São Norberto foi uma das grandes figuras da renovação espiritual da Igreja no século XII. Fundador da Ordem dos Cônegos Premonstratenses (também conhecidos como Norbertinos), destacou-se pela sua profunda conversão, vida austera e incansável zelo apostólico. Como arcebispo de Magdeburgo, dedicou-se à reforma do clero e à pregação da Palavra de Deus. A sua memória litúrgica celebra-se a 6 de Junho.
Primeiros anos e juventude
Norberto nasceu por volta do ano 1080 em Xanten, na região da Renânia (actual Alemanha), numa família nobre ligada ao imperador. Recebeu uma educação cuidada, sendo destinado à carreira eclesiástica mais por conveniência do que por vocação. Tornou-se cônego em Xanten e frequentou a corte imperial, gozando de prestígio e conforto. Nesta fase da vida, viveu com certa superficialidade, embora mantendo uma aparência de piedade.
Conversão radical
Tudo mudou por volta do ano 1115, quando Norberto, em viagem, foi surpreendido por uma tempestade violenta. Um raio caiu próximo de si e quase o matou. Este episódio marcou profundamente a sua consciência. Viu-o como um chamamento de Deus e decidiu abandonar a vida mundana. Retirou-se durante algum tempo para reflexão, jejum e oração. Em seguida, distribuiu os seus bens aos pobres e entregou-se totalmente ao serviço de Cristo.
Pregador e reformador itinerante
Ordenado sacerdote, Norberto iniciou uma vida de pregador itinerante. Percorreu várias regiões da Alemanha e da França, exortando à conversão, à penitência e à fidelidade ao Evangelho. A sua pregação era simples, directa e profundamente evangélica. Confrontava abusos do clero, o laxismo espiritual e a indiferença religiosa. A sua figura impunha respeito: austero, pobre, despojado, mas ardente na fé.
Fundação da Ordem Premonstratense
Em 1120, com o apoio do bispo de Laon, Norberto fundou uma comunidade em Prémontré, no norte da França. Aí estabeleceu a Ordem dos Cônegos Regulares Premonstratenses, seguindo a Regra de Santo Agostinho. Esta nova forma de vida combinava o ideal monástico com a actividade pastoral: oração, vida comum e serviço à Igreja, especialmente através da pregação e da celebração dos sacramentos. A ordem cresceu rapidamente e espalhou-se por várias regiões da Europa.
Arcebispo de Magdeburgo
Em 1126, contra a sua vontade, foi nomeado arcebispo de Magdeburgo, uma das dioceses mais importantes da Germânia. Apesar de alguma resistência inicial da população e do clero local, Norberto assumiu o cargo com espírito de serviço. Empenhou-se em reformar a disciplina do clero, combater a simonia, restaurar a vida sacramental e promover a unidade com Roma. Foi um verdadeiro pastor, próximo do povo e firme na doutrina.
Últimos anos e morte
Os últimos anos de Norberto foram marcados por enfermidades e sacrifícios. Continuou, contudo, a apoiar a sua ordem e a defender a ortodoxia católica, especialmente contra heresias que ameaçavam a fé. Faleceu a 6 de Junho de 1134 em Magdeburgo. O seu corpo foi mais tarde trasladado para a abadia de Strahov, em Praga, onde ainda hoje é venerado.
Canonização e legado
São Norberto foi canonizado em 1582 pelo Papa Gregório XIII. É venerado como modelo de conversão, de renovação e de fidelidade à missão pastoral. A ordem que fundou continua activa em vários países, mantendo viva a herança da vida comum, da liturgia solene e da pregação do Evangelho. O seu legado é o de um homem que se deixou transformar por Deus e que transformou a Igreja com o seu exemplo.
Conclusão
A vida de São Norberto lembra-nos que nunca é tarde para recomeçar. De cortesão mundano a pregador austero, de reformador itinerante a arcebispo fiel, foi sempre dócil ao Espírito Santo. A sua coragem, humildade e zelo continuam a inspirar a Igreja de hoje, especialmente os que são chamados à vida consagrada e ao ministério pastoral.