A celebração de Cristo Rei, hoje tão presente no calendário litúrgico da Igreja Católica, teve origem numa encíclica do Papa Pio XI. No contexto de um mundo em crise e afastado de Deus, o pontífice quis recordar aos fiéis e às nações que Jesus Cristo é Senhor da história e Rei de todo o universo.
Contexto histórico
A encíclica Quas Primas foi publicada em 11 de dezembro de 1925 pelo Papa Pio XI.
O período entre as duas guerras mundiais foi marcado por profundas transformações sociais e políticas:
- o avanço de regimes totalitários (fascismo, comunismo, nazismo) que tentavam substituir a fé pela ideologia;
- o secularismo crescente, que marginalizava a religião;
- e as graves consequências da Primeira Guerra Mundial, que deixara milhões de mortos e uma sociedade desorientada.
Neste cenário de crise, Pio XI quis recordar que a verdadeira paz só se encontra no reconhecimento da soberania de Cristo.
A encíclica Quas Primas
No documento, o Papa sublinhou que a realeza de Cristo não é apenas espiritual, mas tem também consequências sociais e políticas, pois Jesus deve reinar sobre as pessoas, as famílias, as leis e as instituições.
Pio XI escreveu que a negação da realeza de Cristo tinha sido a causa das guerras, da divisão e da violência. Pelo contrário, quando Cristo é reconhecido como Rei, nasce a paz verdadeira, fundada na justiça e na caridade.
Assim, o Papa afirmou com clareza:
- Cristo é Rei porque é o Verbo de Deus, Criador de todas as coisas.
- Cristo é Rei porque, pela sua morte e ressurreição, redimiu a humanidade.
- O Reino de Cristo é espiritual, mas não está desligado da vida social: deve inspirar a moral, a justiça e as relações humanas.
A instituição da festa de Cristo Rei
Na mesma encíclica, Pio XI instituiu a festa litúrgica de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei para ser celebrada anualmente em toda a Igreja.
Originalmente, a celebração foi marcada para o último domingo de outubro, imediatamente antes da festa de Todos os Santos. Com este posicionamento, o Papa quis destacar a ligação entre o Reino de Cristo e a santidade da Igreja.
Mais tarde, após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, em 1969, a solenidade passou a ser celebrada no último domingo do Tempo Comum, encerrando o ano litúrgico e sublinhando a dimensão escatológica: Cristo é o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim da história.
A actualidade da mensagem
Quase um século depois, a mensagem da Quas Primas continua extremamente actual. Num mundo que muitas vezes rejeita Deus e coloca o poder, o dinheiro ou a tecnologia como absolutos, a Igreja recorda que só Cristo é Rei e Senhor da vida e da história.
A solenidade de Cristo Rei convida todos os fiéis a viver com a consciência de que a sua vida deve ser orientada pelos valores do Evangelho:
- justiça e verdade, contra toda a mentira e corrupção;
- caridade e paz, contra o ódio e a violência;
- fé e esperança, contra o desespero e o vazio espiritual.
Conclusão
A encíclica Quas Primas, de 11 de dezembro de 1925, não foi apenas um texto doutrinal, mas uma resposta concreta de Pio XI às dificuldades do seu tempo. Ao instituir a festa de Cristo Rei, o Papa quis recordar que a verdadeira soberania pertence a Cristo e que, sob o seu reinado, a humanidade pode encontrar unidade e paz.
A solenidade, celebrada hoje no último domingo do Tempo Comum, encerra o ano litúrgico com a certeza de que Cristo é Rei do universo e que o seu Reino não terá fim.