O dízimo é uma prática de longa data na tradição cristã, profundamente enraizada nas Escrituras e na história da Igreja. Consiste na oferta voluntária de uma parte dos rendimentos de uma pessoa à Igreja, seja através de 10% dos rendimentos ou de um compromisso regular de doação, a essência do dízimo está em dar com amor, alegria e gratidão, confiando na fidelidade de Deus para suprir todas as necessidades.
Origem bíblica do dízimo
A palavra “dízimo” deriva do termo hebraico “ma’aser,” que significa literalmente “um décimo”. A prática do dízimo aparece pela primeira vez na Bíblia no Antigo Testamento. Em Génesis 14:18-20, Abraão oferece um décimo de tudo o que tinha a Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote de Deus Altíssimo. Este evento é frequentemente citado como o primeiro exemplo de dízimo, marcando o reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as posses.
Mais tarde, a prática é formalizada na Lei Mosaica. Levítico 27:30-32 instrui o povo de Israel a entregar um décimo dos rendimentos, seja em grãos ou frutos, ao Senhor. Esta prática era uma expressão de gratidão e reconhecimento de que tudo o que o povo possuía vinha de Deus. O dízimo destinava-se ao sustento dos levitas (o clã sacerdotal que não tinha herança própria) e para o auxílio aos pobres, órfãos e viúvas, como detalhado em Deuteronómio 14:28-29.
O dízimo no Novo Testamento
No Novo Testamento, o conceito de dízimo não é tão fortemente enfatizado quanto no Antigo Testamento, mas a prática continua a ser reconhecida. Jesus menciona o dízimo em Mateus 23:23 e Lucas 11:42, criticando os fariseus por serem rigorosos em dar o dízimo, mas negligenciarem os aspectos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fé. Jesus não condena a prática do dízimo, mas enfatiza que deve ser realizada juntamente com a prática da justiça e do amor.
O Novo Testamento também amplia o conceito de oferta, encorajando a generosidade e o apoio financeiro às igrejas e aos necessitados. Em 2 Coríntios 9:6-7, Paulo exorta os cristãos a dar de forma generosa e de coração, sem constrangimento ou obrigação. Ele enfatiza que “Deus ama quem dá com alegria“, o que sugere que a atitude por trás da doação é tão importante quanto o ato em si.
O significado espiritual e teológico do dízimo
O dízimo possui um profundo significado espiritual e teológico dentro da fé cristã. Não é apenas uma questão de financiar as atividades da igreja, é uma expressão de fé, gratidão e obediência a Deus. Dar o dízimo é uma forma de reconhecer que Deus é a fonte de todas as bênçãos materiais e espirituais.
Expressão de Gratidão: O dízimo é uma maneira de os cristãos expressarem a sua gratidão a Deus por todas as bênçãos recebidas. Ao devolver a Deus uma parte dos seus rendimentos, o cristão reconhece que tudo o que possui vem de Deus e que Ele é o verdadeiro dono de todas as coisas.
Obediência e Disciplina Espiritual: Dar o dízimo é um ato de obediência aos mandamentos de Deus, uma prática que requer disciplina e auto-negação. Para muitos cristãos, é uma maneira de praticar a fidelidade a Deus em todas as áreas da vida, incluindo as finanças.
Sustento da Igreja e Obras de Caridade: O dízimo tem um propósito prático e funcional: sustentar as atividades da Igreja, o clero e as obras de caridade. É uma forma pela qual a comunidade cristã pode apoiar uns aos outros e aos mais necessitados.
Manifestação de Fé e Confiança: Dar o dízimo, especialmente em tempos de dificuldades financeiras, é uma manifestação de fé e confiança em Deus. É acreditar que Deus proverá todas as necessidades, conforme prometido em Filipenses 4:19: “Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as Suas riquezas na glória em Cristo Jesus.”
A prática do dízimo na Igreja contemporânea
Na Igreja Católica, o dízimo não é exigido como um mandamento estrito, mas é encorajado como uma prática espiritual valiosa. O Código de Direito Canónico, embora não estipule um montante específico para o dízimo, incentiva os fiéis a contribuírem para o sustento da Igreja de acordo com as suas capacidades.
No Código de Direito Canônico vigente, promulgado pelo papa João Paulo II (1920-2005) em 1983, a contribuição financeira dos membros da Igreja está prevista no artigo 222: “Os fiéis têm a obrigação de prover às necessidades da Igreja, de forma que ela possa dispor do necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade, e para a honesta sustentação de seus ministros”, diz o texto. “Têm ainda a obrigação de promover a justiça social e, lembrados do preceito do Senhor, de auxiliar os pobres com seus próprios recursos“.
Reflexões sobre a prática do dízimo
Embora a prática do dízimo tenha evoluído ao longo dos séculos, o fundamento espiritual permanece o mesmo: um ato de adoração, gratidão e compromisso com Deus. Para muitos cristãos, o dízimo é uma forma de participar ativamente na missão da Igreja, contribuir para o bem comum e cultivar um espírito de generosidade.
No entanto, é importante que o dízimo seja compreendido no contexto espiritual e não apenas como uma exigência financeira. Deve ser dado com um coração sincero, sem constrangimento ou compulsão. Como ensina Paulo, é o coração alegre e generoso que agrada a Deus.
Conclusão
Em última análise, o dízimo e as ofertas são formas pelas quais os cristãos podem responder ao amor de Deus, reconhecendo a sua bondade e providência, e participando da missão de partilhar o Evangelho e servir aos outros. Seja através de 10% dos rendimentos ou de um compromisso regular de doação, a essência do dízimo está em dar com amor, alegria e gratidão, confiando na fidelidade de Deus para suprir todas as necessidades.