Poucas semanas depois do ciclo de Beauraing, a Virgem Maria voltou a manifestar-se na Bélgica, desta vez na pequena aldeia de Banneux, entre 15 de janeiro e 2 de março de 1933. Apareceu a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, deixando uma mensagem simples mas profundamente atual: Maria veio como Mãe dos Pobres e Consoladora dos Sofredores, oferecendo esperança num mundo marcado pela miséria e pela iminência da guerra.
O contexto histórico
A Bélgica, em plena crise económica e social dos anos 30, sofria com a pobreza, o desemprego e as tensões políticas que prenunciavam a Segunda Guerra Mundial. Num ambiente de descrença, especialmente entre as classes mais simples, Maria escolheu manifestar-se a uma criança humilde para recordar que Deus está próximo dos mais pobres e sofredores.
A vidente
Mariette Beco nasceu em 1921 numa família numerosa e pobre. Pouco instruída, ajudava a mãe nos trabalhos domésticos e cuidava dos irmãos. Era considerada simples, mas sensível e de grande coração.
Foi a esta menina que Maria confiou a sua mensagem, marcando para sempre a sua vida. Mariette, apesar da fama repentina, manteve-se discreta até à morte (1999), fiel ao silêncio e à simplicidade que a Virgem lhe pediu.
As aparições
Primeira aparição – 15 de janeiro de 1933
Na noite fria, Mariette estava à janela quando viu uma Senhora luminosa, vestida de branco, com uma faixa azul na cintura e um rosário no braço. A Virgem fez-lhe sinal para sair de casa, mas a mãe, desconfiada, não deixou.
No dia seguinte, a menina voltou ao mesmo lugar e Nossa Senhora reapareceu, apresentando-se como a Virgem dos Pobres. Levou Mariette até uma fonte de água no campo vizinho, dizendo:
“Esta fonte é reservada para todas as nações, para aliviar os doentes.”
Esta frase marcou o sentido das aparições: um sinal de misericórdia e cura, especialmente para os que sofrem.
Aparições seguintes (janeiro e fevereiro de 1933)
Nos encontros seguintes, Maria reforçou a sua identidade e missão:
- Mensagem de compaixão: “Eu venho aliviar o sofrimento.”
- Mensagem universal: “Crede em mim, eu acreditarei em vós.”
- Chamado à oração: pediu que Mariette rezasse frequentemente.
- Sinal da fonte: a água tornou-se símbolo de purificação e esperança, à semelhança de Lourdes.
Última aparição – 2 de março de 1933
Na oitava e última vez que apareceu, Nossa Senhora entregou a mensagem final:
“Sou a Mãe do Salvador, Mãe de Deus. Rezai muito.”
Com estas palavras, confirmou a sua missão maternal sobre a humanidade e encerrou o ciclo das aparições.
Linha de tempo dos acontecimentos
- 15 de janeiro de 1933 – Primeira aparição à janela da casa de Mariette.
- 18 de janeiro de 1933 – Identificação como “Virgem dos Pobres”; condução até a fonte.
- 19 de janeiro a 11 de fevereiro de 1933 – Aparições sucessivas com mensagens de oração e compaixão.
- 2 de março de 1933 – Última aparição, Maria apresenta-se como “Mãe do Salvador, Mãe de Deus”.
- 1935-1937 – Primeiras investigações da diocese de Liège.
- 1949 – Início do processo formal de reconhecimento.
- 22 de agosto de 1949 – O bispo de Liège, Louis-Joseph Kerkhofs, autoriza oficialmente o culto a Nossa Senhora de Banneux.
- 19 de março de 1952 – O mesmo bispo declara as aparições “dignas de crédito” e recomenda a sua difusão.
O papel da fonte
Assim como em Lourdes, a fonte de Banneux tornou-se o centro da devoção. Desde as primeiras aparições, foram relatadas curas inexplicáveis ligadas ao uso da água, muitas delas investigadas pela Igreja.
Ainda hoje, a fonte jorra continuamente e milhares de peregrinos nela encontram consolo espiritual e esperança.
Aprovação eclesiástica
A Igreja, prudente como sempre em casos de aparições, investigou longamente o fenómeno.
Foram estudadas a personalidade de Mariette, a coerência do relato, a ortodoxia das mensagens e os frutos espirituais. Médicos e peritos acompanharam os fenómenos associados (êxtases, curas, testemunhos).
Após 16 anos de observação, o bispo de Liège declarou as aparições autênticas em 1949, permitindo oficialmente o culto. Em 1952, confirmou-se o carácter sobrenatural e deu-se a aprovação definitiva, o que fez de Banneux um santuário internacional mariano.
O Santuário de Banneux
Atualmente, o Santuário de Nossa Senhora de Banneux recebe centenas de milhares de peregrinos por ano, sobretudo doentes e pobres, em sintonia com a mensagem original.
- A Capela das Aparições foi construída junto à casa da vidente.
- A Fonte de Nossa Senhora dos Pobres é hoje um dos pontos mais visitados.
- Celebra-se de forma especial o 15 de janeiro (início das aparições) e o 2 de março (conclusão).
O significado espiritual
A mensagem de Banneux é clara e atual:
- Maria é Mãe dos Pobres – dirige-se sobretudo aos que sofrem, aos marginalizados e aos abandonados.
- Fonte de cura e consolo – o sinal da água lembra que Deus oferece esperança e alívio.
- Chamado universal à oração – não só para os católicos belgas, mas “para todas as nações”.
Num tempo de crise social e espiritual, Maria apresentou-se como Mãe próxima e atenta, fortalecendo a fé de um povo e deixando um testemunho para todo o mundo.
Conclusão
As aparições de Nossa Senhora de Banneux (1933) são um complemento providencial às de Beauraing: enquanto lá Maria se mostrou como Virgem do Coração Dourado, em Banneux revelou-se como Virgem dos Pobres, chamando o mundo à compaixão e à oração.
A sua aprovação oficial e a continuidade da devoção confirmam que a mensagem de Maria em Banneux permanece viva: Deus não abandona os pobres nem os que sofrem — pelo contrário, neles manifesta de forma especial o Seu amor.