São Turíbio de Mogrovejo foi um dos grandes missionários e evangelizadores da América Latina. Como arcebispo de Lima, dedicou-se à organização da Igreja no Peru, à defesa dos direitos dos indígenas e à formação do clero, tornando-se uma das figuras mais importantes da história da evangelização no continente. O seu trabalho incansável levou-o a ser comparado aos grandes bispos da história da Igreja e a ser proclamado padroeiro dos bispos da América Latina.
Origem e formação
Turíbio Alfonso de Mogrovejo nasceu a 16 de novembro de 1538, em Mayorga, Espanha, numa família nobre. Estudou Direito na Universidade de Salamanca, onde se destacou pela inteligência e profundo sentido de justiça. Devido à sua competência, foi nomeado juiz da Inquisição de Granada, cargo que exerceu com retidão. Apesar de ser um leigo, a sua reputação como homem justo e íntegro levou o rei Filipe II a escolhê-lo para uma missão inesperada: ser arcebispo de Lima, no Peru, uma terra que necessitava urgentemente de um pastor firme e zeloso.
Nomeação e viagem ao Peru
A nomeação foi surpreendente, pois Turíbio não era sacerdote. No entanto, aceitou a missão com humildade. Foi ordenado padre e bispo em 1578, e em 1581 partiu para Lima, onde assumiu a arquidiocese.
Desde o início, deparou-se com um cenário difícil: o clero estava desorganizado, a moralidade estava em decadência e os povos indígenas sofriam abusos por parte dos colonizadores espanhóis. Determinado a reformar a Igreja e proteger os mais fracos, iniciou um trabalho incansável de evangelização e defesa dos direitos humanos.
Defensor dos indígenas e reformador da Igreja
Uma das suas principais preocupações era o bem-estar dos indígenas, frequentemente explorados pelos espanhóis. Aprendeu as línguas locais, como o quéchua e o aimará, para poder pregar diretamente ao povo. Percorreu a sua vasta arquidiocese a pé e a cavalo, visitando aldeias e comunidades isoladas, administrando sacramentos e ensinando a fé cristã.
Entre as suas grandes reformas, destacam-se:
- Convocação do III Concílio de Lima (1582-1583), que estabeleceu diretrizes para a evangelização e a disciplina do clero na América Latina.
- Criação de escolas e seminários para a formação do clero, incluindo o primeiro seminário do Novo Mundo, em Lima.
- Publicação do primeiro catecismo bilíngue (espanhol e quéchua), facilitando a evangelização dos indígenas.
- Denúncia dos abusos contra os indígenas, enfrentando corajosamente governadores e líderes coloniais.
Turíbio não temia desafiar os poderosos em defesa da justiça. Muitas vezes foi perseguido e incompreendido, mas nunca abandonou a sua missão.
O bispo que evangelizou santos
Um dos aspetos mais notáveis da sua vida é que Turíbio de Mogrovejo evangelizou e crismou futuros santos, incluindo:
- São Martinho de Porres
- São Francisco Solano
- Santa Rosa de Lima (a primeira santa da América Latina)
- São João Macías
Este facto demonstra a profundidade da sua influência na Igreja da América Latina.
Últimos anos e morte
Após mais de 25 anos de trabalho missionário, São Turíbio adoeceu durante uma das suas viagens pastorais. Mesmo debilitado, continuou a sua missão até o fim. Faleceu a 23 de março de 1606, na pequena cidade de Zaña, no Peru, longe de qualquer luxo, rodeado apenas pelos indígenas que tanto amava.
A sua santidade foi rapidamente reconhecida, e foi canonizado pelo Papa Bento XIII em 1726.
Atualmente, é considerado:
- Padroeiro do episcopado latino-americano.
- Modelo de bispos missionários e evangelizadores.
- Defensor dos direitos humanos e dos povos indígenas.
A sua festa litúrgica celebra-se a 23 de março.
Conclusão
São Turíbio de Mogrovejo foi um verdadeiro pastor missionário, que não mediu esforços para levar Cristo a todos os cantos do Peru. O seu zelo apostólico, a defesa dos indígenas e a coragem diante das injustiças fazem dele um exemplo para toda a Igreja. O seu legado continua vivo, especialmente na América Latina, onde é venerado como um dos grandes santos evangelizadores da história.