Os achados de Santa Helena aquando da sua peregrinação à Terra Santa

Santa Helena, também conhecida como Helena de Constantinopla, é uma das figuras mais veneradas da história cristã. Mãe do imperador Constantino, o Grande, desempenhou um papel determinante na promoção do Cristianismo no Império Romano e é recordada sobretudo pela descoberta da Vera Cruz, a cruz onde Jesus Cristo foi crucificado. O seu contributo espiritual, político e arqueológico teve repercussões profundas na tradição cristã, fazendo dela uma das santas mais queridas do Oriente e do Ocidente.

Breves dados biográficos

Santa Helena nasceu por volta do ano 248 d.C., em Bitínia (atualmente na Turquia), provavelmente de origem humilde. Foi companheira do oficial romano Constâncio Cloro, com quem teve um filho: Constantino, futuro imperador. Quando Constâncio foi elevado a césar (governador) pelo imperador Diocleciano, repudiou Helena por motivos políticos, casando com uma mulher de nobre linhagem. Helena, então, viveu durante algum tempo afastada da vida pública.

No entanto, quando Constantino se tornou imperador em 306, reabilitou a mãe, deu-lhe o título de Augusta e confiou-lhe diversas missões imperiais, especialmente de carácter religioso. Convertida ao Cristianismo, Helena tornou-se fervorosa na fé, promovendo a construção de igrejas, obras de caridade e peregrinações.

A peregrinação à Terra Santa

Por volta do ano 326 d.C., já com cerca de 80 anos, Helena empreendeu uma peregrinação à Terra Santa, patrocinada pelo seu filho Constantino. Esta viagem tinha como objetivo localizar e preservar os lugares sagrados da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, muitos dos quais tinham sido ocultados ou profanados durante a perseguição aos cristãos nos séculos anteriores.

A tradição afirma que, ao chegar a Jerusalém, Helena ordenou escavações no monte Calvário, onde se erguia um templo dedicado a Vénus, mandado construir pelo imperador Adriano como forma de apagar a memória cristã. Durante as escavações, foram descobertos os restos de três cruzes, além de pregos e outros objetos.

A descoberta da Vera Cruz

O episódio mais conhecido da peregrinação de Santa Helena é a descoberta da cruz onde Jesus teria sido crucificado, conhecida como a Vera Cruz (ou Verdadeira Cruz). Segundo a tradição, as três cruzes encontradas seriam de Jesus e dos dois ladrões crucificados com Ele. Como não havia inscrições que as distinguissem, o bispo de Jerusalém, São Macário, sugeriu um sinal divino.

Conta-se que uma mulher gravemente doente foi colocada sobre cada uma das cruzes. Ao tocar a terceira, foi instantaneamente curada, o que foi interpretado como sinal inequívoco de que se tratava da cruz de Cristo.

Este episódio foi considerado um dos acontecimentos mais marcantes da arqueologia cristã antiga e teve um enorme impacto na piedade popular.

Outros achados significativos atribuídos a Santa Helena

Além da Vera Cruz, a peregrinação de Helena resultou na descoberta ou recuperação de outras relíquias e objetos sagrados, cuja importância espiritual se mantém viva até hoje.

1. Pregos da Paixão

Juntamente com a cruz, foram encontrados pregos que se acreditam ter sido usados na crucificação. Segundo a tradição, Helena enviou alguns desses pregos a Constantinopla. Um teria sido incrustado no capacete de Constantino como símbolo de proteção divina, e outro colocado no freio do seu cavalo. Estes gestos tinham profundo simbolismo cristão: o império e a guerra agora submetiam-se à cruz de Cristo.

2. Placa da cruz (Titulus Crucis)

Foi também recuperada a placa de madeira que teria estado pregada acima da cabeça de Jesus na cruz, contendo a inscrição “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus” (INRI), em hebraico, grego e latim. Esta relíquia é conhecida como Titulus Crucis. Atualmente, encontra-se conservada na Basílica de Santa Cruz de Jerusalém, em Roma — uma igreja que, segundo a tradição, foi construída para albergar as relíquias trazidas por Helena.

3. A Santa Escada (Scala Sancta)

Santa Helena é ainda tradicionalmente associada à Escada Santa, que, segundo a tradição cristã, é a escadaria original do pretório de Pilatos, em Jerusalém, onde Jesus foi julgado e condenado à morte. Diz-se que Helena mandou transportar a escada para Roma, onde foi instalada nas proximidades da Basílica de São João de Latrão. A Scala Sancta tornou-se local de peregrinação e penitência, sendo costume subi-la de joelhos em oração.

4. O Santo Sepulcro e o Gólgota

Graças às escavações patrocinadas por Helena, foram redescobertos e delimitados os lugares do Calvário e do Santo Sepulcro — respetivamente, o local da crucificação e o túmulo onde Jesus foi sepultado. Sobre esses lugares, Constantino mandou construir a majestosa Basílica do Santo Sepulcro, inaugurada em 335 d.C., uma das igrejas mais importantes do mundo cristão até aos nossos dias.

5. A Gruta da Natividade em Belém

Durante a mesma viagem, Helena visitou Belém, onde reconheceu a gruta onde Jesus teria nascido. Sobre este local foi construída a Basílica da Natividade, uma das igrejas cristãs mais antigas ainda em uso, também patrocinada por Helena e Constantino.

O impacto dos achados de Helena

Os achados de Santa Helena marcaram profundamente a espiritualidade cristã, dando origem ao culto das relíquias, ao florescimento das peregrinações e à ligação física e emocional dos fiéis com os lugares e objetos da vida de Cristo.

A sua missão confirmou a ligação entre a fé cristã e a história concreta, e os seus achados foram considerados sinais tangíveis da verdade da encarnação e da Paixão de Jesus. Além disso, a sua ação possibilitou que Jerusalém se tornasse um centro espiritual global, meta de peregrinações ao longo de séculos.

Veneração e legado espiritual

Santa Helena morreu por volta do ano 330 d.C.. O seu corpo foi enterrado em Roma, e as suas relíquias encontram-se hoje em diversas igrejas, incluindo a Basílica de Santa Maria in Ara Coeli e a Basílica de Santa Helena. A Igreja Católica celebra a sua festa litúrgica a 18 de agosto, enquanto as Igrejas Ortodoxas a comemoram a 21 de maio, em conjunto com o seu filho Constantino.

Ela é considerada padroeira dos arqueólogos, conversos e das descobertas religiosas, e símbolo da busca espiritual dos sinais visíveis da fé.

A importância da sua missão para a Igreja

A importância de Santa Helena ultrapassa a simples descoberta de relíquias. Ela representa a união entre fé e poder político, numa época em que o Cristianismo começava a emergir como religião oficial do Império. Ao recuperar os locais santos e torná-los acessíveis aos cristãos, Helena fortaleceu a devoção cristã com base histórica e concreta, promovendo as peregrinações e fomentando o culto das relíquias como forma de aprofundar a fé.

Além disso, a sua ação contribuiu para a transformação de Jerusalém num centro de peregrinação cristã, tradição que se mantém até aos nossos dias.

Conclusão: uma mulher guiada pela fé

Santa Helena não foi apenas a mãe de um imperador. Foi, sobretudo, mãe espiritual da Igreja, pois ofereceu à Cristandade os lugares e objetos mais sagrados da sua fé. A descoberta da Vera Cruz, dos pregos da crucificação, da placa com o nome de Jesus, da Escada Santa e do próprio Santo Sepulcro representaram uma verdadeira arqueologia sagrada, que renovou a fé de gerações.

A sua ação permanece como um convite a procurar, com humildade e confiança, os sinais da presença de Cristo no mundo. E o seu exemplo lembra-nos que, mesmo a partir de uma origem modesta, é possível mudar a história quando se caminha com Deus.

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