Os Santos Mártires da Coreia, entre os quais se destacam André Kim Taegon, presbítero, e Paulo Chong Hasang, leigo, representam a coragem e a fidelidade dos primeiros cristãos coreanos, que, em tempos de severa perseguição, não hesitaram em dar a vida pela fé em Jesus Cristo.
O início do cristianismo na Coreia
O cristianismo chegou à Coreia no final do século XVIII, não por missionários estrangeiros, mas por coreanos letrados que, ao entrarem em contacto com obras cristãs na China, se converteram e começaram a difundir a fé entre os seus compatriotas. Esta evangelização original, feita por leigos, é um fenómeno raro na história da Igreja.
Com o tempo, sacerdotes missionários chegaram secretamente ao país para ministrar os sacramentos e fortalecer a jovem Igreja. No entanto, o cristianismo foi considerado uma ameaça às estruturas sociais e políticas tradicionais, o que deu origem a violentas perseguições.
Perseguições e martírios
Durante mais de um século, os cristãos coreanos foram perseguidos implacavelmente. Estima-se que cerca de 10 mil fiéis perderam a vida por causa da sua fé entre 1791 e 1888. As autoridades viam a religião cristã como subversiva e contrária à lealdade ao imperador, já que os fiéis se recusavam a participar nos rituais confucionistas e a prestar culto aos antepassados.
Os cristãos eram presos, torturados e executados publicamente. Muitos desses mártires eram leigos, incluindo mulheres, idosos e crianças, o que demonstra a profunda convicção da comunidade cristã coreana.
São André Kim Taegon
André Kim Taegon nasceu em 1821 numa família cristã. O seu pai, um catequista, foi também mártir. Sentindo o chamamento ao sacerdócio, André teve de sair da Coreia para estudar teologia na China, tendo sido ordenado sacerdote em Xangai, tornando-se o primeiro sacerdote católico coreano.
Voltou à Coreia clandestinamente para exercer o seu ministério, encorajando os fiéis e organizando a Igreja local. Em 1846, foi capturado, torturado e decapitado aos 25 anos, junto ao rio Han, em Seul. As suas últimas palavras foram: “Este é o momento mais feliz da minha vida.”
São Paulo Chong Hasang
Paulo Chong Hasang era um leigo de grande fé e zelo missionário. Filho de mártires, foi um dos principais líderes da Igreja coreana durante as perseguições. Escreveu ao Papa, pedindo o envio de missionários e a organização eclesial da Igreja na Coreia.
Foi preso e executado em 1839, juntamente com outros cristãos. O seu testemunho destaca a importância e o papel dos leigos na vida da Igreja, especialmente em tempos de adversidade.
Os companheiros mártires
Com André Kim e Paulo Chong foram canonizados mais 101 mártires coreanos, representando os milhares que deram a vida por Cristo naquele país. Entre eles havia homens, mulheres, crianças, sacerdotes e leigos de todas as idades e condições sociais.
O seu exemplo é um poderoso testemunho da força da fé vivida em comunidade, da perseverança na adversidade e da esperança cristã que vence a morte.
Canonização e celebração
Os 103 mártires coreanos foram canonizados pelo Papa São João Paulo II a 6 de maio de 1984, em Seul, numa das maiores celebrações religiosas da história da Coreia. Foi a primeira canonização realizada fora do Vaticano.
A sua memória litúrgica é celebrada a 20 de setembro. São considerados padroeiros da Igreja na Coreia e exemplo de santidade para os cristãos do mundo inteiro.
Conclusão
Os Santos Mártires da Coreia, especialmente André Kim Taegon e Paulo Chong Hasang, testemunham com a própria vida que a fé cristã ultrapassa fronteiras culturais e geográficas. A sua coragem e fidelidade são sinais do poder do Evangelho, que transforma corações e sustenta os fiéis mesmo nas provações mais duras. O seu exemplo continua a inspirar cristãos de todas as partes a viver com autenticidade, coragem e amor a Cristo.