Neste dia, em 325, começava o Concílio de Niceia, o primeiro concílio ecuménico

O Primeiro Concílio de Niceia, realizado em 325 d.C., foi um marco fundamental na história do Cristianismo, sendo o primeiro concílio ecuménico da Igreja. Convocado pelo Imperador Constantino, teve como principal objetivo resolver a controvérsia do arianismo, uma doutrina que negava a divindade de Cristo. O concílio resultou na formulação do Credo Niceno, um dos pilares da fé cristã, e estabeleceu importantes decisões doutrinárias e disciplinares.

Contexto histórico

No início do século IV, a Igreja enfrentava uma grave crise teológica devido às ideias propagadas por Ário, um sacerdote de Alexandria que afirmava que Cristo não era Deus, mas sim uma criatura criada por Deus Pai. Segundo ele, Jesus era superior aos humanos, mas inferior a Deus, negando, assim, a consubstancialidade entre o Pai e o Filho.

Esta doutrina, conhecida como arianismo, gerou grande divisão na Igreja, levando a fortes disputas entre os bispos. A controvérsia tornou-se um problema não apenas religioso, mas também político, pois ameaçava a unidade do Império Romano. Diante desse cenário, o imperador Constantino, recém-convertido ao Cristianismo, decidiu convocar um concílio para resolver a questão e promover a unidade da Igreja.

Realização do Concílio de Niceia

O Concílio de Niceia teve lugar na cidade de Niceia, na atual Turquia, entre maio e junho de 325. Cerca de 300 bispos, vindos de diversas partes do Império Romano, participaram do encontro. Destacaram-se figuras como Santo Atanásio, defensor da ortodoxia cristã, e Osio de Córdoba, conselheiro de Constantino.

O concílio foi presidido pelo próprio imperador, que, embora não tivesse autoridade eclesiástica, desejava manter a paz no seu império. Constantino favorecia uma solução que levasse à unidade da Igreja, incentivando os bispos a chegarem a um consenso.

As decisões do concílio

1. Condenação do Arrianismo e Definição da Divindade de Cristo

A principal decisão do Concílio foi a condenação do arianismo. Os bispos afirmaram que Jesus Cristo é consubstancial ao Pai, ou seja, da mesma essência divina. Esta afirmação foi expressa no Credo Niceno, que definiu a fé cristã e rejeitou qualquer ideia de que Cristo fosse uma criatura.

O termo grego “homoousios” (ὁμοούσιος) foi introduzido para descrever a relação entre o Pai e o Filho, estabelecendo que ambos partilham a mesma natureza divina. Esta formulação tornou-se a base da doutrina da Trindade.

2. Formulação do Credo Niceno

O Concílio elaborou o Credo Niceno, um resumo da fé cristã, que declarava:

“Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai…”

Este credo tornou-se uma referência fundamental para a ortodoxia cristã e, mais tarde, foi aperfeiçoado no Concílio de Constantinopla (381 d.C.).

3. Fixação da Data da Páscoa

Outro tema debatido no Concílio foi a data da celebração da Páscoa. Até então, algumas comunidades cristãs seguiam o calendário judaico e celebravam a Páscoa na mesma data da Pessach (Páscoa judaica), enquanto outras adotavam um cálculo diferente.

O Concílio determinou que a Páscoa deveria ser celebrada no primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera (hemisfério norte), afastando-se do calendário judaico e criando uma fórmula unificada para toda a cristandade.

4. Regras Disciplinares e Organização da Igreja

O Concílio também estabeleceu cânones disciplinares, regulando a vida eclesiástica. Algumas das decisões incluíram:

  • Proibição da reaceitação de hereges ao episcopado sem um processo rigoroso.
  • Definição das jurisdições eclesiásticas, respeitando a primazia de certas sedes episcopais, como Roma, Alexandria e Antioquia.
  • Celibato clerical parcial, recomendando que os bispos e sacerdotes não contraíssem novo casamento após a ordenação.

Consequências do Concílio de Niceia

O Concílio de Niceia teve um impacto profundo na Igreja e na história do Cristianismo. As suas decisões ajudaram a consolidar a doutrina da Trindade, rejeitando heresias como o arianismo. No entanto, a controvérsia não terminou imediatamente. Após o Concílio, Ário e os seus seguidores continuaram a espalhar as suas doutrinas, causando novos conflitos e divisões dentro da Igreja.

A luta contra o arianismo prolongou-se por várias décadas, e foi apenas no Concílio de Constantinopla (381 d.C.) que a heresia foi definitivamente rejeitada e o Credo Niceno foi reafirmado.

O Concílio de Niceia também reforçou a autoridade dos concílios ecuménicos, que se tornaram um meio fundamental para definir a doutrina cristã. A tradição de reunir concílios para resolver questões teológicas e disciplinares continua na Igreja Católica até hoje.

A relevância de Niceia nos dias de hoje

O Primeiro Concílio de Niceia continua a ser um dos eventos mais importantes da história da Igreja. O Credo Niceno, formulado nesta ocasião, é recitado até hoje na Liturgia Eucarística, sendo uma das mais importantes declarações de fé dos cristãos.

A afirmação da divindade de Cristo e da sua consubstancialidade com o Pai tornou-se um dos fundamentos do Cristianismo. Além disso, a decisão sobre a data da Páscoa e a organização da estrutura eclesiástica continuam a influenciar a Igreja moderna.

Nos tempos atuais, a unidade da fé cristã ainda é um desafio, e o Concílio de Niceia permanece como um exemplo de como a Igreja pode enfrentar crises e reafirmar os princípios fundamentais da fé.

Conclusão

O Primeiro Concílio Ecuménico de Niceia, realizado em 325 d.C., foi um marco fundamental na história da Igreja, consolidando a doutrina da Trindade e rejeitando o arianismo. As suas decisões ajudaram a definir a identidade do Cristianismo e estabeleceram uma base doutrinal que perdura até hoje.

O legado de Niceia está presente na Liturgia, na teologia e na unidade da fé cristã, demonstrando a importância dos concílios ecuménicos na vida da Igreja. O Credo Niceno, elaborado há mais de 1700 anos, continua a ser proclamado pelos fiéis, reafirmando a fé na Santíssima Trindade e na divindade de Cristo.

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