relíquia.
- 711 – Com a invasão muçulmana na Península Ibérica, o Sudário foi levado para o norte da Hispânia, chegando a Oviedo por volta de 718, pelas mãos do rei asturiano Pelágio.
- Século IX – O rei Afonso II, o Casto, mandou construir a Câmara Santa na Catedral de Oviedo para guardar a relíquia.
- Desde então, o Sudário nunca mais saiu da cidade.
Descrição e características
O pano apresenta:
- Manchas extensas de sangue humano do tipo AB, o mesmo identificado no Sudário de Turim e em outros milagres eucarísticos.
- Traços de soro, fluidos e sangue na região correspondente ao nariz e boca, indicando que foi usado para cobrir o rosto de uma pessoa que sofreu asfixia e trauma grave na zona da cabeça.
- Marcas de dobras e desgaste pelo longo tempo de conservação.
Curiosamente, não existe imagem corpórea como no Sudário de Turim, mas apenas manchas biológicas.
Relação com o Sudário de Turim
Diversos estudos forenses, comparando o Sudário de Oviedo e o Sudário de Turim, apontam para uma notável compatibilidade:
- O tipo de sangue (AB) é o mesmo.
- A posição e fluxo das manchas de sangue no Sudário de Oviedo correspondem ao que se esperaria no rosto do Homem do Sudário de Turim.
- A análise forense sugere que ambos os panos cobriram a mesma pessoa, em momentos diferentes: o Sudário de Oviedo teria sido colocado logo após a morte, antes da preparação fúnebre definitiva.
Assim, muitos investigadores acreditam que o Sudarium Domini é a peça complementar do Sudário de Turim, testemunhando de forma convergente a realidade da morte de Cristo.
Exposições e devoção
O Sudário de Oviedo é exposto ao público três vezes por ano:
- Sexta-feira Santa
- 14 de setembro – Festa da Exaltação da Santa Cruz
- 21 de setembro – Festa de São Mateus, padroeiro da cidade de Oviedo
Nesses dias, milhares de fiéis acorrem à Catedral de São Salvador para venerar a relíquia.
Investigação científica
Desde o século XX, o Sudário tem sido alvo de análises modernas:
- Estudos forenses confirmam a presença de sangue humano e restos de pólen provenientes da Palestina, reforçando a sua origem oriental.
- A análise do padrão de manchas sugere que o pano foi usado para enrolar e cobrir o rosto de um homem que morreu por asfixia violenta, em coerência com a crucifixão.
- Ao contrário do Sudário de Turim, nunca foi submetido ao exame de Carbono-14, evitando assim a controvérsia que envolveu a datação da peça italiana.
Significado espiritual
O Sudário de Oviedo recorda aos fiéis que o sofrimento de Cristo foi real, humano e concreto. Através dele, muitos encontram um caminho de meditação sobre:
- A Paixão de Cristo – as dores físicas e a humilhação da cruz.
- A proximidade de Deus – que não se afastou do sofrimento humano, mas partilhou-o.
- A continuidade da tradição cristã – preservada desde os primeiros séculos até hoje.
Conclusão
O Sudário de Oviedo é um tesouro espiritual que, em conjunto com o Sudário de Turim, oferece um testemunho comovente da Paixão de Jesus Cristo. Enquanto o Sudário de Turim mostra de forma misteriosa a imagem do Crucificado, o Sudarium Domini guarda os sinais mais humanos e dolorosos: o sangue e os fluidos do rosto do Senhor.
Guardado fielmente em Espanha há mais de 1.200 anos, continua a ser um símbolo de fé, de mistério e de profunda ligação entre ciência e espiritualidade.