Os santos Áquila e Prisca (também chamada Priscila) são uma das mais notáveis duplas de leigos missionários do Novo Testamento. Casados, judeus convertidos ao Cristianismo, companheiros de São Paulo e pilares das primeiras comunidades cristãs, o seu testemunho conjunto de fé, hospitalidade e zelo apostólico marcou profundamente os primeiros tempos da Igreja.
Contexto e origem
Áquila era um judeu natural do Ponto, uma região na Ásia Menor (actual Turquia), enquanto Prisca, o diminutivo de Priscila, era provavelmente de origem romana. Ambos viviam em Roma até ao ano 49 d.C., quando o imperador Cláudio decretou a expulsão dos judeus da cidade, devido a distúrbios relacionados com um tal “Chrestus” (muito possivelmente uma referência a Cristo). Foi então que o casal se mudou para Corinto, na Grécia, onde o seu caminho cruzou com o de São Paulo.
Encontro com São Paulo
Áquila e Prisca conheceram São Paulo durante a sua segunda viagem missionária, em Corinto. Partilhavam com ele a mesma profissão — eram fabricantes de tendas — e acolheram-no em sua casa. Esta proximidade gerou uma amizade profunda e uma colaboração missionária que se estenderia por anos.
São Paulo menciona o casal várias vezes nas suas cartas e destaca sempre a importância do seu papel na vida da Igreja nascente. A sua casa transformou-se num verdadeiro centro de evangelização, um local de reunião da comunidade cristã, um “igreja doméstica”, como refere a Carta aos Romanos (Rm 16, 5).
Apoio à missão apostólica
Depois de algum tempo em Corinto, Áquila e Prisca acompanharam Paulo até Éfeso. Ali também exerceram um papel ativo na comunidade cristã. Um dos episódios mais notáveis envolvendo o casal foi o encontro com Apolo, um judeu eloquente e fervoroso que pregava em Éfeso, mas ainda com uma compreensão incompleta do Evangelho. Áquila e Prisca acolheram-no e “explicaram-lhe com mais exactidão o caminho de Deus” (At 18, 26). Este gesto mostra a maturidade da fé do casal e a confiança que Paulo depositava neles para instruir outros pregadores.
Mais tarde, regressaram a Roma, onde continuaram a acolher a Igreja nas suas casas. Paulo envia-lhes saudações calorosas na Carta aos Romanos, expressando a sua profunda gratidão: “Saudai Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, os quais arriscaram a própria vida por mim” (Rm 16, 3-4).
Modelo de vida cristã
Áquila e Prisca são exemplo de um casal cristão plenamente comprometido com a missão evangelizadora. A sua vida demonstra como os leigos, mesmo sem cargos hierárquicos, podem ter um papel decisivo na vida da Igreja. Unidos no matrimónio e na fé, foram testemunhas da Palavra através do trabalho, da hospitalidade, do ensino e da coragem.
A tradição vê neles um modelo de “igreja doméstica”, conceito que mais tarde seria aprofundado pelo Magistério da Igreja, especialmente no Concílio Vaticano II. A fé vivida no lar, com caridade, abertura ao próximo e acolhimento, transforma a casa numa célula viva da Igreja.
Culto e memória
Os Santos Áquila e Prisca são venerados como mártires pela tradição cristã. A data da sua morte não é conhecida com exactidão, mas crê-se que tenham sofrido perseguição por causa da fé, possivelmente sob o imperador Nero.
A Igreja celebra a sua memória litúrgica a 8 de julho. As suas relíquias são veneradas em Roma, onde existe uma igreja dedicada a Santa Prisca no monte Aventino, construída, segundo a tradição, sobre o local da sua casa.
Conclusão
Os Santos Áquila e Prisca são uma referência para todos os cristãos, especialmente os casais e os leigos que procuram viver a fé de forma activa e comprometida. A sua vida conjugal em harmonia com a missão evangelizadora, a sua disponibilidade para acolher, ensinar e arriscar-se pela fé, são testemunhos vivos da força do Espírito Santo a actuar fora dos círculos clericais. A sua história é um convite a transformar cada lar numa verdadeira igreja doméstica, onde Cristo seja acolhido e partilhado.