São Panteno de Alexandria é uma figura pouco conhecida mas altamente influente nos primórdios do Cristianismo. Foi um dos grandes mestres da célebre Escola Catequética de Alexandria e teve um papel fundamental na formação da teologia cristã nascente, contribuindo para a integração da fé cristã com a filosofia grega. O seu testemunho intelectual e missionário deixou uma marca profunda na história da Igreja.
Contexto histórico
São Panteno viveu entre os séculos II e III, numa época em que o Cristianismo ainda era uma fé em expansão, frequentemente perseguida pelo Império Romano. A cidade de Alexandria, no Egipto, era então um dos maiores centros culturais e intelectuais do mundo antigo. Ali floresciam escolas filosóficas e científicas de várias correntes, e também ali se desenvolveu uma das primeiras e mais influentes escolas de pensamento cristão: a Escola Catequética de Alexandria.
A presença de cristãos instruídos, capazes de dialogar com as correntes filosóficas da época, era vital para a consolidação do pensamento cristão diante das críticas externas e das heresias internas. Foi neste contexto que Panteno desempenhou um papel notável.
Formação e conversão
Panteno era originalmente filósofo estóico, versado em retórica e em ciências naturais. A sua formação clássica deu-lhe um olhar aberto e analítico, o que lhe permitiu aproximar-se do Cristianismo com seriedade intelectual. Depois da sua conversão, colocou os seus dons ao serviço da fé, tornando-se um dos primeiros a promover uma síntese entre a filosofia grega e a teologia cristã, sempre subordinando a razão à fé revelada.
A sua vida pessoal é envolta em alguma obscuridade, e muito do que se sabe sobre ele provém de autores posteriores, como Eusébio de Cesareia, que escreveu sobre Panteno na sua obra História Eclesiástica.
Director da Escola Catequética de Alexandria
Panteno foi nomeado director da Escola Catequética de Alexandria por volta do ano 180 d.C. Esta escola não era apenas um centro de formação para catecúmenos, mas também um espaço de debate teológico, filosófico e exegético. Sob a sua liderança, a escola ganhou ainda mais prestígio e influência.
Foi mestre de grandes nomes como Clemente de Alexandria, que viria a sucedê-lo na direcção da escola e a continuar o seu trabalho de síntese entre fé e razão. O seu método consistia em usar a filosofia como instrumento pedagógico para conduzir à verdade do Evangelho, rejeitando os erros do paganismo mas aproveitando os seus elementos de sabedoria natural.
Missão na Índia
Segundo a tradição, Panteno foi também missionário. Eusébio de Cesareia relata que Panteno viajou até à Índia, onde encontrou comunidades cristãs já estabelecidas, alegadamente fundadas pelo apóstolo São Bartolomeu. Panteno ficou impressionado ao ver que esses cristãos utilizavam o Evangelho de São Mateus escrito em aramaico.
Esta missão revela o zelo apostólico de Panteno e o alcance geográfico do Cristianismo já nos primeiros séculos. Embora os detalhes desta viagem sejam escassos e nem sempre confirmáveis, o testemunho aponta para um homem de grande coragem e dedicação à expansão da fé.
Legado intelectual
Embora nenhum escrito de Panteno tenha chegado até nós, a sua influência é indiscutível. A formação de Clemente de Alexandria e, por consequência, de Orígenes – um dos maiores teólogos da antiguidade cristã – está profundamente ligada ao seu ensino.
Panteno representa uma ponte entre o mundo helenístico e a fé cristã, entre a razão e a revelação. Foi um dos primeiros a demonstrar que a fé cristã não precisava de temer o pensamento filosófico, desde que este fosse iluminado pela verdade de Cristo.
A sua vida mostra que a santidade também pode manifestar-se através do estudo, da busca pela verdade e da transmissão do saber à luz da fé.
Culto e veneração
Apesar de não haver muitos pormenores sobre a sua morte, crê-se que São Panteno terá falecido em Alexandria por volta do ano 200. A sua memória é celebrada liturgicamente em várias tradições cristãs a 7 de julho, embora não seja muito conhecida no Ocidente.
Na Igreja, é recordado como santo, mestre e missionário, modelo para todos os que se dedicam ao ensino e à formação catequética.
Conclusão
São Panteno de Alexandria é um exemplo luminoso de como o Cristianismo primitivo soube dialogar com a cultura do seu tempo sem trair o Evangelho. Mestre, filósofo e missionário, deu um contributo decisivo para o desenvolvimento da teologia e para a consolidação da identidade cristã nos primeiros séculos. O seu testemunho convida todos os fiéis, especialmente os educadores e formadores, a unir razão e fé, ciência e santidade, no serviço à verdade que é Cristo.