O Ano da Fé de 1967 foi uma iniciativa proclamada pelo Papa Paulo VI para assinalar o 19.º centenário do martírio dos apóstolos São Pedro e São Paulo. Esta celebração teve como finalidade principal renovar a fé da Igreja, num tempo de profundas transformações após a conclusão do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Contexto histórico e religioso
Na década de 1960, a Igreja Católica vivia um período intenso de mudanças. O Concílio Vaticano II havia encerrado em 1965, deixando um vasto conjunto de documentos e orientações pastorais destinados a atualizar a vida da Igreja. Contudo, o período pós-conciliar trouxe também dúvidas, tensões e desafios teológicos, que exigiam clareza na fé.
O Papa Paulo VI, consciente desta realidade, quis convocar os fiéis a um testemunho renovado de unidade e fidelidade, promovendo um ano dedicado à reflexão e à profissão da fé católica.
A proclamação do Ano da Fé
O Ano da Fé foi anunciado por Paulo VI na carta apostólica Petrum et Paulum Apostolos, publicada a 22 de fevereiro de 1967, festa da Cátedra de São Pedro.
Este período especial decorreu de 29 de junho de 1967 (solenidade de São Pedro e São Paulo) até 30 de junho de 1968, coincidindo com as comemorações dos 1900 anos do martírio dos dois grandes apóstolos de Roma.
Os objetivos do Ano da Fé
O Papa definiu finalidades muito concretas:
- Professar publicamente a fé católica – reafirmando as verdades centrais da fé num tempo de debates teológicos intensos.
- Reforçar a unidade da Igreja – recordando a missão apostólica de Pedro e Paulo como pilares da Igreja universal.
- Reafirmar a fidelidade ao Concílio Vaticano II – aplicando as suas orientações sem cair em interpretações erróneas ou abusivas.
- Testemunhar a fé perante o mundo moderno – apresentando a Igreja como sinal de esperança e de unidade.
A Confissão de Fé de Paulo VI
Um dos momentos mais significativos do Ano da Fé foi a solene profissão da fé, realizada por Paulo VI a 30 de junho de 1968, na Praça de São Pedro, perante uma multidão de fiéis.
Conhecida como a “Credo do Povo de Deus”, esta confissão foi preparada com a colaboração do teólogo Jacques Maritain e procurou reafirmar, de forma clara e solene, as verdades fundamentais da fé católica, em continuidade com o Credo de Niceia-Constantinopla.
Entre os pontos destacados estavam:
- A fé na Santíssima Trindade
- A centralidade de Cristo como único Salvador
- A presença real de Cristo na Eucaristia
- A fidelidade à doutrina da Igreja e ao magistério do Papa
- A esperança na vida eterna
Este “Credo do Povo de Deus” tornou-se um documento histórico de grande importância, uma espécie de farol para orientar a Igreja no pós-concílio.
Celebrações e impacto pastoral
Durante o Ano da Fé de 1967-1968 realizaram-se:
- Celebrações jubilares em Roma, especialmente junto à Basílica de São Pedro.
- Peregrinações e eventos nas dioceses do mundo inteiro, convidando os fiéis a renovar a profissão de fé.
- Encontros ecuménicos, sublinhando o desejo de unidade entre os cristãos.
- Exortações pastorais que encorajavam os fiéis a viver com autenticidade a fé no quotidiano.
O legado do Ano da Fé de 1967
O Ano da Fé de 1967 ficou como um momento chave no pontificado de Paulo VI e na vida da Igreja pós-conciliar. O Credo do Povo de Deus permanece até hoje como uma referência doutrinal sólida, muitas vezes evocada pelos sucessores de Paulo VI.
Bento XVI, por exemplo, ao proclamar o Ano da Fé de 2012-2013, recordou expressamente esta iniciativa de 1967 como inspiração.
Conclusão
O Ano da Fé de 1967 foi mais do que uma comemoração histórica: representou um verdadeiro ato de coragem espiritual de Paulo VI, que, num tempo de incertezas e debates, quis reafirmar de forma clara a essência da fé católica.
Unindo a memória do martírio de São Pedro e São Paulo à renovação do Concílio Vaticano II, o Papa ofereceu à Igreja e ao mundo um testemunho luminoso da fé que permanece até hoje como um marco na história da Igreja contemporânea.