Os quatro evangelistas — Mateus, Marcos, Lucas e João — são os autores dos Evangelhos, os primeiros quatro livros do Novo Testamento da Bíblia Cristã. Esses textos são considerados pelos cristãos como os relatos fundamentais da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, sendo essenciais para a fé e a prática cristã. Cada Evangelho apresenta uma perspectiva única sobre a vida e os ensinamentos de Jesus, refletindo as intenções teológicas, contextos culturais e audiências específicas de seus autores.
Evangelho Segundo Mateus
Autor e Contexto
Mateus é tradicionalmente identificado como um dos doze apóstolos de Jesus, um cobrador de impostos antes de seguir Cristo. O Evangelho de Mateus é geralmente datado entre 70 e 90 d.C. e foi escrito para uma audiência predominantemente judaico-cristã, familiarizada com as Escrituras Hebraicas e as tradições judaicas.
Características Principais
O Evangelho de Mateus é conhecido pela forte ênfase em apresentar Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Ele frequentemente cita as Escrituras Hebraicas para demonstrar que Jesus é o Messias prometido. Mateus apresenta Jesus como o novo Moisés, um mestre e legislador que dá uma nova lei, que é interpretada como um cumprimento e não uma abolição da lei antiga.
Mateus organiza o seu Evangelho em torno de cinco grandes discursos de Jesus, que incluem o Sermão da Montanha (Mateus 5-7), onde Jesus expõe ensinamentos morais e espirituais, e o Discurso Escatológico (Mateus 24-25), que fala sobre os eventos futuros e o fim dos tempos. O Evangelho também enfatiza o Reino dos Céus, um termo que Mateus usa em vez de “Reino de Deus” para respeitar a sensibilidade judaica ao uso do nome de Deus.
Diferenças e Singularidades
Mateus é o único Evangelho que inclui a narrativa dos Magos (Mateus 2:1-12) e o Sermão da Montanha completo, incluindo as Bem-aventuranças. Este Evangelho é caracterizado por um forte interesse na ética cristã, incluindo passagens como o Pai Nosso e a Regra de Ouro (Mateus 7:12). Além disso, Mateus dá um foco especial à comunidade eclesial, mencionando diretamente a “igreja” (ekklesia) em passagens como Mateus 16:18 e 18:17, que é único entre os Evangelhos.
Evangelho Segundo Marcos
Autor e Contexto
Marcos é tradicionalmente associado a João Marcos, um colaborador próximo de Pedro e Paulo, mencionado nos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas Paulinas. Acredita-se que o Evangelho de Marcos tenha sido escrito por volta de 60-70 d.C., possivelmente em Roma, para uma comunidade de cristãos gentios que enfrentavam perseguições.
Características Principais
O Evangelho de Marcos é o mais curto dos quatro Evangelhos e é frequentemente descrito como o mais direto e conciso. Ele começa com o ministério público de Jesus, omitindo os relatos de nascimento e infância. Marcos enfatiza a acção e o poder de Jesus como o Filho de Deus, apresentando uma narrativa vívida e rápida, usando frequentemente o termo “imediatamente” para mover a história rapidamente.
Marcos apresenta Jesus como o Messias sofredor, destacando o mistério da sua identidade messiânica, que é revelada gradualmente. Esta “confidencialidade messiânica” é um tema marcante no Evangelho, onde Jesus frequentemente instrui os discípulos e aqueles que ele cura a não divulgarem a sua verdadeira identidade.
Diferenças e Singularidades
Marcos é notável pela narrativa crua e realista, que enfatiza a humanidade de Jesus, incluindo as suas emoções, como a compaixão e a raiva (Marcos 1:41; 3:5). Este Evangelho também é conhecido pelo final abrupto e enigmático em Marcos 16:8, onde as mulheres encontram o túmulo vazio e fogem aterrorizadas, sem relatar a ressurreição. Alguns manuscritos posteriores adicionam um final mais longo, mas o final original reflete uma sensação de mistério e incerteza, que é única entre os Evangelhos.
Evangelho Segundo Lucas
Autor e Contexto
Lucas é tradicionalmente identificado como o “médico amado” mencionado por Paulo em Colossenses 4:14 e o autor também do livro dos Atos dos Apóstolos. O Evangelho de Lucas é geralmente datado entre 70 e 90 d.C. e foi escrito para uma audiência gentílica, como é evidente pelo uso de termos e explicações que tornam os costumes judaicos acessíveis aos leitores não-judeus.
Características Principais
O Evangelho de Lucas é o mais longo dos quatro e apresenta uma narrativa bem elaborada que foca na compaixão e misericórdia de Jesus. Lucas enfatiza a universalidade da salvação, destacando o amor de Deus por todos os povos, incluindo os marginalizados, os pobres, os samaritanos, as mulheres e os pecadores. Ele é conhecido pela ênfase na oração, no Espírito Santo e na alegria, com várias passagens únicas que celebram o amor e a misericórdia de Deus.
Lucas inclui muitos detalhes adicionais sobre o nascimento e a infância de Jesus, como os anúncios angélicos a Zacarias e Maria, o cântico de Maria (Magnificat) e o cântico de Simeão (Nunc Dimittis). Este Evangelho também apresenta uma narrativa detalhada da paixão e ressurreição de Jesus, com ênfase na sua misericórdia e perdão, como exemplificado na oração de Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
Diferenças e Singularidades
Lucas é o único Evangelho que contém as parábolas do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37) e do Filho Pródigo (Lucas 15:11-32), que ilustram a graça e o amor abundante de Deus. Além disso, Lucas oferece uma perspectiva única sobre a missão de Jesus, começando com um prólogo que explica cuidadosamente a sua intenção de fornecer um relato ordenado e detalhado dos eventos (Lucas 1:1-4). Ele também apresenta uma genealogia de Jesus que remonta a Adão, sublinhando a universalidade da missão de Jesus.
Evangelho Segundo João
Autor e Contexto
João é tradicionalmente identificado como o “discípulo amado”, um dos doze apóstolos de Jesus e irmão de Tiago. O Evangelho de João é geralmente datado de 90-100 d.C., e foi escrito para uma comunidade cristã já estabelecida, enfrentando questões teológicas e desafios internos e externos.
Características Principais
O Evangelho de João é distinto dos outros três Evangelhos Sinópticos no estilo, conteúdo e ênfase teológica. Ele é mais contemplativo e teológico, com longos discursos de Jesus e uma ênfase na sua divindade. Desde o prólogo (“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” — João 1:1), João apresenta Jesus como o Logos eterno, pré-existente e divino, que encarnou para revelar Deus ao mundo.
João organiza o seu Evangelho à volta de sete sinais ou milagres que revelam a identidade de Jesus e sete declarações “Eu sou”, que se referem a títulos divinos e características de Cristo, como “Eu sou o pão da vida” (João 6:35) e “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25). O Evangelho é caracterizado por temas de luz e trevas, vida eterna, verdade e testemunho.
Diferenças e Singularidades
João omite muitos eventos comuns nos Evangelhos Sinópticos, como as parábolas e a Transfiguração. Em vez disso, ele inclui material único, como o milagre em Caná (transformação da água em vinho), o encontro com Nicodemos, a ressurreição de Lázaro e o longo discurso de despedida de Jesus aos seus discípulos (João 13-17). A crucificação e ressurreição de Jesus também são apresentadas com uma ênfase distinta na sua vitória e glória.
Conclusão
Os quatro evangelistas — Mateus, Marcos, Lucas e João — apresentam quatro perspectivas distintas sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, cada uma com as suas próprias ênfases teológicas e contextos históricos. Mateus enfatiza Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e como o novo Moisés; Marcos destaca o poder e a autoridade de Jesus, bem como o seu sofrimento; Lucas sublinha a misericórdia de Deus e a universalidade da salvação; e João apresenta uma reflexão teológica profunda sobre a identidade divina de Jesus. Juntos, esses Evangelhos oferecem uma visão rica e multifacetada de Jesus, que continua a inspirar e orientar a fé cristã em todo o mundo.