Santo Afonso Maria de Ligório foi uma das figuras mais marcantes da Igreja Católica no século XVIII. Doutor da Igreja, fundador de uma congregação religiosa, bispo, teólogo moralista, missionário e escritor fecundo, destacou-se pela sua profunda espiritualidade e pelo compromisso com os mais pobres e abandonados. O seu legado continua vivo na Igreja e a sua influência estende-se a muitos campos, em particular à teologia moral e à missão evangelizadora.
Infância e juventude
Afonso nasceu a 27 de Setembro de 1696, em Marianella, perto de Nápoles, no seio de uma família nobre e profundamente católica. Era o primogénito de sete filhos. Desde cedo demonstrou grande inteligência e dedicação aos estudos. Com apenas 16 anos, licenciou-se em Direito Civil e Canónico, tornando-se advogado. Porém, a sua carreira jurídica, embora brilhante, trouxe-lhe desilusões.
Após perder um importante processo por causa de corrupção no tribunal, Afonso tomou a decisão de abandonar a advocacia e dedicar-se inteiramente a Deus, contra a vontade inicial do pai. Entrou no seminário e foi ordenado sacerdote em 1726.
Missão e fundação dos Redentoristas
Desde o início do seu ministério, Afonso procurou evangelizar os mais pobres e esquecidos. Percorreu aldeias e zonas rurais, pregando missões populares, ensinando a doutrina cristã e oferecendo o sacramento da reconciliação. A sua linguagem era simples e acessível, centrada na misericórdia de Deus.
Em 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor (os Redentoristas), com o objectivo de evangelizar os mais abandonados, especialmente nas zonas rurais do Reino de Nápoles. A congregação cresceu rapidamente e espalhou-se por vários países, mantendo-se até hoje activa na missão e na pregação.
Escritor e Doutor da Igreja
Santo Afonso foi também um prolífico escritor espiritual e teológico. Entre as suas obras mais conhecidas estão A Prática do Amor a Jesus Cristo, Visitas ao Santíssimo Sacramento e As Glórias de Maria. Estes livros continuam a ser lidos por milhares de fiéis em todo o mundo e são testemunho da sua profunda devoção e sabedoria.
Destacou-se ainda como teólogo moralista. Numa época marcada por posições rigoristas e laxistas, Afonso propôs uma via equilibrada, baseada na misericórdia, na consciência e na caridade pastoral. A sua obra Teologia Moral teve enorme influência e é considerada uma referência segura nesta disciplina. Foi proclamado Doutor da Igreja em 1871 pelo Papa Pio IX e patrono dos confessores e moralistas por Pio XII, em 1950.
Bispo de Santa Águeda dos Godos
Em 1762, com relutância, aceitou ser nomeado bispo da diocese de Santa Águeda dos Godos, função que exerceu durante 13 anos. Afonso dedicou-se com grande zelo à reforma do clero, à catequese e ao cuidado dos pobres. Apesar da sua saúde débil, visitava pessoalmente as paróquias e mantinha contacto direto com os fiéis.
Foi um pastor exemplar, profundamente atento às necessidades do povo. Em 1775, devido à idade avançada e à fragilidade física, renunciou ao episcopado e retirou-se para a comunidade redentorista, onde passou os últimos anos da sua vida.
Últimos anos e morte
Os últimos anos da sua vida foram marcados por intensos sofrimentos físicos, doenças e incompreensões, até dentro da sua própria congregação. Mesmo assim, manteve-se firme na fé e na oração, oferecendo tudo por amor a Cristo.
Faleceu a 1 de Agosto de 1787, com 90 anos, em Pagani, Itália. A sua santidade foi reconhecida rapidamente pela Igreja. Foi canonizado em 1839 por Gregório XVI.
Devoção e legado
Santo Afonso é hoje venerado em toda a Igreja como exemplo de pastor próximo, missionário incansável, teólogo equilibrado e homem profundamente devoto. A sua espiritualidade centrada em Cristo Redentor, na Eucaristia e na Virgem Maria continua a inspirar fiéis, padres, religiosos e religiosas.
A Congregação Redentorista, por ele fundada, continua a sua missão em dezenas de países, mantendo viva a chama da evangelização junto dos mais pobres e marginalizados.
Conclusão
Santo Afonso de Ligório foi um verdadeiro mestre da fé e da caridade. A sua vida foi marcada por uma entrega total a Deus e aos irmãos, especialmente aos mais necessitados. A sua teologia moral continua a ser um ponto de equilíbrio entre verdade e misericórdia, exigência e compaixão.
A Igreja honra-o como um dos grandes Doutores e convida os fiéis a imitarem o seu amor a Jesus Cristo, a sua devoção a Maria e o seu zelo missionário. A sua memória litúrgica celebra-se a 1 de Agosto.