Os Santos Agostinho Zhao Rong e Companheiros Mártires representam um grupo notável de cristãos que deram a vida pela fé na China, entre os séculos XVII e XX. A sua fidelidade a Cristo até à morte testemunha a força do Evangelho para além das fronteiras culturais, e o custo do discipulado vivido em contextos de perseguição intensa. Canonizados em conjunto pelo Papa São João Paulo II no ano 2000, são hoje símbolo da vitalidade do Cristianismo na Ásia e do testemunho silencioso de milhares de mártires.
Contexto histórico
A história do Cristianismo na China é longa e marcada por momentos de acolhimento e de rejeição. Desde os primeiros missionários franciscanos e jesuítas que chegaram à China no século XIII e XVI, até às perseguições mais ferozes durante as dinastias Ming e Qing, a presença cristã desenvolveu-se entre avanços e recuos. Muitos missionários europeus, bem como cristãos chineses convertidos, enfrentaram hostilidade, acusações de traição e foram considerados inimigos da tradição e do Estado.
As perseguições variaram de região para região e de reinado para reinado, mas em diversas épocas os cristãos foram perseguidos, presos, torturados e mortos por se recusarem a renunciar à fé cristã ou por associações com missionários estrangeiros.
Quem foram os mártires
Os mártires chineses canonizados são ao todo 120, pertencentes a diferentes épocas, idades e estados de vida. Entre eles encontram-se bispos, sacerdotes, religiosos, catequistas, leigos, crianças e até recém-convertidos. Alguns eram missionários europeus, sobretudo franciscanos, dominicanos e das Missões Estrangeiras de Paris, mas a maioria eram chineses.
Este grupo de mártires é testemunho da inculturação da fé cristã: a Igreja lançava raízes na China através de homens e mulheres do próprio povo, que assumiram com coragem e fidelidade o seguimento de Cristo até ao derramamento do sangue.
Agostinho Zhao Rong
Agostinho Zhao Rong é o mais conhecido entre este grupo de mártires. Nascido na China por volta de 1746, foi inicialmente soldado. Enquanto exercia funções militares, foi encarregado de escoltar um missionário preso, o bispo João Gabriel Taurin Dufresse. Impressionado pela serenidade e fé do bispo durante a prisão, Zhao Rong converteu-se ao Cristianismo. Recebeu o Baptismo e, com o tempo, sentiu-se chamado ao sacerdócio.
Foi ordenado presbítero e passou a servir as comunidades cristãs clandestinas. Em 1815 foi capturado durante uma nova onda de perseguições. Recusando renunciar à fé, foi torturado e morreu mártir, oferecendo a sua vida como sacerdote fiel ao Evangelho.
Outros companheiros mártires
Entre os companheiros mártires encontram-se figuras de grande simplicidade e fé profunda. Destacam-se:
– Santa Paulina Jaricot, catequista leiga, morta aos 19 anos
– Santa Ana Wang, jovem virgem que preferiu a morte a casar com um pagão
– Santa Maria Zhu Wu, mulher casada que liderou outros cristãos na oração até ao martírio
– São Pedro Wu, agricultor convertido que se tornou catequista
– Muitos outros que foram executados por se recusarem a pisar a cruz ou a renunciar à oração
Cada um destes mártires testemunha a diversidade e riqueza da Igreja na China. As suas histórias pessoais foram recolhidas por missionários e testemunhas oculares, e muitas chegaram até nós comoventes pela simplicidade e heroísmo.
Canonização e legado
Os 120 mártires foram canonizados a 1 de Outubro de 2000, pelo Papa São João Paulo II. Na homilia da canonização, o Papa sublinhou que estes mártires são prova de que o Evangelho pode ser profundamente enraizado em qualquer cultura, e que a santidade não conhece fronteiras geográficas.
A sua festa litúrgica é celebrada no dia 9 de Julho, tanto em memória de São Agostinho Zhao Rong como de todos os seus companheiros mártires. A celebração tem especial importância para a Igreja na China e para todos os fiéis que sofrem perseguição pela fé em qualquer parte do mundo.
O testemunho da Igreja na China
Os mártires canonizados são apenas uma amostra dos milhares de cristãos chineses que deram a vida por Cristo ao longo da história. A Igreja na China continua, até hoje, a viver sob formas de controlo, vigilância e em alguns casos perseguição. Muitos católicos ainda vivem a fé de forma clandestina, ou enfrentam restrições quanto à prática religiosa.
O testemunho dos mártires é um sinal de esperança para os cristãos chineses e um apelo à solidariedade universal com todos os que vivem a fé sob ameaça. A sua memória inspira coragem, fidelidade e confiança no poder de Deus que sustenta os que sofrem por amor a Cristo.
Conclusão
Os Santos Agostinho Zhao Rong e Companheiros Mártires representam a força do testemunho cristão em terra estrangeira, o valor da inculturação do Evangelho e o poder da fidelidade a Cristo mesmo em contextos de dor e perseguição. O seu sangue fecundou a terra da China com a semente da fé, e o seu exemplo continua a inspirar cristãos em todo o mundo a viver a fé com coragem e amor incondicional.