Neste dia, em 1752, era colocada a atual estátua do Arcanjo Miguel no Castel Sant’Angelo

O Castel Sant’Angelo, em Roma, é conhecido não apenas como um monumento histórico fortificado, mas também pelo icónico topo onde se ergue a estátua do Arcanjo Miguel. Esta estátua — e as que a precederam — tornou-se símbolo de libertação da peste, de proteção espiritual sobre a cidade e de arte e fé que atravessam os séculos.

Origens

A primitiva estrutura foi iniciada no ano 135 pelo imperador Adriano como um mausoléu pessoal e familiar, concluído por Antonino Pio em 139. O monumento, em travertino, era adornado por uma quadriga em bronze, conduzida por Adriano.

Em pouco tempo, entretanto, a sua função foi alterada, sendo utilizado como edifício militar. Nessa qualidade, passou a integrar a Muralha Aureliana em 403.

Atual designação

A lenda que funda o simbolismo da estátua conta que, no ano 590 d.C., durante uma grave epidemia de peste em Roma, o Papa Gregório I Magno (590-604) celebrou uma procissão penitencial saindo da Basílica de São Pedro, atravessando o Pons Aelius (após denominado Ponte Sant’Angelo) para o mausoléu do imperador Adriano. Conforme a tradição, naquele local teria aparecido o Arcanjo Miguel, que, empunhando uma espada, desceu para guardar os céus e depois embainhou sua espada — sinal interpretado como o fim da praga.
A partir desse momento, o mausoléu passou a ser conhecido como Castel Sant’Angelo (“Castelo do Santo Anjo”) e o topo da construção viria a abrigar sucessivas estátuas do Arcanjo Miguel, como símbolo de vigilância e salvação.

As diferentes versões da estátua e suas substituições

Ao longo dos séculos, a estátua do Arcanjo Miguel no topo do castelo foi substituída várias vezes, por motivos que vão desde deterioração aos saques e até derretimento de metais para fins militares.

Versões iniciais

A primeira versão da estátua teria sido de madeira, erguida provavelmente já no final da antiguidade ou início da Idade Média. Segundo fontes, sofreu com intempéries e ruína.

A seguir, foi substituída por uma estátua de mármore (ou mármore com asas de bronze) – por exemplo a versão de 1544 de Raffaello da Montelupo (1544) para o topo do castelo.

Em 1497, segundo cronistas, uma estátua foi atingida por relâmpago e acabou destruída, e em 1527 durante o Saque de Roma, uma estátua de bronze foi derretida para fazer-se armas ou canhões, no meio da invasão de Carlos V.

A estátua atual

A versão que hoje vemos no topo do castelo foi obra do escultor flamengo Peter Anton von Verschaffelt (1710-1793), modelada e fundida em bronze. A fonte “History of the Statue of Castel Sant’Angelo” indica que a atual estátua de bronze foi inaugurada 28 de junho de 1752.

O projeto foi encomendado em 1746 pelo Papa Bento XIV para o Jubileu de 1750. A escultura representa o Arcanjo Miguel com espada erguida ou entrando a embainhar a espada — gesto que recorda a lenda da peste terminada.

O escultor Verschaffelt foi escolhido por concurso ou designação papal da época, sendo um artista de renome no barroco, procedente da Flandres, especializado em grandes esculturas para exteriores. A substituição de mármore por bronze permitiu maior resistência ao clima e ao vento no topo do monumento, elevado acima do Rio Tevere.

Montagem e inauguração da estátua de 1752

O processo iniciou-se com a encomenda papal para substituir a velha versão deteriorada. A escolha do material bronze foi considerada estratégica para resistir às intempéries e à altura. A fundição e o transporte exigiram guindastes, cordas, roldanas e a colaboração de engenheiros do castelo — pois subir uma estátua de vários metros até o topo não era tarefa trivial.

A inauguração (ou colocação final) da estátua ocorreu a 28 de junho de 1752. Uma cerimónia simbólica contou com a presença de dignitários e uma bênção papal, que destacou o papel do Arcanjo Miguel como guardião de Roma. Após a instalação, o pé-direito e a base foram inspecionados para garantir estabilidade estrutural, e fios de metal (ancoragens) foram fixados para evitar que a estátua fosse movida pelo vento ou terremotos. Hoje ainda se percebem algumas estabilizações modernas.

Significado espiritual

A estátua encarna a ideia de defesa e libertação — o Arcanjo Miguel como vencedor do mal, guardião da Igreja, protetor da cidade de Roma. Quando olhamos para aquela figura imponente sobre o castelo, lembramo-nos da vitória de Deus sobre a peste, o mal e a ruína. A lenda do ano 590 recorda-nos que a oração do Papa Gregório I trouxe misericórdia e salvação, e a estátua resume esse evento em bronze e pedra.

Impacto histórico

A sucessão de estátuas e substituições mostra a história da cidade de Roma: as crises (pragas, saques), as mudanças de material e técnica (madeira → mármore → bronze) e a vontade institucional de manter o castelo e a estátua como símbolo.

A versão de 1752, por Verschaffelt, tornou-se ícone visual de Roma, visível de diversos pontos da cidade e do Tevere, formando parte da paisagem urbana, turística e religiosa.

Culturalmente, a estátua aparece em literatura, folclore, turismo, e é uma das imagens mais fotografadas de Roma.

Situação atual

Hoje, o Castel Sant’Angelo funciona como museu e monumento aberto ao público. A estátua do Arcanjo Miguel permanece no topo, visível de longe, e é alvo de visitas e fotografias. Internamente, ainda é possível ver versões anteriores da estátua (como a de Raffaello da Montelupo) no pátio ou nas coleções do monumento. A preservação da estátua requer manutenção periódica — limpeza, tratamento anticorrosão do bronze, verificação da estrutura metálica de suporte e proteção contra poluição atmosférica.

Conclusão

A estátua do Arcanjo Miguel no topo do Castel Sant’Angelo não é apenas uma escultura ornamental — é um símbolo vivo de fé, história e resiliência. Desde a lenda da peste de 590, passando pelas várias versões destruídas ou substituídas, até à magnífica obra de 1753 de Peter Anton von Verschaffelt, cada geração acrescentou algo à sua história. Ao visitarmos o castelo hoje e olharmos para aquele guerreiro alado sobre a cidade de Roma, somos convidados a contemplar o mistério da proteção divina, da mudança de eras e da beleza que perdura.

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