Neste dia, em 1898, a Beata Maria do Divino Coração escrevia a primeira carta ao Papa Leão XIII

A história da Beata Maria do Divino Coração, nascida Maria Droste zu Vischering, é uma das mais belas e profundas manifestações da ternura do Sagrado Coração de Jesus para com a humanidade. Foi através dela que o Senhor transmitiu um dos seus mais importantes pedidos ao Papa Leão XIII: a consagração do mundo inteiro ao Seu Coração Divino.

Origens e Vocação Religiosa

Maria Droste zu Vischering nasceu a 8 de setembro de 1863, em Münster, na Alemanha, numa família nobre e profundamente cristã. Desde criança, revelou uma alma piedosa e uma sensibilidade especial para com os pobres e os sofredores.

Durante a adolescência, estudou num colégio dirigido pelas Irmãs do Bom Pastor em Riedenburg, onde amadureceu a sua vocação religiosa. Apesar das hesitações iniciais — próprias de uma jovem de sua condição —, sentiu o chamamento de Jesus de forma cada vez mais forte.

Em 21 de novembro de 1888, entrou no convento das Irmãs do Bom Pastor em Münster e, dois anos depois, recebeu o nome religioso de Irmã Maria do Divino Coração.

Missão em Portugal

Em 1894, a Irmã Maria foi enviada para Portugal, como superiora da Casa do Bom Pastor do Porto, instituição dedicada à reabilitação de mulheres e jovens em risco. A comunidade situava-se no Palácio do Menino de Deus, junto ao atual Hospital de Santo António.

A missão era exigente, mas Maria demonstrou uma serenidade e uma doçura que cativavam todas as que a rodeavam. A sua vida tornou-se um exemplo de caridade ativa, oração intensa e união profunda com Cristo.

Foi neste ambiente de entrega total que Jesus começou a revelar-lhe o grande desígnio do Seu Coração.

As Revelações do Sagrado Coração de Jesus

Entre 1896 e 1899, a Beata Maria do Divino Coração começou a receber locuções interiores — comunicações espirituais vindas diretamente de Jesus. O conteúdo destas mensagens girava em torno do amor infinito do Seu Coração e do desejo ardente de ser conhecido, amado e honrado por toda a humanidade.

Jesus confiou-lhe uma missão muito específica: pedir ao Papa Leão XIII que consagrasse o mundo inteiro ao Seu Sagrado Coração.

A Primeira Carta ao Papa Leão XIII

A primeira carta foi escrita a 10 de junho de 1898, a partir do convento do Bom Pastor no Porto. Nela, a Irmã Maria relatou o pedido do Senhor, explicando que Jesus queria atrair todas as almas ao Seu amor, e que essa consagração deveria ser feita por meio da autoridade suprema do Papa.

Eis um trecho comovente da mensagem recebida por ela:

O mundo está a perder-se porque se afastou do Meu Coração. Desejo que o mundo inteiro seja consagrado ao Meu Coração, para que o fogo do Meu amor abrase todas as nações.

O Papa Leão XIII, inicialmente prudente, pediu investigações e discernimento espiritual. Mas as mensagens continuaram, e Maria escreveu uma segunda carta em 6 de janeiro de 1899, reforçando o pedido e transmitindo a urgência de Jesus.

A Segunda Carta e a Confirmação do Céu

Na segunda carta, a Irmã Maria afirmou com humildade, mas também com firmeza, que o próprio Jesus confirmara o pedido:

O Senhor insiste, Santo Padre, para que o mundo seja colocado sob a Sua proteção. Esta consagração trará graças imensas à Igreja e à sociedade.”

Pouco tempo depois, o Papa Leão XIII — profundamente impressionado — decidiu atender ao pedido. Assim, por meio da Encíclica Annum Sacrum, publicada a 25 de maio de 1899, proclamou a consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus, que teve lugar solenemente a 11 de junho de 1899.

Mais tarde, o próprio Papa declararia que este ato fora “o maior feito do seu pontificado”.

A Morte da Beata Maria do Divino Coração

Curiosamente, a Beata não chegou a ver o cumprimento do pedido de Jesus. Gravemente doente com uma inflamação na espinha dorsal, ofereceu todos os seus sofrimentos pela realização da consagração.

Na véspera da cerimónia papal, a 8 de junho de 1899, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Maria do Divino Coração partiu serenamente para a Casa do Pai, com apenas 35 anos.

O seu rosto permaneceu sereno e belo, e o seu corpo incorrupto é venerado até hoje na Igreja do Coração de Jesus, no Porto.

O Reconhecimento da Igreja

O processo de beatificação começou em 1920, e em 13 de novembro de 1975, o Papa Paulo VI declarou-a Beata Maria do Divino Coração. A Igreja reconheceu oficialmente a autenticidade das revelações e a influência decisiva que tiveram na consagração universal realizada por Leão XIII.

A sua memória litúrgica celebra-se a 8 de junho, coincidindo frequentemente com a solenidade do Sagrado Coração.

A Mensagem Espiritual da Beata Maria do Divino Coração

A vida e missão da Beata Maria do Divino Coração são uma síntese perfeita da espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus: amor, reparação, confiança e entrega total.

Jesus revelou-lhe que o Seu Coração é a fonte viva do amor e da misericórdia, e que todos os que a Ele se confiam encontrarão refúgio e paz.

O Coração de Jesus é o trono da graça, o lar da ternura, o abrigo dos aflitos e o refúgio dos pecadores.

O Culto e a Devoção Hoje

Em Portugal, o Santuário do Coração de Jesus no Porto é um local de peregrinação e oração silenciosa, onde o corpo incorrupto da Beata continua a inspirar devoção.

O seu exemplo recorda-nos que a santidade nasce da intimidade com Cristo, e que o amor ao Sagrado Coração é a resposta mais pura ao amor divino.

Conclusão

A Beata Maria do Divino Coração foi instrumento do amor de Cristo para o mundo. Por meio dela, o Senhor pediu a consagração universal ao Seu Coração, um ato que ainda hoje sustenta espiritualmente a Igreja e o mundo.

A sua vida é um convite à confiança total em Jesus, à entrega generosa e à oração reparadora.

O Coração de Jesus quer reinar. E esse reinado começa em cada coração que se deixa tocar pelo Seu amor.”

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