Confissão, o sacramento da reconciliação com Deus

O Sacramento da Confissão, também conhecido como Reconciliação ou Penitência, é um dos sete sacramentos da Igreja Católica. Enraizado no perdão dos pecados através da autoridade dada por Cristo aos apóstolos (Jo 20,22-23), permite aos fiéis confessar os seus pecados, receber absolvição e realizar penitência. Este sacramento proporciona uma renovação espiritual profunda, restaurando a comunhão com Deus e fortalecendo a alma contra futuras tentações. Mesmo em tempos modernos, a Confissão continua a ser essencial para a vida espiritual e a reconciliação.

Porquê confessar?

Perante a pergunta “por que confessar-se?”, o Papa Francisco diz «porque somos pecadores! Ou seja, pensamos e agimos de modo contrário ao Evangelho. Quem diz que não tem pecados, ou é mentiroso ou é cego. No Sacramento, Deus perdoa sempre os filhos que, tendo contradito a sua identidade, confessam as suas misérias e ao mesmo tempo a sua misericórdia. O perdão dos nossos pecados não é algo que possamos dar a nós mesmos. Eu não posso dizer: perdoo os meus pecados. O perdão é pedido a outra pessoa e na Confissão pedimos o perdão a Jesus. O perdão não é fruto dos nossos esforços, mas uma dádiva, é um dom do Espírito Santo».

Fundamento bíblico e teológico

A base para este sacramento encontra-se no Evangelho de João (Jo 20,22-23), onde Jesus diz aos apóstolos: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.” A Igreja interpreta esta passagem como a concessão do poder de perdoar pecados aos sacerdotes, que, agindo in persona Christi (na pessoa de Cristo), têm autoridade para administrar o sacramento da Confissão.

História do sacramento

Nos primeiros séculos do cristianismo, a Confissão era pública, e pecados graves como assassinato, adultério e apostasia eram confessados diante da comunidade. A penitência também era severa, muitas vezes envolvendo longos períodos de exclusão dos sacramentos. Com o passar dos séculos, a prática evoluiu para uma forma mais privada, especialmente com a influência dos monges irlandeses nos séculos VI e VII. Foi com o Concílio de Trento (1545-1563), em resposta à Reforma Protestante, que a Igreja definiu formalmente a doutrina da Confissão como um sacramento necessário para a salvação após o Batismo.

Elementos da confissão

O sacramento da Confissão possui quatro elementos principais:

  1. Exame de Consciência: Antes da confissão, o penitente reflete sobre os seus pecados para poder confessá-los com sinceridade.
  2. Contrição: É o arrependimento sincero pelos pecados cometidos. A contrição pode ser perfeita (motivada pelo amor a Deus) ou imperfeita (motivada pelo medo da punição).
  3. Confissão dos Pecados: O fiel deve confessar todos os pecados graves de que se lembre, explicando-os ao sacerdote.
  4. Absolvição e Penitência: Após a confissão, o sacerdote dá a absolvição, em nome de Cristo, e prescreve uma penitência, que pode envolver orações ou boas ações, como sinal de arrependimento

Exame de consciência

Para fazermos um bom exame de consciência é uma ajuda seguir um guia com um conjunto de questões que nos devemos colocar e pensar como foi o nosso comportamento em relação às mesmas. Existem várias opções que podemos escolher, entre as quais colocar-nos questões que nos confrontam com os Mandamentos da Lei de Deus ou ainda fazer um exame de consciência em relação aos pecados capitais, às sete obras de Misericórdia espirituais, às sete obras de Misericórdia corporais ou aos cinco mandamentos da Igreja.

Quando iniciar o exame de consciência deverá começar por um conjunto de perguntas preliminares:
Há quanto tempo não me confesso? Escondi, conscientemente, algum pecado grave em alguma confissão precedente? Confessei, o melhor que me lembro, o número de vezes que cometi cada pecado grave? Confessei com clareza os meus pecados ou fui demasiado genérico? Cumpri a penitência que me foi imposta pelo sacerdote? Reparei as injustiças que cometi? Comunguei alguma vez em pecado mortal? Respeitei sempre o jejum eucarístico de uma hora antes da comunhão? Estou verdadeiramente arrependido dos meus pecados e luto para não os voltar a cometer?

Depois desta abordagem inicial, questionar como tem sido a nossa vida. Esta é uma proposta do Papa Francisco para fazer um bom exame de consciência:

Em relação a Deus
Dirijo-me a Deus somente em caso de necessidade? Participo na Missa dominical e nos dias de preceito? Começo e termino o meu dia com a oração? Invoquei em vão o nome de Deus, de Maria e dos Santos? Envergonho-me de me apresentar como cristão? O que faço para crescer espiritualmente, como e quando o faço? Revolto-me diante dos desígnios de Deus? Pretendo que seja Ele a cumprir a minha vontade?

Em relação ao próximo
Sei perdoar, partilhar, ajudar o próximo? Julgo sem piedade, tanto em pensamento quando com palavras? Caluniei, roubei, desprezei os mais pequenos e indefesos? Sou invejoso, colérico, parcial? Tomo conta dos pobres e dos doentes? Envergonho-me da carne do meu irmão ou da minha irmã?

Sou honesto e justo com todos ou alimento a “cultura do descartável”? Instiguei os outros a fazer o mal? Observo a moral conjugal e familiar que o Evangelho ensina? Como vivo as responsabilidades educativas para com os meus filhos? Honro e respeito os meus pais? Rejeitei a vida após a conceção? Desperdicei o dom da vida? Ajudei a fazê-lo? Respeito o ambiente?

Em relação a mim mesmo
Sou um pouco mundano e pouco crente? Exagero em comer, beber, fumar e divertir-me? Preocupo-me em excesso com a saúde física, com os meus bens? Como uso o meu tempo? Sou preguiçoso? Procuro ser servido? Amo e cultivo a pureza de coração, de pensamentos e de ações? Nutro vinganças, alimento rancores? Sou manso, humilde, construtor de paz?

Preparar a confissão (Contrição)

É importante preparar a confissão com serenidade. Não se deve ir confessar com um horário apertado ou com pressa de ir embora. Há que chegar com antecedência. Estar calmo. Se houver fila permanecer contrito, não conversar ou distrair-se com outras coisas e dispor-se numa postura de humildade interior: “Só Deus é perfeito, e nós muito lhe agradecemos a sua divina Misericórdia e paciência para com as nossas faltas”.
Com as mãos unidas e em introspeção, devemos começar por fazer uma oração, preferencialmente em frente ao Santíssimo Sacramento. É preciso entender que a Confissão não pode transformar-se numa atividade mecânica e rotineira, feita de maneira automática e sem o devido arrependimento dos pecados. Que o Senhor nos dê sempre a graça da contrição por nossas faltas e que possamos sempre recorrer à Sua infinita misericórdia.

Confissão

Após ter feito o exame de consciência, devemos dirigir-nos para o confessionário e, chegando a nossa vez, diante do sacerdote devemos:

  1. fazer o sinal da cruz, enquanto dizemos “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”;
  2. indicar quanto tempo se passou desde a nossa última confissão;
  3. confessar os pecados, começando pelos mais graves e com a maior exatidão possível, indicando quantas vezes os cometemos;
  4. expressar o nosso arrependimento dizendo o Ato de Contrição:

“Meu Deus, porque sois infinitamente bom, eu Vos amo de todo o meu coração, pesa-me de Vos ter ofendido, e, com o auxílio da vossa divina graça, proponho firmemente emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender; peço e espero o perdão das minhas culpas, pela vossa infinita misericórdia. Ámen”

ou a versão simples:

“Meu Deus, porque sois tão bom,
tenho muita pena de Vos ter ofendido.
Ajudai-me a não tornar a pecar”

  1. após a absolvição do sacerdote, cumprir a penitência indicada por este.

Efeitos do sacramento

O principal efeito do sacramento é o perdão dos pecados cometidos após o Batismo, especialmente os pecados mortais, que separam a alma da graça de Deus. A Confissão também proporciona uma renovação espiritual, restaurando a comunhão com Deus e a Igreja, além de fortalecer a alma contra futuras tentações.

Outro efeito importante é o alívio espiritual. Muitos penitentes relatam sentir um grande peso ser removido após confessarem os seus pecados, experimentando uma paz interior que é fruto da reconciliação com Deus.

Ter em conta que uma confissão não é válida se:

  • A pessoa omite um pecado mortal, seja por um exame de consciência feito de modo negligente, ou se isso acontece de forma intencional.
  • A confissão faz-se sem arrependimento e sem propósito sincero de emenda, pois estas são decisões que devem ser tomadas antes de confessar os pecados.
  • Quando a pessoa se confessa por modismo, para se parecer justa aos olhos dos homens, sem estar profundamente arrependida das suas faltas, e sem prometer a Deus que vai lutar para se emendar.
  • Quando a pessoa omite de propósito o número dos pecados mortais. É preciso que a pessoa diga quantas vezes cometeu aquela falta grave.
  • Quando já antes da absolvição, a pessoa não tem vontade de cumprir a penitência.
  • Quando a pessoa simplesmente se nega a perdoar alguém, vivo ou falecido, não importa o que este lhe tenha feito.

Quem pode confessar-se?

Qualquer católico batizado pode e deve receber o sacramento da Confissão, especialmente se estiver em estado de pecado grave. O Código de Direito Canónico exige que todos os fiéis confessem os seus pecados graves ao menos uma vez por ano, embora seja recomendado confessar-se com mais frequência para manter uma vida espiritual saudável.

A confissão na atualidade

Na sociedade moderna, a prática da Confissão muitas vezes enfrenta o desafio da secularização e a tendência para minimizar o conceito de pecado. No entanto, a Igreja continua a sublinhar a sua importância como uma prática de humildade, autoexame e busca pela graça de Deus. O Papa João Paulo II e o Papa Francisco são exemplos de líderes que insistiram na importância deste sacramento, encorajando os católicos a participarem regularmente.

Conclusão

O sacramento da Confissão é uma prática central da vida católica, oferecendo aos fiéis uma oportunidade única de reconciliar-se com Deus e de renovar o compromisso com a santidade. Através do arrependimento sincero e da absolvição sacerdotal, os cristãos experimentam a misericórdia divina de forma tangível, e, ao cumprir a penitência, reforçam a sua conversão e a caminhada espiritual. Este sacramento continua a ser uma ponte essencial para o restabelecimento da comunhão com Deus e com a Igreja.

Partilha esta publicação:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *