A 14 de fevereiro de 1958, o Papa Pio XII proclamou Santa Clara de Assis como Padroeira da Televisão, num gesto que, à primeira vista, pode parecer curioso, mas que se enraíza profundamente na vida da santa e na compreensão da Igreja acerca da presença de Deus nos meios de comunicação.
Quem foi Santa Clara de Assis?
Santa Clara (1193–1253) nasceu em Assis, Itália, e foi uma das primeiras seguidoras de São Francisco de Assis. Fundou a Ordem das Clarissas, ramo feminino franciscano, marcado pela vida de clausura, oração e pobreza radical. Clara viveu praticamente toda a sua vida dentro do mosteiro de São Damião, dedicado ao serviço de Deus, à contemplação e à intercessão pelos fiéis.
Apesar da vida escondida, a sua santidade e testemunho espalharam-se por toda a cristandade, e após a sua morte foi canonizada em 1255 pelo Papa Alexandre IV.
O milagre de Natal que inspirou a proclamação
A ligação de Santa Clara à televisão prende-se com um episódio extraordinário da sua vida.
Já gravemente doente e incapaz de sair da sua cela no convento de São Damião, Clara não pôde assistir à Missa de Natal na igreja com as suas irmãs. Profundamente triste, ofereceu a Deus a sua impossibilidade e pediu a graça de participar, ainda que à distância, na celebração.
Segundo as crónicas da época, Clara recebeu então uma visão prodigiosa: das paredes do seu quarto projetaram-se, de forma clara e viva, as imagens e os sons da Missa que se celebrava na igreja. Assim, a santa pôde acompanhar integralmente a liturgia, como se estivesse presente.
Este fenómeno místico foi interpretado como uma antecipação, quase profética, daquilo que muitos séculos depois viria a ser a televisão, meio que permite assistir a eventos e celebrações em locais distantes.
A proclamação de Pio XII
Quase setecentos anos após este acontecimento, em 1958, o Papa Pio XII decidiu proclamar Santa Clara de Assis como Padroeira da Televisão.
O contexto era significativo: a televisão, já presente em muitos lares, transformava-se rapidamente num dos principais meios de comunicação do século XX. A Igreja reconhecia a sua importância, mas também os riscos de mau uso. Pio XII, que tanto refletiu sobre os meios modernos de comunicação, desejava oferecer à televisão uma padroeira que fosse exemplo de pureza, oração e discernimento cristão.
Assim, a escolha de Santa Clara não foi apenas simbólica pelo milagre de Natal, mas também uma forma de colocar sob a sua proteção o novo meio de comunicação, para que fosse usado para o bem, para a formação, para a verdade e para a evangelização.
O significado espiritual da escolha
A proclamação de Santa Clara como padroeira da televisão contém várias mensagens:
- A atualidade dos santos: mesmo vivendo no século XIII, a experiência mística de Clara antecipou um dos maiores instrumentos de comunicação do século XX.
- Um convite ao discernimento: tal como Clara contemplava as imagens sagradas na visão milagrosa, os cristãos são convidados a purificar o olhar e a escolher com sabedoria o que veem e escutam.
- Proteção espiritual sobre a comunicação: Pio XII quis recordar que a televisão deve servir a verdade, a dignidade humana e a fé, em vez de difundir violência, superficialidade ou engano.
Santa Clara hoje, padroeira da televisão
Atualmente, muitos fiéis recorrem à intercessão de Santa Clara para pedir discernimento na utilização dos meios de comunicação e para que a televisão e as novas tecnologias sejam usadas ao serviço da paz, da educação e da evangelização.
O exemplo da santa de Assis continua a desafiar-nos: tal como ela, somos chamados a ver com os olhos do coração e a usar as imagens que entram em nossas casas para fortalecer a fé, a cultura e a esperança.