Neste dia, em 1857, foi tocada a Marcia Trionfale, o primeiro hino papal e do Vaticano

A “Marcia trionfale” foi o primeiro hino pessoal do Papa e o primeiro hino estatal do Estado da Cidade do Vaticano. Foi escrito em 1857 por Viktorin Hallmayer, então diretor da banda do 47º Regimento de Infantaria de Linha austríaco, estacionado nos Estados Papais.

A Marcia foi tocada pela primeira vez na noite de 9 de junho de 1857, para celebrar a entrada do Papa Pio IX em Bolonha. Mostrou-se imediatamente popular e foi usada repetidamente durante a viagem do Papa a Florença e outras cidades da Itália central, e aquando do seu regresso a Roma a 5 de setembro de 1857. Esta música também foi tocada nas ruas de Roma para celebrar o Tratado de Latrão entre o papado e o Reino da Itália em 11 de fevereiro de 1929 e o fim da Questão Romana.

A criação do Estado do Vaticano e a escolha de um hino

Com a assinatura dos Pactos de Latrão em 1929, foi criado oficialmente o Estado da Cidade do Vaticano. Era necessário dotar o novo Estado soberano de símbolos próprios, como bandeira, brasão… e hino.

Curiosamente, a escolha do hino não foi imediata. Durante anos, a “Marcia Trionfale” continuou a ser usada, mas foi apenas em 1949, por ocasião do 80.º aniversário da criação do hino, que o Papa Pio XII a declarou oficialmente Hino Pontifício e do Estado da Cidade do Vaticano.

Origem e composição

A música do Hino Pontifício foi composta por Charles Gounod, um célebre compositor francês do século XIX, autor de obras sacras como o “Ave Maria” baseado numa peça de Bach. Gounod compôs a peça em 1869, por ocasião da celebração do 50.º aniversário da ordenação sacerdotal do Papa Pio IX.

Inicialmente, a composição chamava-se apenas “Marche Pontificale” (Marcha Pontifícia) e foi interpretada pela primeira vez em Roma a 11 de abril de 1869. A sua majestosa harmonia e estilo solene rapidamente conquistaram espaço nas celebrações papais e foi usada de forma não oficial em cerimónias durante várias décadas.

Apesar do uso contínuo da peça de Gounod, apenas em 1949, o Papa Pio XII decidiu oficializar o Hino Pontifício de Charles Gounod como hino do Vaticano, substituindo o anterior “Marcia Trionfale” de Viktorin Hallmayer, que era usado desde 1857, através de um decreto datado de 16 de outubro de 1949, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 1950. A peça foi tocada a 24 de dezembro de 1949, no dia da abertura da Porta Santa para o Jubileu de 1950, logo após a última interpretação da “Marcia trionfale”. A decisão de Pio XII procurou reforçar o caráter religioso e universal do hino, distinguindo-o dos hinos nacionais comuns. A peça de Gounod, ao mesmo tempo solene e espiritual, parecia reunir essas características desejadas.

A letra oficial

Durante décadas, o Hino Pontifício foi executado apenas instrumentalmente. Em 1949, aquando da sua oficialização, foi também escrita uma letra em latim, intitulada “O Roma felix”, mas esta nunca foi amplamente usada.

Mais tarde, o poeta italiano Antonio Allegra, organista da Basílica de São Pedro, escreveu a letra em italiano, mais acessível e cantada ocasionalmente em celebrações. A versão mais conhecida da letra é a seguinte:

O Roma felix, o nobil Roma Sancta,
Caput mundi regit orbis frena recta
Roma alma mater, amore Christi laeta
Spes tua nos ducat, iter nostrum secet.

No entanto, a execução do hino continua a ser, na grande maioria dos eventos, instrumental.

Quando é tocado

O Hino do Vaticano é executado em diversas ocasiões solenes e oficiais que envolvem o Papa ou o Estado do Vaticano, nomeadamente:

  • Durante as cerimónias oficiais do Papa
  • Em receções protocolares no Vaticano
  • Em visitas papais a outros países
  • Na celebração de datas simbólicas, como a eleição ou a morte de um Papa
  • Durante o hasteamento da bandeira vaticana

Conclusão

Importante sublinhar que o Hino Pontifício não é um hino nacional no sentido tradicional, pois o Vaticano, enquanto Estado, tem uma natureza singular, centrada na autoridade espiritual do Papa. Por isso, o hino representa, sobretudo, a função universal da Igreja e do Sucessor de Pedro. A música de Gounod, com o seu caráter nobre e majestoso, expressa a dignidade da missão do Papa como líder da Igreja Católica e o papel do Vaticano como centro espiritual da cristandade. A sua melodia inspira respeito, solenidade e unidade, sendo reconhecida por católicos de todo o mundo como sinal de comunhão com a Sé de Pedro.

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