Nossa Senhora do Carmo de Garabandal é o título atribuído à Virgem Maria nas alegadas aparições ocorridas entre 1961 e 1965 na pequena aldeia de San Sebastián de Garabandal, situada nos montes Cantábricos, no norte de Espanha. Estas aparições, embora ainda não oficialmente reconhecidas pela Igreja Católica, despertaram grande interesse e devoção em diversas partes do mundo, especialmente por causa das mensagens apocalípticas e do apelo à conversão.
Contexto das aparições
As alegadas aparições começaram a 18 de Junho de 1961, quando quatro meninas – Conchita González, Jacinta González, Mari Cruz González e Mari Loli Mazón – afirmaram ter visto o arcanjo São Miguel. Pouco depois, começaram a relatar visões da Virgem Maria, que se apresentou como Nossa Senhora do Carmo.
As aparições prolongaram-se até 1965 e ocorreram centenas de vezes. As meninas afirmavam ter recebido mensagens para o mundo inteiro, convidando à conversão, à oração, especialmente do Rosário, e à recepção frequente da Eucaristia.
A identidade mariana: Senhora do Carmo
Nossa Senhora do Carmo é um título mariano com raízes antigas, ligado à Ordem do Carmo e à tradição do escapulário. A escolha deste título em Garabandal liga as alegadas aparições a uma tradição já consolidada na Igreja, sublinhando a importância da consagração mariana, da vida espiritual e da fidelidade a Deus.
Nas descrições das videntes, a Virgem apareceu com o Menino Jesus ao colo, vestida de branco, com manto azul e com uma coroa de estrelas. A imagem transmite doçura, paz e autoridade celestial.
As mensagens principais
As mensagens principais de Garabandal foram essencialmente dois apelos, transmitidos em 1961 e 1965. No centro destas mensagens estava a urgência da conversão, o abandono do pecado, o recurso frequente aos sacramentos e a devoção à Eucaristia.
A primeira mensagem (18 de Outubro de 1961) dizia:
“É preciso fazer muitos sacrifícios, muita penitência; visitar frequentemente o Santíssimo Sacramento. Mas antes de tudo, é preciso ser muito bons. Se não o fizermos, virá um castigo. Está o cálice a encher-se, e se não mudarmos, virá um castigo muito grande.”
A segunda mensagem (18 de Junho de 1965), entregue pelo arcanjo São Miguel, foi mais grave:
“Como não se cumpriu e nem se deu a conhecer ao mundo a minha mensagem de 18 de Outubro, aviso-vos que esta é a última. Antes o cálice estava a encher-se, agora está a transbordar. Muitos cardeais, muitos bispos e muitos sacerdotes estão pelo caminho da perdição e arrastam com eles muitas almas. Dá-se cada vez menos importância à Eucaristia…”
Estas palavras causaram forte impacto entre os fiéis e suscitaram preocupações pastorais, principalmente pela referência directa ao clero.
Três acontecimentos profetizados
As videntes referiram que três grandes acontecimentos acompanhariam as mensagens:
- O Aviso – um fenómeno global que, segundo as videntes, permitirá que cada pessoa veja o estado da sua alma como Deus a vê. Não será um castigo, mas uma graça de arrependimento.
- O Milagre – um milagre visível acontecerá em Garabandal num dia previamente anunciado por Conchita. Terá ligação com um mártir da Eucaristia e será presenciado por todos os que estiverem no local.
- O Castigo – um castigo divino virá se a humanidade não responder ao aviso e ao milagre com conversão. Este castigo, porém, poderá ser evitado ou atenuado com a penitência e a oração.
Reacção da Igreja
Até hoje, a Igreja Católica não reconheceu oficialmente as aparições de Garabandal como sobrenaturais. A diocese de Santander, que tem jurisdição sobre o local, afirmou que “não há provas de sobrenaturalidade” nas aparições. Contudo, também nunca condenou as mensagens, nem impediu a devoção privada.
Vários teólogos e prelados ao longo dos anos manifestaram interesse ou simpatia, embora com prudência. É importante notar que, tal como aconteceu em outras aparições marianas, a Igreja costuma demorar bastante tempo a pronunciar-se de forma definitiva, preferindo acompanhar o desenvolvimento dos frutos espirituais ao longo dos anos.
Devoção actual
Apesar da ausência de reconhecimento oficial, a devoção a Nossa Senhora do Carmo de Garabandal continua viva em muitas comunidades. Muitos peregrinos visitam o local em oração, e diversas associações promovem a difusão das mensagens.
A espiritualidade de Garabandal está centrada em elementos profundamente católicos: a Eucaristia, a oração do Rosário, a penitência e a fidelidade ao Papa. Para muitos fiéis, estas práticas tornaram-se renovadas graças ao impacto das mensagens.
Conclusão
Nossa Senhora do Carmo de Garabandal, independentemente do reconhecimento oficial das suas alegadas aparições, representa um apelo forte à conversão e à vivência profunda da fé católica. As suas mensagens recordam os temas fundamentais do Evangelho: a vigilância, a penitência, a confiança na misericórdia divina e a fidelidade à Igreja.
O tempo e o discernimento da Igreja ajudarão a esclarecer a autenticidade plena dos acontecimentos. Até lá, os fiéis são convidados a acolher o que é bom, verdadeiro e edificante, sempre em espírito de obediência e prudência eclesial.