Santa Clara de Assis, fundadora da Ordem das Clarissas

Poucas figuras na história da Igreja Católica refletem de modo tão luminoso a pureza e a radicalidade do Evangelho como Santa Clara de Assis. Fundadora da Ordem das Clarissas e discípula espiritual de São Francisco de Assis, Clara consagrou a vida à pobreza, à oração e ao serviço humilde, deixando um legado que, ainda hoje, inspira milhares de religiosas e fiéis em todo o mundo.

Origens e juventude em Assis

Clara nasceu em Assis, Itália, em 16 de julho de 1194, numa família nobre e abastada. Desde jovem demonstrou uma inclinação profunda para a vida espiritual, manifestando compaixão pelos pobres e rejeitando os luxos e privilégios próprios do seu estatuto social.
A sua infância e adolescência coincidiram com o florescimento da vida e da pregação de Francisco de Assis, cujo exemplo viria a transformar radicalmente o seu destino.

Aos 18 anos, após ouvir Francisco pregar na Quaresma de 1212 na Igreja de São Jorge, Clara sentiu-se chamada a seguir o mesmo caminho de pobreza e entrega total a Cristo. Na noite de 28 para 29 de março de 1212, fugiu secretamente da casa paterna para se encontrar com Francisco e os seus companheiros na Porciúncula, pequena capela dedicada à Virgem Maria. Aí, renunciou à sua riqueza, cortou os cabelos e recebeu o hábito simples da penitência — um gesto simbólico de desapego e consagração total.

A fundação da Ordem das Clarissas

Francisco conduziu Clara para o mosteiro beneditino de São Paulo das Abadessas, onde ficou temporariamente abrigada. Pouco tempo depois, outras mulheres — incluindo as suas irmãs Inês e Beatriz, e a sua mãe Ortolana — seguiram o seu exemplo.
Em 1215, Francisco instalou a pequena comunidade no Mosteiro de São Damião, nos arredores de Assis, o mesmo local que ele próprio restaurara anos antes.
Nascia assim a Ordem das Damas Pobres de São Damião, mais tarde conhecida como Ordem de Santa Clara ou Clarissas.

O carisma da nova comunidade assentava nos mesmos pilares da vida franciscana: pobreza radical, vida fraterna e oração contínua. Clara fez da pobreza um voto essencial, recusando qualquer forma de posse, inclusive de propriedades para o mosteiro. Essa firmeza deu origem ao chamado “Privilégio da Pobreza”, concedido pelo Papa Gregório IX em 1228, reconhecendo oficialmente o direito da comunidade a viver sem bens próprios.

A liderança e espiritualidade de Santa Clara

Santa Clara foi abadessa de São Damião durante mais de quarenta anos. A sua vida foi marcada por austeridade e profundo amor eucarístico. Dedicava longas horas à oração e ao trabalho manual, insistindo na humildade e na alegria, mesmo na pobreza extrema.

Um dos episódios mais célebres da sua vida ocorreu em 1240, quando tropas sarracenas aliadas do imperador Frederico II invadiram Assis e cercaram o mosteiro de São Damião. Clara, doente, ergueu-se e, com o Santíssimo Sacramento nas mãos, colocou-se diante dos invasores. Reza a tradição que, ao verem a fé e a força daquela mulher frágil, os soldados recuaram e fugiram, poupando o convento e a cidade. Este milagre consolidou a sua fama de santidade e a devoção eucarística que lhe está associada.

A Regra e a morte de Santa Clara

Em 1253, após anos de insistência, Clara obteve finalmente a aprovação da sua Regra própria, a primeira escrita por uma mulher e aprovada oficialmente pela Igreja. O Papa Inocêncio IV confirmou-a a 9 de agosto de 1253, apenas dois dias antes da morte da Santa.

Santa Clara faleceu a 11 de agosto de 1253, cercada pelas suas irmãs e pela presença espiritual de São Francisco, já falecido há 27 anos. O Papa Alexandre IV canonizou-a em 1255, apenas dois anos depois, reconhecendo a sua santidade e o impacto da sua vida.

A Ordem das Clarissas ao longo dos séculos

A Ordem das Clarissas rapidamente se espalhou por toda a Europa e mais tarde pelo mundo. Hoje, existem centenas de mosteiros de clausura que seguem a Regra de Santa Clara, vivendo na simplicidade e no silêncio, sustentadas pela oração e pelo trabalho.
As Clarissas continuam a ser, no coração da Igreja, um testemunho vivo de que a verdadeira liberdade nasce do desprendimento e de que a alegria autêntica brota da união com Cristo pobre e crucificado.

Devoção e legado espiritual

Santa Clara é considerada a padroeira da televisão e dos meios de comunicação — título atribuído pelo Papa Pio XII em 1958 — porque, segundo a tradição, durante uma doença, ela pôde assistir milagrosamente à missa celebrada na igreja de São Francisco de Assis sem sair da sua cela.

O seu corpo repousa hoje na Basílica de Santa Clara, em Assis, construída em sua honra e inaugurada em 1265. Lá, milhares de peregrinos visitam anualmente o túmulo da “pequena planta de São Francisco”, como ela própria se designava.

Reflexão final para o blog católico

Santa Clara de Assis recorda-nos que o Evangelho é, antes de tudo, vida vivida com radicalidade e amor. A sua entrega absoluta à pobreza e à oração é um convite a todos os cristãos — consagrados ou leigos — a reencontrar o essencial: Cristo como único tesouro.

Na simplicidade das Clarissas, na serenidade dos seus mosteiros, o mundo continua a ouvir o eco da vida de Santa Clara: uma luz discreta, mas intensa, que aponta sempre para o verdadeiro Sol, Cristo Jesus.

Abraça a Cristo pobre e crucificado; segue-o no amor e na pobreza, e nunca te canses de contemplar a sua bondade infinita.”
Santa Clara de Assis

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