A coroação de Nossa Senhora como Rainha de Portugal é um evento de grande significado histórico e religioso que remonta ao longo dos séculos. Esta cerimónia, que teve lugar em 1646, solidificou a devoção mariana do povo português e estabeleceu um importante marco na relação entre a fé católica e a identidade nacional.
Contexto Histórico
Para entender completamente a importância da coroação de Nossa Senhora como Rainha de Portugal, é crucial examinar o contexto histórico no qual ocorreu. O século XVII foi um período tumultuado para Portugal, marcado por conflitos internos e externos, incluindo a Guerra da Restauração da Independência Portuguesa contra a Espanha. Durante esse período de instabilidade política e social, a devoção mariana cresceu em Portugal, proporcionando conforto espiritual e esperança para o povo português.
A Devoção Mariana em Portugal
A devoção a Nossa Senhora remonta aos primórdios da história de Portugal. Acredita-se que os primeiros reis portugueses, como Afonso Henriques, demonstraram uma forte devoção à Virgem Maria, procurando a sua proteção e intercessão em momentos de dificuldade. Ao longo dos séculos, Nossa Senhora foi venerada em todo o país, com numerosos santuários e festividades em sua honra.
O mesmo em relação a D. João, Mestre de Avis, na Batalha de Aljubarrota onde incitou os seus companheiros de armas em nome de Deus e da Virgem Maria.
E também D. Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, por ser devotíssimo da Virgem Santa Maria que respondeu às suas preces em Valverde, Atoleiros e Aljubarrota, mandou construir a Igreja de N. Srª da Conceição de Vila Viçosa. Para o efeito, encomendou em Inglaterra a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Mas foi após a Restauração de 1640, com D. João IV, que se verifica um grande impulso na devoção à Senhora da Conceição por todo o país. No dia 8 de Dezembro de 1640, Frei João de S. Bernardino, ao pregar na capela Real de Lisboa na presença do Duque de Bragança, agora já rei de Portugal, termina o sermão por uma solene promessa: “Seja assi, Senhora, seja assi; e eu vos prometo, em nome de todo este Reyno, que elle agradecido levante um tropheo a Vossa Immaculada Conceição, que vencendo os seculos, seja eterno monumento da Restauração de Portugal“.
A Coroação de Nossa Senhora
A coroação de Nossa Senhora como Rainha de Portugal ocorreu em 1646, durante o reinado de João IV. Foi a 25 de Março de 1646 que D. João IV organizou uma cerimónia solene, em Vila Viçosa, para agradecer a Nossa Senhora a restauração da independência em relação a Espanha. Foi até à igreja da Senhora da Conceição, ofereceu a coroa portuguesa a Nossa Senhora, colocando-a a seus pés, proclamou-a Padroeira Portugal.
Deste modo, Nossa Senhora torunou-se a verdadeira Soberana de Portugal e, por isso, desde esse dia, mais nenhum rei ou rainha usaram coroa real na cabeça, previlégio que passou a pertencer apenas a Nossa Senhora. Em cerimónias solenes, a coroa passou a ser colocada em cima de uma almofada, ao lado do rei. Um facto extraordinário e único no mundo.
Significado e Legado
A coroação de Nossa Senhora como Rainha de Portugal teve um profundo impacto na consciência nacional e na devoção religiosa do povo português. Esta cerimónia simbólica reforçou a ideia de que Portugal era um país abençoado e protegido pela Virgem Maria. Além disso, a coroação ressaltou a importância da fé católica na identidade nacional, unindo o povo português em torno da sua devoção partilhada.
Continuidade da Devoção Mariana
Ao longo dos séculos, a devoção mariana continuou a desempenhar um papel central na vida espiritual e cultural de Portugal. Santuários dedicados a Nossa Senhora, como o de Fátima, tornaram-se destinos de peregrinação para milhões de fiéis em todo o mundo. A coroação de Nossa Senhora como Rainha de Portugal permanece como um lembrete duradouro do poder da fé e da importância da intercessão divina na história de Portugal.