A Assunção de Nossa Senhora, a crença de que Maria, Mãe de Jesus, foi elevada de corpo e alma à glória celeste ao término da sua vida terrena, é um dos pilares da mariologia católica e um dos dogmas mais recentes proclamados pela Igreja. A sua definição solene como dogma de fé foi feita pelo Papa Pio XII, a 1 de novembro de 1950, através da constituição apostólica Munificentissimus Deus, marcando um dos momentos mais importantes do século XX para a devoção mariana e a teologia católica.
As origens da crença na Assunção
A crença na Assunção da Virgem Maria tem raízes muito antigas na tradição cristã. Já entre os séculos IV e V, surgiram textos e pregações que relatavam o “Trânsito de Maria”, isto é, a sua passagem desta vida para o Céu.
Embora não conste explicitamente nas Escrituras, a convicção de que a Mãe de Deus não poderia ter conhecido a corrupção do túmulo tornou-se um sentimento comum e espontâneo entre os fiéis.
Padres e Doutores da Igreja, como Santo João Damasceno, Santo Germano de Constantinopla e Santo André de Creta, defenderam que Maria, por ter sido preservada do pecado original e por ter dado ao mundo o Salvador, participou de modo único na Ressurreição de Cristo.
Assim, a Assunção era vista como o “coroamento da Imaculada Conceição”, o cumprimento final da missão de Maria.
A festa da Dormição ou Assunção de Nossa Senhora foi celebrada inicialmente no Oriente, sendo reconhecida em Constantinopla no século VI, e introduzida no Ocidente no século VII pelo Papa Sérgio I. Em 1950, esta tradição milenar seria finalmente confirmada como dogma de fé pela Igreja universal.
O caminho até ao dogma
No século XIX e início do século XX, a devoção mariana conheceu um forte florescimento, especialmente após a proclamação do dogma da Imaculada Conceição por Pio IX, em 1854.
Muitos teólogos e fiéis começaram a pedir à Santa Sé que declarasse também a Assunção como verdade de fé obrigatória.
Durante o pontificado de Pio XII, chegaram ao Vaticano mais de oito milhões de assinaturas de bispos, sacerdotes e leigos solicitando a definição do dogma.
Em 1946, o Papa enviou a encíclica Deiparae Virginis Mariae aos bispos do mundo inteiro, pedindo a sua opinião sobre a conveniência e a oportunidade de tal proclamação.
A resposta foi quase unânime: o povo de Deus acreditava firmemente na Assunção de Maria.
A proclamação solene
No dia 1 de novembro de 1950, festa de Todos os Santos, diante de uma multidão de mais de meio milhão de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, Pio XII proclamou solenemente o dogma da Assunção de Nossa Senhora aos Céus, nos seguintes termos:
“Declaramos, pronunciamos e definimos ser dogma divinamente revelado que:
a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste.”
(Munificentissimus Deus, n.º 44)
Com estas palavras, a Igreja confirmou oficialmente uma crença vivida durante séculos, reconhecendo que Maria já participa plenamente da glória que aguarda todos os redimidos.
A fundamentação teológica
A proclamação do dogma não surgiu de uma revelação nova, mas do sensus fidei, isto é, da fé viva e constante do povo cristão.
Teologicamente, a Assunção de Maria está intimamente ligada:
- À Imaculada Conceição — porque a ausência do pecado original implicava que o corpo de Maria não conhecesse a corrupção;
- À maternidade divina — por ter sido a Mãe do Verbo encarnado, ela foi associada de modo único ao destino do seu Filho;
- À participação na Ressurreição de Cristo — Maria é o primeiro fruto da vitória de Cristo sobre a morte, sinal e esperança da Igreja.
Assim, o dogma da Assunção é uma expressão da esperança cristã na ressurreição final, mostrando que a salvação prometida por Cristo já se realizou plenamente em Maria.
O impacto espiritual e pastoral
A definição do dogma da Assunção em 1950 teve profundo impacto no mundo católico.
Num contexto histórico de guerra e reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, Pio XII quis oferecer ao mundo um sinal de esperança e de dignidade humana redimida.
Maria, elevada ao Céu, representava o destino glorioso que Deus reserva à humanidade.
A festa da Assunção de Nossa Senhora, celebrada a 15 de agosto, tornou-se uma das solenidades mais queridas do calendário litúrgico, especialmente nas nações católicas.
Em Portugal, França, Itália e outros países, o dia é feriado religioso, marcado por procissões, peregrinações e atos de consagração mariana.
A Assunção e o Magistério posterior
Desde 1950, o magistério da Igreja tem frequentemente retomado o tema da Assunção.
O Concílio Vaticano II, na constituição dogmática Lumen Gentium (1964), reafirmou o dogma dizendo:
“A Imaculada Virgem, preservada imune de toda a mancha do pecado original, terminado o curso da sua vida terrestre, foi levada em corpo e alma à glória celeste e exaltada pelo Senhor como Rainha do Universo.” (LG, 59)
Os Papas posteriores, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, têm sublinhado o sentido escatológico da Assunção: Maria é imagem da Igreja glorificada, sinal da esperança cristã e modelo de fé.
Conclusão — A mulher vestida de sol
O dogma da Assunção de Maria é, acima de tudo, uma celebração da vitória da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado.
Em Maria, a Igreja contempla o destino de todos os que vivem em Cristo: a glorificação total, corpo e alma, junto de Deus.
A sua elevação ao Céu não é apenas um privilégio pessoal, mas uma profecia do futuro da humanidade redimida.
Como “Mulher vestida de sol” (Ap 12,1), Maria brilha como sinal de esperança e de consolação para os fiéis peregrinos na terra.
“Na Assunção de Maria, contemplamos o triunfo de Cristo e o cumprimento da promessa feita àqueles que O amam.”