Neste dia, em 1545, tinha início o Concílio de Trento, o mais longo da história da Igreja Católica

O Concílio de Trento (1545–1563) foi um marco fundamental na história da Igreja Católica, representando uma resposta direta à Reforma Protestante e uma reafirmação das doutrinas e práticas católicas. Convocado pelo Papa Paulo III, o concílio teve como objetivos principais a reforma interna da Igreja e a reafirmação das doutrinas questionadas pelos reformadores protestantes, como Martinho Lutero e João Calvino.

O Concílio de Trento, atrasado e interrompido várias vezes por divergências políticas ou religiosas, foi um conselho de uma grande reforma, uma personificação dos ideais da Contrarreforma. Mais de 300 anos se passaram até ao Conselho Ecuménico seguinte. Ao anunciar o Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII afirmou que os preceitos do Concílio de Trento continuam nos dias modernos, uma posição que foi reafirmada pelo Papa Paulo VI.

Contexto histórico

A Igreja Católica enfrentava uma profunda crise no início do século XVI. A Reforma Protestante, iniciada em 1517 por Martinho Lutero quando este divulgou as suas 95 teses contrárias à Igreja Católica, tinha desafiado aspectos centrais da fé e da prática católica, como o papel do Papa, os sacramentos e a venda de indulgências. Além disso, problemas internos, como corrupção, abusos clericais e ignorância teológica entre o clero, contribuíram para a necessidade de um concílio.

Embora houvesse tentativas anteriores de reunir um concílio, foi apenas em 13 de dezembro de 1545 que o Concílio de Trento foi oficialmente iniciado, na cidade de Trento (Itália), uma escolha estratégica devido à sua localização entre a Itália e os territórios alemães.

Estrutura do concílio

O Concílio de Trento ocorreu em três fases distintas, cada uma marcada por diferentes desafios e avanços:

  • Primeira fase (1545–1547): Sob o pontificado de Paulo III, focou-se na reafirmação da doutrina e em temas como a justificação pela fé e pelas obras, em oposição à doutrina protestante da “sola fide” (somente pela fé). Celebraram-se 10 sessões, promulgando-se os decretos sobre a Sagrada Escritura e Tradição, o pecado original, a justificação e os sete sacramentos em geral e vários decretos de reforma disciplinar.
  • Segunda fase (1551–1552): Convocada pelo Papa Júlio III, enfrentou grandes dificuldades devido à ausência de líderes protestantes e ao conflito político-militar entre o Sacro Império Romano-Germânico e a França. Celebraram-se 6 sessões, continuando a promulgar-se, simultaneamente, decretos de reforma e doutrinais ainda sobre sacramentos, particularmente sobre a Eucaristia (nomeadamente sobre a questão da transubstanciação), a penitência, e a extrema-unção. A guerra entre Carlos V e os príncipes protestantes constituiu um perigo para os padres conciliares de Trento.
  • Terceira fase (1562–1563): Durante o papado de Pio IV, houve maior progresso, tendo sido realizadas 9 sessões em que se promulgaram importantes decretos doutrinais, mas sobretudo decretos eficazes para a reforma da Igreja, especialmente sobre os sacramentos, a Eucaristia e a reforma disciplinar do clero.

O concílio foi encerrado em 4 de dezembro de 1563, tendo produzido 25 sessões plenárias ao longo de 18 anos.

Principais decretos e doutrinas

O Concílio de Trento, para além de ter sido o concílio ecumênico mais longo da História da Igreja Católica, foi também o concílio que emitiu o maior número de decretos dogmáticos e reformas, e produziu os resultados mais benéficos, duradouros e profundos sobre a fé e a disciplina da Igreja.

Foram reafirmados vários aspectos fundamentais da fé católica e introduzidas reformas práticas significativas:

  • Escritura e Tradição: Definiu que a revelação divina é transmitida tanto pela Escritura quanto pela Tradição Apostólica.
  • Sacramentos: Reafirmou os sete sacramentos e condenou a visão protestante de que apenas o batismo e a Eucaristia eram sacramentos válidos.
  • Eucaristia: Confirmou a doutrina da transubstanciação, rejeitando a interpretação simbólica protestante.
  • Justificação: Declarou que a salvação é alcançada pela graça de Deus, mas exige a cooperação humana, combinando fé e obras.
  • Cânon das Escrituras: Confirmou o cânon bíblico, incluindo os livros deuterocanónicos, rejeitados pelos protestantes.
  • Reforma do clero: Ordenou a criação de seminários para a formação sacerdotal, combateu o nepotismo e proibiu a venda de indulgências.
  • Liturgia: Uniformizou a celebração da Missa, levando à publicação do Missal Romano e do Breviário.

Participação portuguesa

Na história de Portugal, o concílio teve grande influência, quer pela participação e apoio dos reis, quer pela influência que os seus decretos tiveram na vida eclesiástica e social do país. Desde cedo foram estudados modos de pôr em prática os decretos da reforma. A Reforma Católico‐romana foi reforçada pela criação, em 1540, da Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada pelo espanhol Inacio de Loyola. A Companhia de Jesus transformou-se num verdadeiro “exército” em defesa da manutenção dos princípios católicos e da evangelização na Europa, na Ásia e nas Américas.

Impacto do concílio

O Concílio de Trento teve um impacto duradouro na Igreja Católica. Foi o início da Contrarreforma, um movimento que revitalizou a Igreja e combateu o avanço do protestantismo. Inspirou a fundação de novas ordens religiosas, como os Jesuítas, que desempenharam um papel crucial na evangelização e na educação. Estabeleceu bases sólidas para a liturgia e a doutrina que perduraram até o Concílio Vaticano II (1962–1965).

Conclusão

O Concílio de Trento foi um evento transformador para a Igreja Católica, fortalecendo a sua identidade doutrinal e disciplinar em contraste com os desafios da Reforma Protestante. As decisões moldaram a prática e o ensino da fé católica por séculos, reafirmando a sua unidade e autoridade num período de profundas divisões religiosas. A relevância de Trento permanece até hoje, como um testemunho do compromisso da Igreja com a fidelidade ao Evangelho e a renovação espiritual.

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