A devoção a Nossa Senhora de Fátima é uma das mais difundidas no mundo católico e a sua imagem desempenha um papel central nessa veneração. A imagem de Nossa Senhora de Fátima, com as suas características distintas e simbólicas, não apenas representa as aparições marianas de 1917, mas também serve como um poderoso símbolo de fé, esperança e paz.
Primeira Imagem
A escultura de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que se venera na Capelinha das Aparições foi encomendada por Gilberto Fernandes dos Santos em 1919 à Casa Fânzeres, de Braga, correspondendo ao desejo dos peregrinos terem, além da Capelinha, uma imagem que pudessem identificar como sendo a da “Senhora envolta em luz” que apareceu aos três Pastorinhos em 1917.
A obra foi realizada por José Ferreira Thedim, inspirada numa imagem de Nossa Senhora da Lapa (Ponte de Lima), com pequenas modificações de pormenor, conforme o relato das videntes tal como lhe foi transmitido pelo Cónego Manuel Formigão.
Com 1,37 metros de altura e 19 quilos de peso, a escultura foi produzida em cedro do Brasil, ficando a cargo da Casa Teixeira Fânzeres, de Braga, a aplicação de policromia e de dourados. Os motivos dourados do manto são feitos com folha de ouro de 22 e 23,5 quilates. Os olhos são de vidro e no manto estão incrustadas pedras de cristal de rocha, vidro e diamante.
A Imagem foi benzida em 13 de maio de 1920 pelo pároco de Fátima, Pe. Manuel Marques Ferreira, na Igreja Paroquial, tendo sido levada para a Capelinha das Aparições em 13 de junho desse ano. Durante a noite, a Imagem era recolhida por uma zeladora (Maria Carreira, conhecida por Maria da Capelinha), razão pela qual escapou incólume ao atentado de 6 de março de 1922, que destruiu parcialmente a Capelinha. É coroada solenemente a 13 de Maio de 1946 pelo legado pontifício Cardeal Bento Aloisi Masella.
As Coroas
A imagem tem 2 coroas de prata dourada e uma coroa de pedras preciosas. A coroa principal foi oferecida pelas mulheres de Portugal, resultado de uma subscrição pública, em 13 de outubro de 1942, em ação de graças por Portugal não ter entrado na Segunda Guerra Mundial. Foi executada gratuitamente por 12 artesãos da casa Leitão & Irmão em Lisboa durante três meses. Trata-se de uma peça em ouro, com 1,2 quilos de peso, contendo 313 pérolas e 2679 pedras preciosas. É colocada apenas em dias solenes: dias 13 de maio a outubro, 15 de agosto e 8 de dezembro. Também é essa coroa que a imagem usa quando recebe os Papas ou quando vai ao Vaticano.
Contudo, porventura a sua maior preciosidade foi acrescentada em 1989, quando em 26 de abril lhe foi incrustada a bala extraída do corpo de João Paulo II, vítima de atentado na Praça de São Pedro, em Roma, em 13 de maio de 1981. O Papa, que sempre disse que uma «mão materna» desviara a trajetória do projétil, permitindo-lhe sobreviver ao atentado, tinha oferecido a bala ao Santuário de Fátima, em 26 de março de 1984.
Restauro e renovação
A imagem original foi restaurada pelo seu autor em 1951 e desde então tem sido retocada várias vezes. Desde maio de 1982, com a renovação da Capelinha das Aparições a tempo da primeira visita de João Paulo II, que a Imagem assenta no exterior da Capelinha numa coluna que assinala o local exato onde se encontrava a azinheira sobre a qual Nossa Senhora apareceu aos três Pastorinhos.
Em Junho de 2013, e pela primeira vez, a imagem saiu da capelinha para poder ser analisado o seu estado de conservação. Os exames foram feitos no Instituto Politécnico de Tomar e revelaram estar em bom estado, atendendo à sua idade quase centenária. A saída da imagem de Fátima obrigou a medidas de segurança especiais, incluindo guardas e agentes de seguros.
Protegida por uma redoma de vidro à prova de bala, a imagem era recolhida ao final do dia, poucos minutos antes da meia noite, para o interior da Capelinha, por uma questão de segurança, regressando àquele local na manhã seguinte. Essa prática foi abandonada desde que, em 2009, o Santuário de Fátima passou a transmitir online, 24 horas por dia, imagens da Capelinha, captadas por uma câmara direcionada para a imagem. Desde então, a escultura que representa Nossa Senhora de Fátima está permanentemente à vista de todos, não só na Cova da Iria, mas também verdadeiramente em todo o mundo, através da divulgação das imagens via internet.
Saídas da imagem da Capelinha
A imagem apenas deixa a Capelinha das Aparições em ocasiões consideradas muito especiais. A estátua original apenas saiu da Capelinha 13 vezes e para o estrangeiro apenas foi a Espanha e ao Vaticano três vezes – em Março de 1984, a pedido do Papa João Paulo II, quando fez a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, em Outubro de 2000, para estar presente na Praça de São Pedro na consagração do novo milénio à Virgem Santíssima e em 12 e 13 de Outubro de 2013, como ícone na Jornada Mariana a pedido do Papa Francisco.
Cronologia das saídas da Imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima:
1.ª – entre 7 e 13 de Abril de 1942, enviada ao Encerramento do II Congresso Nacional da Juventude Católica Feminina, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa.
2.ª – entre 22 de Novembro e 24 de Dezembro de 1946, por ocasião do tricentenário da proclamação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira de Portugal, num périplo pela Estremadura e Ribatejo.
3.ª – entre Outubro de 1947 e Janeiro de 1948 a imagem peregrinou pelo Alentejo e Algarve, passando a fronteira luso-espanhola por duas vezes, em Elvas, Badajoz e Vila Real de Santo António.
4.ª – entre 22 de Maio e 2 de Junho de 1948 a Madrid, por ocasião do Congresso Mariano Diocesano, passando por outras localidades.
5.ª – entre 9 de Junho e 13 de Agosto de 1951, com a visita a todas as paróquias da Diocese de Leiria.
6.ª – a 17 de Maio de 1959, por ocasião da inauguração do Santuário Nacional de Cristo Rei, visitou novamente Lisboa e Almada.
7.ª – entre 24 e 25 de Março de 1984 foi levada ao Vaticano, a pedido do Papa João Paulo II. No dia 25, na Praça de São Pedro, marcou presença na Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, durante a celebração eucarística presidida pelo Papa.
8.ª – a 8 de Outubro de 2000 volta ao Vaticano para a Consagração do Novo Milénio à Virgem Santíssima, feita pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro.
9.ª – em 12 de Novembro de 2005, ocasião em que a cidade de Lisboa se consagrou a Nossa Senhora de Fátima, numa das várias iniciativas que integraram o programa religioso do Congresso Internacional para a Nova Evangelização, que decorreu de 5 a 13 de Novembro.
10.ª – entre 16 e 17 de Maio de 2009, por ocasião das comemorações do Cinquentenário do Santuário Nacional de Cristo Rei, momento que celebrou a mesma visita feita 50 anos antes.
11.ª – entre 21 a 23 de Maio de 2010 foi levada à “Festa da Fé” na cidade de Leiria, a pedido de D. António Marto, então bispo de Leiria-Fátima.
12.ª – entre 12 e 13 de Outubro de 2013 voltou de novo ao Vaticano, em resposta ao desejo do Papa Francisco de a ter como ícone na Jornada Mariana promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. No dia 12, pelas 17 horas, foi acolhida na Praça de São Pedro com a presença do Santo Padre e no dia 13 o Papa fez diante da Imagem a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria.
Esta foi a primeira vez que a imagem original não esteve presente no santuário numa data de uma grande peregrinação aniversária, isto é, as que ocorrem num dia 13 de um mês entre maio e outubro. Nessa ocasião, a imagem foi substituída pela da Virgem Peregrina de Fátima, entronizada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário desde 8 de dezembro de 2003.
13.ª – 6 de Agosto de 2023. Por desejo expresso do Papa Francisco, a imagem é transportada para Lisboa e exposta no altar do Parque Tejo, na missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude em Portugal.
Imagem Peregrina
Ao longo dos anos foram executadas réplicas “peregrinas” da imagem de modo a satisfazer os muitos pedidos, que foram surgindo no país e estrangeiro, para a receber.
Foi a irmã Lúcia, vidente das aparições de Fátima, que indicou que se fizesse a primeira Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima. Segundo a revista Fátima XXI, o mesmo autor da escultura da Capelinha das Aparições, José Ferreira Thedim, produziu a nova imagem, mas desta vez sob as instruções diretas da Irmã Lúcia, a qual, segundo a mesma publicação do Santuário de Fátima, “acompanhou de perto a feitura” das peças, dando indicações e respondendo às dúvidas do santeiro. Esta foi oferecida pelo bispo de Leiria, D. José Alves de Correia da Silva, e coroada, posterior e solenemente, pelo Arcebispo de Évora, a 13 de maio de 1947.
A origem da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima remete para 1945, ano do final da 2ª Guerra Mundial, quando um Pároco de Berlim propôs que uma imagem de Nossa Senhora de Fátima percorresse todas as capitais e cidades episcopais da Europa, até à fronteira com a Rússia. Em abril de 1946, um representante do Luxemburgo no Conselho Internacional da Juventude Católica Feminin retomou a ideia inicial.
Assim, em 1947, exatamente no dia da sua coroação, iniciou-se a primeira viagem, tendo estado meio século em peregrinação. Após ter visitado 64 países, a reitoria do Santuário de Fátima decidiu que a Imagem original só deveria sair em ocasiões muito especiais. A 8 de dezembro de 2003, solenidade da Imaculada Conceição, foi entronizada, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, sendo colocada numa coluna ao lado do altar-mor.
Atualmente existem 13 réplicas, que surgem no sentido de acolher os inúmeros pedidos vindos de todas as partes do mundo. A sua presença nos diversos países apresenta fenómenos muito interessantes: multidões e participações inesperadas de penitentes que acorrem à sua passagem. No fundo, são vários os relatos dos significativos frutos pastorais e das abundantes graças alcançadas.
Algumas curiosidades sobre as imagens peregrinas
- Durante o ano de 2023, as 12 imagens peregrinaram 100 mil quilómetros, transmitindo uma mensagem de paz e amor por três continentes.
- A escultura original da Virgem Peregrina de Fátima viajou, em 2019, até ao Panamá, para estar presente na Jornada Mundial da Juventude.
- Andor e Imagem, juntos, pesam mais de 200 quilos. O peso elevado deve-se à estrutura do andor; às flores que o ornamentam e que estão depositadas em espuma floral humedecida e às baterias que alimentam a iluminação.
- O veículo que transporta a Virgem Peregrina foi adaptado para o efeito, com a colocação de um vidro que protege a Imagem. Nas deslocações, o andor é ligado a uma tomada da rede elétrica doméstica, para carregar as baterias que alimentam a iluminação da Imagem.
Conclusão
A imagem de Nossa Senhora de Fátima é muito mais do que uma representação artística, é um símbolo profundo de fé, esperança e devoção. Desde as aparições de 1917, esta imagem tem inspirado milhões de fiéis ao redor do mundo a procurar uma vida de oração e conversão. Com as suas características distintivas e mensagem poderosa, a imagem de Nossa Senhora de Fátima continua a ser um farol de luz espiritual, guiando os devotos na procura pela paz e santidade.