Foi a 15 de outubro de 1582 que foi introduzido o calendário gregoriano, que utilizamos atualmente em quase todo o mundo, foi introduzido em 1582 pelo Papa Gregório XIII. A sua criação foi um marco na história da contagem do tempo, pois visava corrigir imperfeições do calendário juliano, que estava em uso desde o ano 46 a.C.
Contexto Histórico: O Calendário Juliano e os Seus Problemas
Antes da introdução do calendário gregoriano, o mundo ocidental seguia o calendário juliano, estabelecido por Júlio César em 46 a.C. Este calendário tinha um ano de 365 dias com um dia extra (ano bissexto) a cada quatro anos, totalizando 366 dias. Essa era uma tentativa de alinhar o calendário civil com o ano solar, o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa ao redor do Sol, que é aproximadamente 365,2422 dias.
No entanto, o calendário juliano continha um pequeno erro de cerca de 11 minutos e 14 segundos a mais por ano. Embora esse desvio parecesse insignificante, ao longo dos séculos, começou a acumular-se, resultando num desfasamento de 10 dias entre o calendário civil e o ano solar. Isso criou um problema particularmente para a Páscoa, que deveria ser celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera, mas estava gradualmente a ser deslocada para mais tarde.
A Relevância da Páscoa
A principal razão pela qual a Igreja Católica envolveu-se na reforma do calendário foi para garantir que as celebrações religiosas, como a Páscoa, ocorressem na data correta. A Páscoa era (e continua a ser) a festa mais importante do cristianismo, comemorando a ressurreição de Cristo. O deslocamento das datas no calendário juliano causava confusão sobre o início da Primavera e, consequentemente, sobre a data correta da Páscoa.
A Reforma do Calendário: A Comissão de Astrónomos e Matemáticos
No século XVI, a discrepância entre o calendário civil e o ano solar era de grande preocupação para a Igreja Católica, especialmente no Concílio de Trento (1545–1563), que tratou de várias reformas internas. No entanto, foi apenas sob o Papa Gregório XIII que a questão do calendário foi resolvida.
Gregório XIII, percebendo a necessidade de uma reforma, nomeou uma comissão de especialistas, liderada pelo astrónomo e matemático italiano Aloysius Lilius, que sugeriu um novo sistema para corrigir o erro acumulado. Após a morte de Lilius, o seu colega jesuíta Christoph Clavius aperfeiçoou as ideias e ajudou na implementação do novo calendário.
A Solução Proposta
A proposta de Lilius e Clavius consistia em duas partes principais:
- Eliminar 10 dias do calendário para corrigir o desfasamento acumulado ao longo dos séculos.
- Modificar o cálculo dos anos bissextos para garantir que o calendário permanecesse alinhado com o ano solar no futuro. No novo sistema, os anos bissextos continuariam a ocorrer a cada quatro anos, exceto nos anos múltiplos de 100, a menos que fossem também divisíveis por 400. Isso significa que o ano 1600 foi bissexto, mas o ano 1700 não foi.
A Introdução do Calendário Gregoriano
Em 24 de fevereiro de 1582, o Papa Gregório XIII promulgou a bula “Inter Gravissimas”, que introduziu oficialmente o calendário gregoriano. Para corrigir o erro de 10 dias acumulado no calendário juliano, foi ordenado que o dia 4 de outubro de 1582 fosse seguido imediatamente pelo dia 15 de outubro de 1582, eliminando assim 10 dias do calendário.
O novo calendário também ajustava a data da Páscoa, que seria calculada com base numa nova fórmula astronómica, garantindo que a celebração continuasse a ocorrer na primavera.
Curiosidade: A Reação Popular ao Corte de 10 Dias
Um dos aspetos mais curiosos da introdução do calendário gregoriano foi a reação do povo ao súbito desaparecimento de 10 dias. Na maioria dos países católicos, as pessoas acordaram no dia 15 de outubro de 1582, sentindo que “perderam” 10 dias das suas vidas. Em alguns lugares, especialmente em zonas rurais, as pessoas ficaram confusas e preocupadas com o impacto que isso poderia ter nas colheitas e nas suas vidas quotidianas.
Adoção do Calendário Gregoriano pelo Mundo
Embora o calendário gregoriano tenha sido imediatamente adotado pelos países católicos, como Itália, Espanha, Portugal e França, a sua aceitação nos países protestantes e ortodoxos foi muito mais lenta, e em alguns casos, resistida. Muitos países viram o calendário como uma imposição religiosa e política da Igreja Católica, especialmente porque o Papa Gregório XIII estava no centro da reforma.
Adoção na Europa Protestante
Na Inglaterra e nos territórios sob domínio britânico, o calendário gregoriano só foi adotado em 1752, quase 170 anos após a introdução original. Naquela época, o desfasamento entre os calendários juliano e gregoriano era de 11 dias, que foram também eliminados. Essa transição foi recebida com alguma oposição popular e protestos, com alguns grupos exigindo “a devolução dos seus 11 dias perdidos”.
Adoção na Europa Ortodoxa
Os países da Europa Oriental, de tradição ortodoxa, também foram relutantes em aceitar o calendário gregoriano, dado o cisma religioso entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. Rússia, por exemplo, só adotou o calendário gregoriano após a Revolução de 1917. Isso significa que eventos históricos, como a Revolução de Outubro, que no calendário juliano ocorreu em outubro, foram celebrados no calendário gregoriano em novembro.
Adoção Global
Gradualmente, o calendário gregoriano foi adotado em quase todo o mundo. Atualmente, ele é o padrão internacional para a contagem do tempo, utilizado não apenas em contextos religiosos, mas também civis e comerciais.
Controvérsias e Impactos
A reforma do calendário gerou controvérsias tanto quando foi introduzido quanto nos séculos seguintes. Além das resistências religiosas e políticas, a mudança no calendário afetou também a forma como se registavam e interpretavam eventos históricos. Muitos acontecimentos anteriores a 1582 são datados de acordo com o calendário juliano, e a sua conversão para o calendário gregoriano pode causar confusões, especialmente em países que adotaram o calendário mais tarde.
Além disso, a introdução do calendário gregoriano refletiu a crescente influência da Igreja Católica na organização e gestão do tempo, sendo um reflexo do poder que exercia sobre a vida diária das pessoas e sobre as práticas litúrgicas.
O Calendário e a Ciência
Do ponto de vista científico, o calendário gregoriano foi uma grande melhoria em relação ao juliano, proporcionando uma forma mais precisa de calcular o tempo em relação ao movimento da Terra ao redor do Sol. No entanto, continuaram a ser feitas pequenas correções nos séculos seguintes para melhor alinhar o calendário com os eventos astronómicos, como os solstícios e equinócios.
O Calendário Gregoriano Hoje
Atualmente, o calendário gregoriano é utilizado em quase todos os países do mundo. Ele desempenha um papel central não apenas no planeamento civil e comercial, mas também nas celebrações religiosas, particularmente para a Igreja Católica. No entanto, algumas tradições ortodoxas e orientais ainda seguem o calendário juliano ou outras formas de contagem do tempo em ocasiões litúrgicas.
Conclusão
A criação do calendário gregoriano foi uma das reformas mais significativas da Igreja Católica na era moderna, com um impacto profundo na vida das pessoas e na forma como o tempo é medido até os dias de hoje. A sua introdução corrigiu um erro de séculos no cálculo do ano solar e ajudou a alinhar a celebração da Páscoa e outros eventos litúrgicos com as estações naturais. Apesar das controvérsias e resistências iniciais, o calendário gregoriano tornou-se o padrão global para a contagem do tempo, demonstrando a importância da reforma de Gregório XIII e o seu legado na história do mundo.