Quais são e qual o significado das Obras de Misericórdia

As obras de misericórdia são ações e práticas que o Cristianismo espera que todos os cristãos executem. A prática é comumente atribuída pela Igreja Católica como um ato tanto de penitência quanto de caridade. Adicionalmente, ensina que as obras de misericórdia são um dos meios de receber a Graça Divina, causa da santificação.

O exercício das Obras de misericórdia comunica graças a quem as exerce. No evangelho de São Lucas Jesus diz: “Dai, e ser-vos-á dado”. Por isso, com as Obras de misericórdia fazemos a vontade de Deus, damos algo que é nosso aos outros e o Senhor promete que nos dará também a nós aquilo de que necessitamos. Por outro lado, as boas obras servem como um modo de ir apagando a pena que fica na alma pelos nossos pecados já perdoados. Boas obras são, obviamente as Obras de misericórdia.

As obras de misericórdia são tradicionalmente divididas em duas categorias, com sete elementos cada: as obras de misericórdia corporais, dizem respeito às necessidades materiais do outro e as obras de misericórdia espirituais que dizem respeito às necessidades espirituais.

As Obras de Misericórdia Corporais

As obras de misericórdia corporais são aquelas que atendem às necessidades físicas básicas dos seres humanos. Elas são inspiradas pelos ensinamentos de Jesus e exemplificam como os cristãos devem cuidar uns dos outros, especialmente daqueles que são mais vulneráveis.

As Obras de misericórdia corporais encontram-se, na sua maioria, numa lista enunciada pelo Senhor na descrição do Juízo Final. São Mateus apresenta a narração do Juízo Final (Mt 25, 31-36): Naquele tempo Jesus disse aos seus discípulos: “Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos. O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.(…)’”

As sete obras de misericórdia corporais são:

  • Dar de comer a quem tem fome
  • Dar de beber a quem tem sede
  • Vestir os nus
  • Dar abrigo aos peregrinos
  • Visitar os doentes
  • Visitar os presos
  • Enterrar os mortos

Dar de comer a quem tem fome
Esta obra de misericórdia nos chama a alimentar aqueles que não têm comida suficiente para satisfazer as suas necessidades básicas. Ela reflete a preocupação de Jesus pelos famintos, como demonstrado em passagens bíblicas como a multiplicação dos pães e dos peixes (Mateus 14:13-21). Num mundo onde a fome ainda é uma realidade para muitos, esta obra convida-nos a apoiar iniciativas que visam combater a insegurança alimentar, como bancos de alimentos, cozinhas comunitárias, e programas de alimentação escolar. Além disso, os cristãos podem contribuir diretamente fornecendo alimentos para os necessitados ou participando de programas de voluntariado.

Dar de beber a quem tem sede
Dar de beber a quem tem sede implica fornecer água e outras necessidades líquidas para aqueles que estão privados desse recurso vital. Jesus falou sobre a importância de dar até mesmo “um copo de água fria” a um pequenino como um ato de amor e misericórdia (Mateus 10:42). Esta obra é especialmente relevante em áreas onde o acesso à água potável é limitado. Os cristãos podem apoiar organizações que trabalham para fornecer água limpa e saneamento para comunidades necessitadas ou envolver-se em iniciativas locais para garantir o acesso a recursos hídricos seguros.

Vestir os nus
Vestir os nus significa fornecer roupas adequadas para aqueles que não têm o necessário para se cobrir e se proteger. Esta obra de misericórdia reflete o cuidado com a dignidade humana, reconhecendo a importância de condições de vida básicas para todos. Praticamente, isso pode ser feito através da doação de roupas a instituições de caridade, organizações comunitárias ou diretamente para indivíduos necessitados. Além disso, os cristãos podem organizar campanhas de arrecadação de roupas nas suas comunidades ou paróquias.

Dar abrigo aos peregrinos
Esta obra de misericórdia envolve acolher estranhos e oferecer hospitalidade, especialmente para aqueles que são desabrigados, refugiados ou migrantes. A Bíblia contém vários exemplos de hospitalidade, como Abraão acolhendo os três anjos (Génesis 18:1-8) e a chamada de Jesus para receber os estrangeiros como se fossem Ele próprio (Mateus 25:35). Os cristãos podem praticar esta obra oferecendo hospitalidade nas suas próprias casas ou apoiando organizações que ajudam refugiados, migrantes e sem-teto. Envolver-se em esforços locais para melhorar o acesso à moradia também é uma forma concreta de viver esta obra.

Visitar os doentes
Visitar os doentes é uma obra de misericórdia que enfatiza a presença compassiva com aqueles que estão a sofrer devido a doenças físicas ou mentais. Jesus muitas vezes demonstrou compaixão e cura para os doentes, mostrando a importância de cuidar dos enfermos (Marcos 1:29-34). Esta obra pode ser realizada visitando hospitais, lares de idosos ou até mesmo os próprios lares dos enfermos. O apoio pode incluir orações, conversas ou qualquer forma de presença que traga conforto e esperança.

Visitar os presos
Visitar os presos envolve proporcionar apoio moral e espiritual aos encarcerados. Jesus menciona explicitamente essa obra em Mateus 25:36, demonstrando que a compaixão deve estender-se a todos, incluindo aqueles que cometeram crimes. Os cristãos podem envolver-se em ministérios prisionais, oferecendo apoio espiritual, assistência jurídica ou serviços de reabilitação. Enviar cartas de encorajamento ou fornecer materiais de leitura também são formas práticas de apoiar os presos.

Enterrar os mortos
Enterrar os mortos é uma obra de misericórdia que reflete respeito pela dignidade humana mesmo após a morte. Esta prática tem raízes profundas nas tradições judaico-cristãs, destacando a importância de tratar os falecidos com respeito e cuidado. Os cristãos podem ajudar a cobrir os custos de funeral para famílias necessitadas, participar de serviços funerários e oferecer apoio às famílias enlutadas. Esta obra de misericórdia também pode envolver o cuidado com os cemitérios e locais de descanso final dos falecidos.

As Obras de Misericórdia Espirituais

As obras de misericórdia espirituais concentram-se em atender às necessidades emocionais, psicológicas e espirituais das pessoas. Elas ajudam a guiar, confortar e fortalecer espiritualmente aqueles que estão em necessidade. As sete obras de misericórdia espirituais são:

  • Dar bons conselhos
  • Ensinar os ignorantes
  • Corrigir os que erram
  • Consolar os aflitos
  • Perdoar as ofensas
  • Suportar com paciência as fraquezas do próximo
  • Rezar pelos vivos e pelos mortos

Dar bons conselhos
Dar bons conselhos envolve ajudar aqueles que estão em dúvida ou incerteza, oferecendo orientação e esclarecimento. Isso é essencial para fortalecer a fé e encorajar uma compreensão mais profunda dos ensinamentos de Cristo. Os cristãos podem praticar esta obra oferecendo conselhos baseados na fé a amigos, familiares ou membros da comunidade que estão enfrentando dúvidas ou crises espirituais. Participar de grupos de estudo bíblico ou de orientação espiritual também é uma forma de ajudar a esclarecer as dúvidas de outros.

Ensinar os ignorantes
Ensinar os ignorantes é sobre educar aqueles que não têm conhecimento da fé cristã ou dos princípios morais básicos. Jesus frequentemente ensinava as multidões, e esta obra continua essa missão de partilhar o Evangelho e educar os outros. Os cristãos podem envolver-se no ensino da catequese, ajudar em escolas paroquiais ou oferecer orientação a novos convertidos. Partilhar o conhecimento da fé e da moralidade cristã com os outros é uma forma poderosa de cumprir esta obra de misericórdia.

Corrigir os que erram
Corrigir os que erram envolve corrigir aqueles que estão em erro ou que vivem em pecado, sempre com o objetivo de ajudá-los a regressar ao caminho certo. Esta obra é uma expressão de amor e preocupação genuína pelo bem-estar espiritual dos outros. Esta obra requer discernimento e compaixão. Os cristãos podem oferecer correção fraterna quando necessário, sempre procurando o bem da pessoa e evitando julgamentos severos ou condenatórios. Encorajar a confissão e a reconciliação também faz parte desta obra.

Consolar os aflitos
Consolar os aflitos é estar presente e oferecer apoio àqueles que estão a sofrer emocional ou espiritualmente. Jesus é conhecido como o consolador, e os seus seguidores são chamados a imitar essa compaixão e empatia. Os cristãos podem praticar esta obra ao prestar apoio emocional, seja através de palavras de encorajamento, escuta ativa ou simplesmente estando presentes para aqueles que estão enfrentando dificuldades ou perdas.

Perdoar as ofensas
Perdoar as ofensas significa libertar o ressentimento e conceder perdão àqueles que nos ofenderam. Este é um princípio central da mensagem cristã, refletindo o perdão que Deus concede aos pecadores arrependidos. Perdoar pode ser difícil, mas é essencial para a vida cristã. Os cristãos são chamados a perdoar incondicionalmente, lembrando-se das palavras de Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Praticar o perdão diário e reconciliar-se com os outros são formas de viver esta obra.

Suportar com paciência as fraquezas do próximo
Suportar com paciência as fraquezas do próximo é sobre aceitar e amar os outros, mesmo quando são difíceis de lidar ou têm falhas que nos incomodam. Essa obra reflete a paciência infinita de Deus connosco. Os cristãos podem praticar esta obra demonstrando paciência e compreensão nas suas relações quotidianas, especialmente quando lidam com pessoas que são difíceis ou que testam a sua paciência. A empatia e a compaixão são chaves para suportar com amor as fraquezas alheias.

Rezar pelos vivos e pelos mortos
Rezar pelos vivos e pelos mortos é uma obra de misericórdia que enfatiza a intercessão contínua por todas as almas. A oração é um ato poderoso de amor que transcende o tempo e o espaço, ligando os vivos e os falecidos no corpo místico de Cristo. Os cristãos podem incluir nas suas orações diárias intercessões pelos vivos e pelos falecidos. Participar de missas, oferecer novenas ou orações específicas, e lembrar-se de entes queridos falecidos com missas de intenção são formas de praticar esta obra de misericórdia.

Conclusão

As obras de misericórdia são uma expressão prática e vital da fé cristã, refletindo o amor de Deus pelo mundo. Elas lembram-nos que a fé sem obras é morta (Tiago 2:26) e que o amor ao próximo é uma expressão tangível do amor a Deus. Vivendo estas obras, os cristãos não só seguem os ensinamentos de Jesus, mas também contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, compassiva e amorosa. As obras de misericórdia desafiam-nos a sair de nós mesmos e a encontrar Cristo nos outros, especialmente nos mais necessitados, e a transformar o mundo através de atos concretos de amor e compaixão.

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