Neste dia, em 1248, a Coroa de Espinhos era depositada na Sainte-Chapelle em França

A Coroa de Espinhos de Cristo é uma das mais veneradas relíquias da Igreja. Segundo a tradição, foi colocada na cabeça de Jesus durante a Paixão, em sinal de escárnio, pelos soldados romanos. O objeto original era provavelmente formado por um feixe de ramos flexíveis, possivelmente de juncos ou de uma planta do género Ziziphus spina-christi, comum na Palestina.

Ao longo dos séculos, alguns dos espinhos foram separados e oferecidos como relíquias a diversas igrejas e mosteiros da cristandade. Porém, o anel entrelaçado de ramos sem espinhos, considerado a parte central da Coroa, foi preservado como relíquia principal.

Da Terra Santa a Constantinopla

Durante os primeiros séculos, a Coroa de Espinhos foi conservada em Jerusalém. Com as mudanças políticas e religiosas da região, a relíquia foi transferida para Constantinopla, a capital cristã do Império Bizantino.

No século X, o imperador bizantino Romano I Lecapeno mandou construir uma capela no palácio imperial para albergar a Coroa, onde permaneceu durante vários séculos como uma das maiores riquezas espirituais da cristandade oriental.

A chegada a França

No início do século XIII, a cidade de Constantinopla caiu em dificuldades financeiras e políticas. O imperador latino Balduíno II, herdeiro da cidade após a Quarta Cruzada, encontrava-se em sérias dificuldades e procurava apoio no Ocidente.

Foi então que, em 1238, o rei São Luís IX de França (1214-1270), futuro São Luís, decidiu adquirir a relíquia. O soberano francês negociou a sua compra através de Veneza, pagando uma soma avultada que equivalia quase ao orçamento anual do reino.

A Sainte-Chapelle: um relicário de luz

São Luís desejava oferecer à relíquia um lugar digno, construído especialmente para a sua guarda e veneração. Assim nasceu a magnífica Sainte-Chapelle, no coração da Île de la Cité, consagrada a 26 de abril de 1248.

A capela gótica, famosa pelos seus vitrais que inundam o espaço de luz colorida, foi concebida como um grande relicário em pedra e vidro. No seu nível superior, num trono dourado, era guardada a Coroa de Espinhos, que passou a ser o tesouro espiritual do reino francês.

A Sainte-Chapelle não era apenas um espaço religioso: simbolizava a missão de São Luís como “rei cristão”, guardião da fé e protetor das relíquias da Paixão.

Destinos posteriores da Coroa

A Coroa permaneceu na Sainte-Chapelle durante séculos, até à Revolução Francesa (1789). Nesse período conturbado, muitas relíquias foram confiscadas, mas a Coroa foi salva graças à intervenção da Igreja e de fiéis.

Em 1801, após o restabelecimento das relações entre a Igreja e o Estado francês com o Concordata de Napoleão Bonaparte, a Coroa foi entregue à Catedral de Notre-Dame de Paris, onde ficou guardada até tempos recentes.

Durante a trágica noite do incêndio de Notre-Dame em 15 de abril de 2019, a Coroa de Espinhos foi salva das chamas pelos bombeiros e pela intervenção do cónego responsável pelo tesouro da catedral. Após os restauros realizados, a Coroa regressou à Catedral em dezembro de 2024.

Espinhos em todo o mundo

Embora o anel de ramos esteja em Paris, vários espinhos individuais foram sendo oferecidos como relíquias ao longo da história. Encontram-se, entre outros locais, em:

  • Andria (Itália), onde um espinho é venerado com o prodígio que ocorre quando o dia 25 de março coincide com a Sexta-feira Santa.
  • Portugal, no Relicário do Santo Espinho na Igreja de São Roque.
  • Pisa, Florença e Roma, em igrejas que receberam relíquias durante a Idade Média.
  • Bruges e Ghent (Bélgica).
  • Londres, no tesouro da Abadia de Westminster (oferecido no período medieval).

Cada um destes espinhos é venerado como sinal do sofrimento de Cristo e da ligação da Igreja ao mistério da Paixão.

O significado espiritual

A presença da Coroa de Espinhos em França, especialmente na Sainte-Chapelle, lembra que a realeza cristã não é de poder terreno, mas de serviço, humildade e entrega. São Luís, que trouxe a relíquia para Paris, via nela não apenas um tesouro espiritual, mas também um modelo de vida: Cristo coroado de espinhos, o Rei que reina pelo amor e pelo sacrifício.

Ainda hoje, a Coroa de Espinhos continua a ser um símbolo de fé e de esperança, venerada não apenas como objeto histórico, mas como sinal vivo da entrega de Jesus por amor à humanidade.

Conclusão

Da Terra Santa a Constantinopla, de Paris à Sainte-Chapelle e finalmente a Notre-Dame, a Coroa de Espinhos percorreu séculos de história, guerras e revoluções, sem nunca perder o seu valor espiritual.

Guardada com devoção pelos cristãos de todas as épocas, continua a recordar que o caminho da cruz e do sofrimento é, na realidade, o caminho da vitória e da vida.

A Coroa de Espinhos, que uma vez feriu a fronte de Cristo, hoje brilha como sinal da esperança cristã e da fidelidade de Deus ao Seu povo.

Partilha esta publicação:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *