Neste dia, em 1226, o papa Honório III reconhecia oficialmente a Ordem do Carmo

A Ordem do Carmo, ou Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, é uma das grandes famílias religiosas da Igreja Católica, conhecida pela sua profunda espiritualidade mariana e contemplativa. A sua origem remonta ao Monte Carmelo, na Terra Santa, onde um grupo de eremitas se reuniu em busca de vida austera, oração constante e imitação de Cristo.

O momento decisivo para esta comunidade foi a aprovação da Regra de Santo Alberto, dada pelo patriarca latino de Jerusalém e confirmada oficialmente pelo Papa Honório III em 30 de janeiro de 1226, conferindo à nascente ordem identidade própria e aprovação eclesial.

O contexto da fundação

Os eremitas que habitavam o Monte Carmelo no século XII tinham deixado as suas terras de origem, maioritariamente da Europa, para viverem como eremitas junto da fonte de Elias, o profeta que a tradição considerava ter vivido e rezado naquele lugar.

O seu modo de vida era simples, inspirado no exemplo de Elias e na devoção à Virgem Maria, a quem consagraram uma capela no centro das suas celas. A necessidade de uma regra escrita que desse unidade à comunidade levou-os a dirigir-se a Santo Alberto Avogadro, então patriarca latino de Jerusalém (1205-1214).

A Regra de Santo Alberto

Entre 1206 e 1214, Santo Alberto redigiu a Regra, atendendo ao pedido dos eremitas do Carmelo. Esta regra é uma das mais antigas do monaquismo ocidental e apresenta características próprias, diferentes das de São Bento ou de São Basílio:

  • Ênfase na vida eremítica e contemplativa, centrada na oração constante e no silêncio.
  • Vida em pequenas celas individuais, voltadas para uma capela central.
  • Celebração diária da Eucaristia, sempre que possível.
  • Estrita prática do jejum e abstinência de carne.
  • Obediência a um superior, chamado prior.
  • Centralidade na meditação da Lei do Senhor e na vida de oração.

Esta simplicidade e radicalidade conferiam ao Carmelo uma identidade profundamente bíblica e mariana.

Aprovação pelo Papa Honório III

Após a morte de Santo Alberto, os eremitas levaram a regra a Roma para obter aprovação da Santa Sé. Foi o Papa Honório III, sucessor de Inocêncio III, quem a confirmou solenemente em 1226.

Com este ato, a Igreja reconhecia oficialmente a Ordem do Carmo, integrando-a na vida religiosa do Ocidente e garantindo a sua estabilidade.

A aprovação foi também um gesto de proteção, num tempo em que o monaquismo e as ordens mendicantes estavam em grande expansão. O Carmelo, nascido na Terra Santa, encontrava agora uma base canónica segura para a sua difusão.

A evolução da Regra

A Regra de Santo Alberto sofreu algumas adaptações ao longo do tempo, especialmente quando os carmelitas tiveram de deixar o Monte Carmelo devido às perseguições muçulmanas e se instalaram na Europa.

Em 1247, o Papa Inocêncio IV mitigou algumas das suas prescrições, aproximando a Ordem do modelo mendicante, de modo a favorecer a sua inserção nas cidades. Apesar destas mudanças, o espírito original da Regra – oração, silêncio, vida fraterna e devoção a Maria – permaneceu inalterado.

A espiritualidade carmelita

Da Regra de Santo Alberto nasceram os grandes traços da espiritualidade carmelita:

  • Oração constante, entendida como amizade com Deus.
  • Silêncio interior e exterior, como espaço para ouvir a voz do Senhor.
  • Devoção mariana profunda, vendo em Maria o modelo de discípula e mãe espiritual.
  • Vida comunitária fraterna, simples e austera.
  • Busca da perfeição evangélica pela obediência, castidade e pobreza.

Esta espiritualidade viria a florescer ao longo dos séculos em grandes santos, como Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, Santa Teresa do Menino Jesus e Santa Isabel da Trindade.

Linha do Tempo da Ordem do Carmo

  • c. 1150-1180 – Primeiros eremitas de origem europeia estabelecem-se no Monte Carmelo, junto à fonte do profeta Elias, vivendo em oração e austeridade.
  • c. 1206-1214Santo Alberto Avogadro, Patriarca Latino de Jerusalém, redige a Regra de Vida para os eremitas do Carmelo.
  • 14 de setembro de 1214 – Santo Alberto é assassinado em Acre, pouco tempo depois de dar a regra aos carmelitas.
  • 30 de janeiro de 1226 – O Papa Honório III aprova oficialmente a Regra de Santo Alberto, reconhecendo a Ordem do Carmo.
  • 1247 – O Papa Inocêncio IV adapta e mitiga a Regra, permitindo maior inserção da Ordem no contexto das cidades da Europa.
  • Séculos XV-XVI – A espiritualidade carmelita floresce com santos como Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz, que reformam a ordem e fundam os Carmelitas Descalços.
  • Século XIX-XX – Novos santos carmelitas enriquecem a Igreja, como Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), proclamada Doutora da Igreja, e Santa Isabel da Trindade (1880-1906).
  • Hoje – A família carmelita está presente em todo o mundo, mantendo viva a herança da Regra de Santo Alberto: oração, silêncio, vida fraterna e devoção mariana.

Conclusão

A aprovação da Regra de Santo Alberto por Honório III, em 1226, foi um marco decisivo na história da Igreja e na consolidação da Ordem do Carmo. O documento não apenas garantiu a sobrevivência e expansão da ordem, mas também ofereceu à Igreja um caminho original de vida consagrada, profundamente bíblico, contemplativo e mariano.

Hoje, a família carmelita espalha-se pelo mundo, continuando a ser testemunha da oração, do silêncio e da intimidade com Deus, segundo o espírito da Regra que, há mais de oito séculos, continua viva e fecunda.

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