O Milagre Eucarístico de Santarém é um evento católico que remonta ao século XIII e é considerado um dos mais notáveis e bem documentados milagres envolvendo a Eucaristia na história da Igreja Católica. O evento ocorreu na cidade de Santarém, Portugal, e tem sido objeto de veneração e estudo ao longo dos séculos.
Contexto Histórico
O Milagre Eucarístico de Santarém ocorreu num período de grande fervor religioso na Europa, especialmente no que diz respeito à devoção à Eucaristia. No século XIII, a crença na presença real de Cristo na Eucaristia estava profundamente enraizada na fé católica e muitos fiéis demonstravam grande devoção e respeito pelo Sacramento da Comunhão.
O Milagre
O evento em questão ocorreu na Igreja de São Estêvão, em Santarém, por volta do ano de 1247. De acordo com os relatos históricos, uma jovem mulher, desesperada com o comportamento infiel do marido, procurou a ajuda de uma bruxa. A bruxa deu à jovem instruções para roubar uma Hóstia Consagrada durante a missa. A mulher seguiu as instruções e, durante a celebração da Eucaristia, quando recebida a Sagrada Partícula, com muito cuidado tirou-a da boca, embrulhando-a no véu. Saiu rapidamente da igreja, encaminhando-se para a casa da feiticeira. No entanto, quando deixava a igreja com a Hóstia, do véu começou a escorrer sangue. A mulher entrou em pânico e fugiu. Ao chegar em casa, escondeu o véu numa arca. De noite, quando o marido já tinha chegado a casa, acordam os dois e vêem toda a casa resplandecente. Da arca saíam misteriosos raios de luz. Inteirando o homem dos seus atos, ambos, de joelhos, passaram o resto da noite, em adoração.
No dia seguinte, o casal visita o pároco, informando-o do prodígio sobrenatural. A Sagrada Partícula foi então levada, em procissão, para a Igreja de Santo Estêvão, onde ficou conservada dentro de uma espécie de custódia feita de cera. Mas, passado alguns anos, em 1340, verificou-se um outro Milagre. Ao abrir-se o sacrário para expor à adoração dos fiéis, como era costume, encontrou-se a cera feita em pedaços e, com espanto, descobriu-se que a Sagrada Partícula encontrava-se encerrada numa âmbula de cristal, miraculosamente aparecida. Esta pequena âmbula foi colocada num ostensório de prata dourada, onde ainda hoje se encontra.
O Santuário do Santíssimo Milagre
A Igreja Paroquial de Santo Estêvão é actualmente o Santuário do Santíssimo Milagre. Desde a ocorrência do milagre, esta igreja foi destino de inúmeras procissões, feitas pela corte régia, ou por grandes personalidades da nobreza e do clero, sobretudo a pretexto de doenças, cheias ou de seca.
Muitos são os ecos que, documentalmente, ficaram como testemunho, como o caso da Rainha Santa Isabel, que passando por Santarém a caminho de Coimbra, a fim de pacificar as discórdias entre o marido D. Dinis e filho D. Afonso IV, mandou fazer uma procissão de preces, em que ela acompanhou descalça o Santíssimo Milagre, com uma corda ao pescoço e coberta de cinzas, implorando assim a misericórdia do Altíssimo. Também o rei D. Afonso VI, a 25 de Janeiro de 1664, ao deslocar-se a Santarém, não deixou de visitar a Igreja do Santíssimo Milagre e o Convento de São Domingos, onde, por esta época, conservava-se o misterioso véu que envolvera a Sagrada Hóstia e na qual era ainda visível o sangue. No local onde se situava a casa da pobre mulher, encontra-se hoje a Ermida do Milagre.
Posição da Igreja
A Igreja Católica reconhece oficialmente o milagre eucarístico de Santarém como autêntico. Vários papas concederam indulgências aos peregrinos e visitantes devotos do Santíssimo Milagre de Santarém: o Papa Pio IV (1559-1565) concedeu indulgência aos peregrinos que visitam a Igreja do Santíssimo Milagre; O Papa Pio V e o Papa Pio VI concederam privilégios aos peregrinos que visitam a Igreja-Santuário; e o Papa Gregório XIV (1590-1591) concedeu indulgência plenária a todos os membros da Real Irmandade do Santíssimo Milagre de Santarém no dia da sua entrada na irmandade e no dia da sua morte.
Veneração
Ainda hoje a Sagrada Partícula está guardada num Trono Eucarístico do século XVIII, sobre o altar principal. Desde que aconteceu o Milagre, todos os anos no segundo domingo de Abril, a preciosa Relíquia é levada em procissão da casa dos esposos até à igreja de Santo Estêvão. No decorrer dos séculos, a hóstia apareceu como tecido hemorrágico fresco ou seco e endurecido. Segundo pessoas que a viram, ela tem um formato irregular e veias que vão de cima a baixo.
O fato da hóstia permanecer intacta durante todos esses anos é um “segundo milagre” que continua desafiando os céticos. É um sinal para todos da presença real de Jesus na Eucaristia e tem revigorado a fé de muitos católicos ao redor do mundo.
O Milagre Eucarístico de Santarém é considerado o mais importante depois do Milagre de Lanciano. Estudos e investigações canónicas têm sido feitas ao longo dos anos, sendo o mais importante o de 1340 e 1612, que comprovou sem dúvida a autenticidade e antiguidade do Milagre Eucarístico.
Conclusão
O Milagre Eucarístico de Santarém continua a ser um testemunho poderoso da fé católica na presença real de Cristo na Eucaristia. Ao longo dos séculos, tem inspirado milhões de fiéis a uma maior devoção e reverência à Sagrada Eucaristia. A história do milagre continua a ser contada e celebrada, lembrando os crentes da maravilha e do mistério da presença de Cristo no Santíssimo Sacramento.